Por Frei Almir Ribeiro Guimarães
Não cessamos de contemplar o lado aberto no peito de Jesus. Seu imenso coração e o sangue derramado estão sempre diante de nosso eu mais profundo, ou deveriam estar. Incansáveis vezes tivemos a certeza de sermos amados e a vontade de amar esse Senhor do peito dilacerado.
Convivemos, no entanto, com nossas contradições. Paulo já nos alertava da dupla lei. Querer o bem e fazer o mal. Somos contradições ambulantes. Embrenhamo-nos em situações às quais somos arrastados por movimentos violentos de paixão ou buscamos compensações que podem ferir outros. Desesperarmo-nos? Será que traímos irremediavelmente o Senhor? Será que foi uma traição pensada? Existe uma fonte de misericórdia?
Nos últimos tempos, por diferentes razões, tem-se a impressão que Deus foi banido do universo dos interesses dos humanos. Algumas vezes temos a impressão que o problema de Deus é página virada. Mesmo quando se colocam ritos, pronunciam-se rezas, esse amor de Deus manifestado em Cristo Jesus não toca o projeto de vida da pessoas. Um solene indiferentismo. Faltam visitas ao mistério de cada um onde ressoam desejos diferentes da busca novos método de desempenho sexual, preocupações com a bolsa de valores e nosso eu massageado. Pessoas alheias aos seu mistério pessoal.
Seguindo a sabedoria do Evangelho, o mais humilde movimento do coração tem muito mais peso que as manchas que escapam das paixões que torturam, paixões às quais não nos engajamos de coração, mas que acontecem devido à nossa fragilidade congênita, claro, com nosso consentimento. Há esse sangue de Deus que ensopou a terra. A ele podemos recorrer. A orientação fundamental de nossa vida é conviver com o Senhor, é criar espaços de dom, de solidariedade, de amizade. Isto, certamente tem mais peso do que certas lembranças que nos torturam quando o tempo vai passando e a noite da vida descendo.
Contrição, coração doído, arrependimento sincero. Cantilena constante e suave do Miserere, esperando na fé, o bafejo do amor de Deus. O coração contrito parece ser a única brecha pela qual pode entrar a graça de Deus.
“O prioritário hoje não é transmitir uma doutrina, pregar uma moral ou sustentar uma prática religiosa, mas tornar possível a experiência originária dos primeiros discípulos que acolheram o Filho de Deus vivo encarnado em Jesus como caminho de salvação. Quando não se reproduz a renovação continua dessa experiência continua a pregação passa a repetir a doutrina, a ação pastoral continua o rito religioso, a experiência mística original de onde nasce a fé cristã em Deus desaparece e se dilui (Pagola).
Consequência: ficam os relatos das faltas e pecados sem o coração contrito. Será que traímos de fato o Senhor? Que portas ser-nos-ão abertas?
Não é tempo perdido fixar detidamente nosso olhar no Coração de Jesus. É puro lucro.
Fonte: Franciscanos