Só anunciamos aquilo que vivemos

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Frei Clarêncio Neotti

 

O número doze não é ocasional. Eram doze as tribos de Israel. Os doze aqui significam ‘todos’. Observe-se que Mateus, ao nomear os Apóstolos, diz: “primeiro, Pedro”. De fato, Pedro seria mais tarde o chefe de todos, e o próprio Jesus afirmou que sobre ele, a quem apelidou de Cefas (Jo 1,42), isto é, Pedra, haveria de construir a nova comunidade (Mt 16,18-19). Outra observação: para a escolha não contam as origens dos escolhidos, nem sua ideologia, nem a militância religiosa. O leque é bem diversificado: vai de simples pescadores (considerados pecadores, porque não podiam cumprir todas as leis nas horas determinadas) a Mateus, cobrador de impostos e socialmente odiado, passando por Simão, que era um ‘zelota’, partido terrorista daquele tempo, até Judas Iscariotes. Ao lado da imensa misericórdia, Jesus tem um coração de confiança sem limites. Do Apóstolo Jesus não pede senão compaixão e gratuidade. E sabemos que foi exatamente isso que faltou a Judas, o mau Apóstolo.

Jesus diz: “Em vosso caminho” (v. 7). Podemos entender como ‘ao longo da vossa vida’, ‘no vosso dia a dia’. Vale dizer: devemos ser apóstolos de Cristo em todos os momentos e em todas as circunstâncias. Mesmo porque o Reino dos Céus acontece dentro da comunidade e na vida de cada dia dos cristãos. Mais: o anúncio começa ao nosso próprio coração. Quem não é capaz de guardar em seu coração a Palavra do Senhor não será capaz de transmiti-la aos outros. Quem não é um enviado do Senhor para as pessoas vizinhas, com quem convive todos os dias, não o será para as pessoas distantes. Por isso Jesus quer que os Apóstolos preguem primeiro “às ovelhas da casa de Israel” (v. 6), isto é, às pessoas que estão em torno deles. Em outras palavras: devemos ser testemunhas de Jesus Cristo primeiro aos de perto, isto é, pelo nosso comportamento, visto e comprovado pelos que nos conhecem.

Devemos ser como o rio: as terras mais fecundadas por ele são as mais perto dele.

Fonte: Franciscanos


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui