Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém
Resumo/reflexão da mensagem do Papa Francisco para o V Dia Mundial dos Pobres
Introdução
A Igreja Católica celebrará no próximo dia 14, terceiro Domingo de novembro, o V dia mundial dos pobres. Como todos os anos, temos em 2021 mais um tema provocante. O Papa Francisco nos recorda a declaração de Jesus sobre a presença dos pobres entre nós.
Com o tema do V dia mundial dos pobres voltemos a refletir sobre a letra da música “Seu nome é Jesus Cristo”. “Seu nome é Jesus Cristo e passa fome, e grita pela boca dos famintos, e a gente quando vê passa adiante, às vezes, pra chegar depressa à igreja… Seu nome é Jesus Cristo e está sem casa… Seu nome é Jesus Cristo e é analfabeto… Seu nome é Jesus Cristo e está banido das rodas sociais e das igrejas porque d’Ele fizeram um Rei potente enquanto Ele vive como um pobre… Entre nós está e não O conhecemos. Entre nós está e nós O desprezamos” (Jadiel Barbosa).
“Pobres sempre tereis entre vós” (Mc 14,7) é uma frase de Jesus pronunciada por ocasião de uma refeição em Betânia na casa de Simão, o leproso, quando uma mulher tomou um vaso de alabastro cheio de perfume, muito precioso e derramou sobre a cabeça de Jesus. Judas Iscariotes ficou preocupado com aquele gesto e perguntou por que não se vendeu aquele perfume por 300 denários (um ano de salários) para dar o dinheiro aos pobres? Mas o seu colega João observou que, Judas disse isso, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão (cf. Jo 12,5-6). Essa crítica prova que aqueles que não reconhecem os pobres traem também diretamente a Jesus e não podem ser seus discípulos. Não basta uma aparente preocupação com os pobres, é necessário que ela seja autêntica. Jesus acolhendo a atitude da mulher está proclamando-se como o primeiro dos pobres, o mais pobre entre os pobres, porque representa a todos eles. Ele aceitou aquele gesto em nome dos pobres, das pessoas abandonadas, marginalizados e discriminadas.
A atitude da mulher para com Jesus nos diz que há um laço indivisível entre Jesus, os pobres e o anúncio do evangelho. O rosto de Deus que ele revela é o de um pai para os pobres, e próximo deles. Não encontramos Jesus onde e como queremos, mas quando O reconhecemos na vida dos pobres, na sua tribulação, indigência e, às vezes, nas situações desumanas. Os pobres, de qualquer longitude e latitude, nos evangelizam porque nos permitem descobrir de modo sempre novo, os traços genuínos do rosto do Pai; eles têm muito a nos ensinar. Programas de promoção e assistência para os pobres não devem se reduzir à atividades, mas traduzir-se em atenção amiga e verdadeira preocupação para com a pessoa.
Jesus não só está ao lado dos pobres, mas também compartilhava da vida deles. A sua presença no meio de nós, através dos pobres, é constante, mas isso não deve nos levar a nos acostumar para que não caiamos na indiferença. Devemos cuidar dos pobres! Não basta um puro gesto de beneficência, pois a partilha gera fraternidade; a esmola é ocasional, mas a partilha é duradoura. Ao longo da história da Igreja, há muitos exemplos de santos e santas que fizeram da partilha com os pobres, seu projeto de vida, como por exemplo, o padre Damião de Veuster que dedicou a sua vida cuidando dos pobres leprosos na ilha de Molokai.
Jesus começa a sua pregação estando no meio dos pobres e dizendo: “convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Na missão de Jesus, os pobres não são considerados como pessoas a parte. Jesus os serviu e os chamou para segui-lo e apresentou a todos a necessidade da mudança de mentalidade. Ser seu discípulo significa não acumular tesouro na terra, não viver na ilusão de uma falsa segurança entre riquezas efêmeras, poder mundano e vanglória. Seguir a Jesus significa abrir-se decididamente à Graça de Cristo que nos torna testemunhas da sua caridade.
O Evangelho nos convida a estarmos atentos e a reconhecer a desordem moral e social que geram múltiplas formas de pobreza: o injusto sistema econômico, o mercado que discrimina princípios éticos e agentes econômicos sem escrúpulos, desprovido de sentido humanitário e responsabilidade social. Neste tempo de pandemia a situação da pobreza no mundo ficou ainda mais grave, gerando milhões de pobres. É urgente a busca de respostas concretas para aqueles que padecem do desemprego; somos convidados à solidariedade social. A generosidade é capaz de evidenciar a promoção humana.
Qual é o caminho que devemos percorrer para sairmos das graves situações de desigualdades humanas? Visto que a pobreza não é fruto do destino, mas é consequência do egoísmo, é necessário, portanto, valorizar a todos para que a complementaridade das competências e a diversidade das funções promovam um recurso comum; há muitas “pobrezas” dos ricos que poderiam ser curadas pela “riqueza” dos pobres; ninguém é tão pobre que não possa dar algo de si na reciprocidade; os pobres não devem ser tratados simplesmente como receptores de benefícios; eles são sujeitos e nos ensinam a importância da solidariedade e da partilha.
Uma nova abordagem sobre a pobreza é necessária para podermos enfrentar as suas novas formas que invadem o mundo. Os pobres são colocados à margem como se fossem culpados da sua condição. A pobreza deve nos estimular à criativa busca de respostas a partir das capacidades próprias de cada pessoa. Promover eficazmente os pobres significa dar atenção a esta parte da humanidade, às vezes, demasiadamente anônima e sem voz. Ela traz o rosto do Salvador impressa em si mesma e pede ajuda.
8-9. Conclusão: alguns compromissos
A frase de Jesus “pobres sempre tereis entre vós” tem muitos significados:
Como seria evangélico se pudéssemos dizer com toda verdade “os pobres estão no meio de nós!”; só assim conseguiríamos realmente conhecê-los e fazê-los tornar-se parte da nossa vida e instrumento de salvação!
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
Fonte: CNBB Norte 2