Sem medo ou vergonha diante de Deus

Imagem de Claude Alleva por Pixabay

Décimo domingo do Tempo Comum

 

Por Frei Gustavo Medella

“Ouvi tua voz no jardim, e fiquei com medo, porque estava nu; e me escondi” (Gn 3,10b). A nudez de Adão, que até então não era motivo nem de medo nem de vergonha para ele, passa a ser a partir do momento em que o primeiro homem experimenta do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Foi Eva, a primeira mulher, estimulada pela serpente, que o fez provar o referido fruto, tendo ela também experimentado.

O primitivo casal foi, na verdade, arrastado pelo “efeito cascata” de uma semente maliciosa lançada pela serpente no coração de Eva. A semente da ambição, da ilusão e da desconfiança, justamente de quem eles não deveriam desconfiar: o Criador que, com amor, os convidara à aventura da vida.

Estimulados na ambição, foram convidados a buscar uma grandeza ilusória que não lhes pertencia (“Sereis como deuses”), e instados à desconfiança em relação Àquele que tudo havia lhes confiado. No entanto, muito rapidamente caíram em si e se recobriram do medo e da vergonha que até hoje nos dão imenso trabalho na lida com nossos limites e pecados.

Atitude semelhante assumem os mestres da lei que, incomodados pela face misericordiosa e acolhedora de Deus apresentada por Jesus Cristo, acusam-lhe de praticar o bem pela força do mal (Mc 3,22). Ora, o caminho percorrido pelo Filho de Deus é justamente o oposto daquele que Adão tentou empreender sob a tentação da serpente. Se no primitivo ser humano a ambição era a de se tornar como Deus, em Cristo, o novo Adão, é Deus quem toma a iniciativa de abraçar de cheio a fragilidade humana.

Participar da família de Deus reunida em Jesus Cristo é uma graça capaz de reconciliar o ser humano inclusive com as próprias misérias e contradições. O abraço misericordioso de Deus àquilo que temos de tenebroso e frágil é nossa grande possibilidade de redenção conosco e com os nossos irmãos e irmãs. Ninguém precisa ter medo ou vergonha dos próprios limites. O necessário mesmo é ter a coragem e a humildade de apresentá-los a Deus colocando-nos a serviço do Reino, apesar de nossas encrencas.

Fonte: Franciscanos


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição

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