O secretário da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Vicente de Paula Ferreira, participa, até amanhã, da “Caravana Latino-Americana pela Ecologia Integral em tempos extrativistas”. A ação com lideranças comunitárias, agentes pastorais e pesquisadores está na última etapa da viagem pela Europa para denunciar violações de direitos de comunidades impactadas pela mineração.
No último domingo, 3 de abril, dom Vicente Ferreira, que é bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte (MG), presidiu a missa na Igreja de Nossa Senhora de Atocha, em Madrid, na Espanha. Em sua homilia motivou à construção de uma nova narrativa desde as comunidades e territórios martirizados da América Latina, em vista da Ecologia Integral. Para o bispo, “a Páscoa de Jesus nos motiva sempre a uma nova criação”.
No Evangelho, Jesus escreve no chão e, em seguida, perdoa a mulher surpreendida em adultério prestes a ser apedrejada. Ali, segundo o bispo, Jesus escrevia “a nova lei do amor que perdoa de maneira abundante”. No contexto atual, apontou a urgência da tarefa de “escrever uma nova lei no chão de nossa vida. Uma narrativa que não pode continuar sendo esta do capitalismo neoliberal extrativista, que coloca o lucro acima da vida”.
“Por isso, cremos que não conseguiremos um futuro para a humanidade enquanto vivermos em meio a tantas injustiças socioambientais. Em muitas realidades não temos soluções imediatas, mas Jesus nos chama a escrever, juntos, novas leis inspiradas no amor”.
Após passar por Alemanha, Bélgica, Itália e Áustria, a caravana chegou à Espanha e ali o convite de dom Vicente para algumas das ações que merecem atenção daqueles que lutam por direito e justiça. O bispo sugere empenho “para que a Lei da Devida Diligência não proteja somente as grandes multinacionais” sem reconhecer a soberania das comunidades locais; e para que “os Tratados vinculantes considerem todas as cadeias produtivas com seus complexos efeitos, incluindo as violações de direitos humanos, que vão contra a vida e o amor”.
Como alternativa concreta aos modelos de exploração, o bispo recorda as indicações e inspirações da Economia de Francisco e Clara e do Pacto Educativo Global, motivados pelo Papa Francisco.
Dom Vicente ainda propõe, em nome da caravana, “um caminho de desinvestimento em mineração, começando pela nossa própria Igreja”.
Ao final de sua reflexão, recordou as milhares de mulheres “que resistem à mega mineração, à pobreza, à marginalização e às violências de um sistema econômico que nos mata, ensina-nos a escrever a história de maneira diferente”.
Como oportunidade de denúncia e articulações com organizações e autoridades, a caravana esteve no Vaticano, na última semana, onde visitou o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.
“É claro que a gente traz uma denúncia no sentido das violações que nos apresentam, mas também estamos conversando sobre os anúncios; é possível mudar a partir das feridas dos mais pobres, é possível mudar. Assusta muito as pessoas que estão na condução desses megaprojetos econômicos quando a gente diz: queremos dignidade para o nosso povo trabalhar a terra, a agroecologia. A gente quer valorizar o turismo, a religiosidade, a espiritualidade. Tudo isso sendo bem integrado e escutado nas comunidades. Tudo isso faz parte de uma vida sustentável, enquanto esse nosso sistema que está aí, o que que ele faz com a gente? Vai, busca as nossas riquezas e muitas vezes deixa esse lastro de destruição. A gente vê isso nos territórios na América Latina”, contou à Rádio Vaticano no dia 29 de março.
A caravana reúne lideranças comunitárias do Brasil, de Piquiá de Baixo, no Maranhão, e de Brumadinho, em Minas Gerais; além de representantes de comunidades afetadas por grandes projetos de extração na Colômbia.