«Sempre tereis pobres entre vós» (MC 14,7)

Foto de Daniel van den Berg no Unsplash

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

 

Resumo/reflexão da mensagem do Papa Francisco para o V Dia Mundial dos Pobres

Introdução

A Igreja Católica celebrará no próximo dia 14, terceiro Domingo de novembro, o V dia mundial dos pobres. Como todos os anos, temos em 2021 mais um tema provocante. O Papa Francisco nos recorda a declaração de Jesus sobre a presença dos pobres entre nós.

Com o tema do V dia mundial dos pobres voltemos a refletir sobre a letra da música “Seu nome é Jesus Cristo”. “Seu nome é Jesus Cristo e passa fome, e grita pela boca dos famintos, e a gente quando vê passa adiante, às vezes, pra chegar depressa à igreja… Seu nome é Jesus Cristo e está sem casa… Seu nome é Jesus Cristo e é analfabeto… Seu nome é Jesus Cristo e está banido das rodas sociais e das igrejas porque d’Ele fizeram um Rei potente enquanto Ele vive como um pobre… Entre nós está e não O conhecemos. Entre nós está e nós O desprezamos” (Jadiel Barbosa).

 

  1. O contexto do tema

“Pobres sempre tereis entre vós” (Mc 14,7) é uma frase de Jesus pronunciada por ocasião de uma refeição em Betânia na casa de Simão, o leproso, quando uma mulher tomou um vaso de alabastro cheio de perfume, muito precioso e derramou sobre a cabeça de Jesus. Judas Iscariotes ficou preocupado com aquele gesto e perguntou por que não se vendeu aquele perfume por 300 denários (um ano de salários) para dar o dinheiro aos pobres? Mas o seu colega João observou que, Judas disse isso, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão (cf. Jo 12,5-6). Essa crítica prova que aqueles que não reconhecem os pobres traem também diretamente a Jesus e não podem ser seus discípulos. Não basta uma aparente preocupação com os pobres, é necessário que ela seja autêntica. Jesus acolhendo a atitude da mulher está proclamando-se como o primeiro dos pobres, o mais pobre entre os pobres, porque representa a todos eles. Ele aceitou aquele gesto em nome dos pobres, das pessoas abandonadas, marginalizados e discriminadas.

  1. Jesus e os pobres

A atitude da mulher para com Jesus nos diz que há um laço indivisível entre Jesus, os pobres e o anúncio do evangelho. O rosto de Deus que ele revela é o de um pai para os pobres, e próximo deles. Não encontramos Jesus onde e como queremos, mas quando O reconhecemos na vida dos pobres, na sua tribulação, indigência e, às vezes, nas situações desumanas. Os pobres, de qualquer longitude e latitude, nos evangelizam porque nos permitem descobrir de modo sempre novo, os traços genuínos do rosto do Pai; eles têm muito a nos ensinar. Programas de promoção e assistência para os pobres não devem se reduzir à atividades, mas traduzir-se em atenção amiga e verdadeira preocupação para com a pessoa.

  1. Estar ao lado e partilhar a vida

Jesus não só está ao lado dos pobres, mas também compartilhava da vida deles. A sua presença no meio de nós, através dos pobres, é constante, mas isso não deve nos levar a nos acostumar para que não caiamos na indiferença. Devemos cuidar dos pobres! Não basta um puro gesto de beneficência, pois a partilha gera fraternidade; a esmola é ocasional, mas a partilha é duradoura. Ao longo da história da Igreja, há muitos exemplos de santos e santas que fizeram da partilha com os pobres, seu projeto de vida, como por exemplo, o padre Damião de Veuster que dedicou a sua vida cuidando dos pobres leprosos na ilha de Molokai.

  1. Pobreza e conversão

Jesus começa a sua pregação estando no meio dos pobres e dizendo: “convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Na missão de Jesus, os pobres não são considerados como pessoas a parte. Jesus os serviu e os chamou para segui-lo e apresentou a todos a necessidade da mudança de mentalidade. Ser seu discípulo significa não acumular tesouro na terra, não viver na ilusão de uma falsa segurança entre riquezas efêmeras, poder mundano e vanglória. Seguir a Jesus significa abrir-se decididamente à Graça de Cristo que nos torna testemunhas da sua caridade.

  1. Superar as forças opressoras

O Evangelho nos convida a estarmos atentos e a reconhecer a desordem moral e social que geram múltiplas formas de pobreza: o injusto sistema econômico, o mercado que discrimina princípios éticos e agentes econômicos sem escrúpulos, desprovido de sentido humanitário e responsabilidade social. Neste tempo de pandemia a situação da pobreza no mundo ficou ainda mais grave, gerando milhões de pobres. É urgente a busca de respostas concretas para aqueles que padecem do desemprego; somos convidados à solidariedade social. A generosidade é capaz de evidenciar a promoção humana.

  1. Ricos e pobres, juntos

Qual é o caminho que devemos percorrer para sairmos das graves situações de desigualdades humanas? Visto que a pobreza não é fruto do destino, mas é consequência do egoísmo, é necessário, portanto, valorizar a todos para que a complementaridade das competências e a diversidade das funções promovam um recurso comum; há muitas “pobrezas” dos ricos que poderiam ser curadas pela “riqueza” dos pobres; ninguém é tão pobre que não possa dar algo de si na reciprocidade; os pobres não devem ser tratados simplesmente como receptores de benefícios; eles são sujeitos e nos ensinam a importância da solidariedade e da partilha.

  1. Nova abordagem sobre a pobreza

Uma nova abordagem sobre a pobreza é necessária para podermos enfrentar as suas novas formas que invadem o mundo. Os pobres são colocados à margem como se fossem culpados da sua condição. A pobreza deve nos estimular à criativa busca de respostas a partir das capacidades próprias de cada pessoa. Promover eficazmente os pobres significa dar atenção a esta parte da humanidade, às vezes, demasiadamente anônima e sem voz. Ela traz o rosto do Salvador impressa em si mesma e pede ajuda.

8-9. Conclusão: alguns compromissos

A frase de Jesus “pobres sempre tereis entre vós” tem muitos significados:

  • é um convite para não perdermos de vista a oportunidade de fazer o bem;
  • é um motivo para não deixar endurecer o coração e nem fechar a mão diante do irmão necessitado;
  • é uma forma de contrastar a cultura da indiferença e da injustiça;
  • é uma oportunidade contínua para a experiência da misericórdia;
  • é um chamado para estarmos abertos aos sinais dos tempos;
  • é um convite para fazermos o exercício da criativa caridade dando novos sinais de amor como respostas às novas formas de pobreza;
  • é uma oportunidade para o espírito de iniciativa, pois não podemos ficar esperando que os pobres batam à nossa porta;
  • é um compromisso para nos fazermos presentes nos hospitais, nas casas de assistência, nas ruas, nos cantos escuros, nos centros de refúgio, casas de acolhimento etc.

Como seria evangélico se pudéssemos dizer com toda verdade “os pobres estão no meio de nós!”; só assim conseguiríamos realmente conhecê-los e fazê-los tornar-se parte da nossa vida e instrumento de salvação!

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Como está a sua sensibilidade para com os pobres e em sua paróquia?
  2. Quais as novas formas de pobreza existentes na sociedade?
  3. Quais outros compromissos brotam da frase de Jesus “pobres sempre tereis entre vós”?

 

Fonte: CNBB Norte 2

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