Por Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Geralmente pensamos na morte fora da vida, contudo, gastar tempo, consumir energia e renunciar a algo são sinais de que, diariamente, a vida é como uma vela que se consome para produzir luz. Não duramos eternamente na Terra. Na vida, há também cansaço em busca de repouso. Depois de uma jornada de trabalho, é preciso descansar. Passado o dia ensolarado, segue o pôr do sol. Os livros tendem ao epílogo, e uma novela se desenrola para o último capítulo. Há muita beleza no fim. Os latinos costumavam dizer: finis coronat opus (o fim coroa a obra).
Preparar-se para o entardecer da vida não é olhar para a noite da morte, mas perceber que o sol se põe desse lado da existência, mas continua a iluminar a outra, onde é sempre dia. De certa forma, isso nos ajuda a compreender a vida: quando morremos, apagamos para este mundo, mas vivemos e somos iluminados na vida eterna que Deus nos preparou.
Após a morte, ensina a Igreja, nos encontraremos diante de Jesus Cristo e seremos examinados pelo amor aqui vivido. O julgamento é atual, porque é agora que decidimos a favor da verdade ou da mentira, da justiça ou da injustiça, do bem ou do mal, de Deus ou das trevas. A nossa vida é bela, com muitas oportunidades e responsabilidades. A beleza da vida e a liberdade que ganhamos não permitem que sejamos livres para fazer o mal.
Algumas pessoas chegam a sustentar que Deus é tão bom que, no final, perdoará tudo até mesmo todo o mal praticado. Supor que no final tudo será zerado, sem respeitar a opção daqueles que negam o projeto de Deus, é esvaziar a justiça divina. Permanece a possibilidade de condenação eterna como opção livre e consciente de quem construiu uma existência sem amor.
O critério de julgamento não é imprevisto, pois seremos julgados pelo Evangelho de Jesus. E isso vale para todo ser humano, até mesmo àqueles que não conheceram o “Redentor”. Sempre é tempo de recordar que seremos perguntados conforme o que consta no Capítulo 25 do Evangelho escrito por São Mateus, quando o Senhor sentenciar: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era forasteiro e me acolhestes, estive nu e me vestistes, estava doente e preso e me visitastes. Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.” (Mt 25,35-41)
O juízo usa critérios da misericórdia divina que considera as condições internas e externas de cada pessoa, na liberdade e responsabilidade de cada uma. Deus não condena ninguém, é a própria pessoa, pelos seus atos e palavras que trilha, ou não, o caminho de Deus. Daí a responsabilidade da vida humana na Terra.
Fonte: CNBB