Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA
Dia 18 deste mês celebramos São Lucas evangelista e autor do livro Atos dos Apóstolos. Segundo a tradição ele era médico e, por isso, padroeiro dos profissionais da medicina. Aproveito essa ocasião para parabenizar a todos os médicos, profissionais tão honrados e queridos quando se consagram com amor a serviço da Vida. Parabéns a tantos abnegados, generosos, sensíveis e honestos no exercício da ciência e arte da medicina a serviço da vida! Já que cuidar da vida é a missão primeira do médico, então parabéns a todos os médicos biófilos, amantes da vida!
A medicina é uma profissão antiga e, por isso, os médicos e a medicina são mencionados na Bíblia diversas vezes. A Sagrada Escritura fala da medicina e do trabalho dos médicos (cf. Gn 50,2; Tb 2,10); é uma profissão nobre, exigente, merecedora de honra (cf. Eclo 38,1), pois a ciência da medicina tem o apoio do Criador do qual provém a cura (cf. Eclo 38,1-3;12). A ciência humana depende da inteligência divina! Deus é onisciente, aquele que tudo conhece!
Todavia, também a Bíblia acusa o limite da medicina no tratamento dos males humanos, pois a humanidade é também portadora de chagas incuráveis, de enfermidades crônicas que perduram no tempo e atingem a todos (cf. Jr 8,22;10,19; Mq 1,9; Is 1,5). São referências aos males da alma que, de muitas formas, se manifestam através da maldade e do pecado. A Sagrada Escritura nos chama a atenção para a visão da totalidade do ser humano. Nele tudo está interligado! Há males do corpo que atingem a alma e há males da alma que promovem o adoecimento do corpo.
Onde não há visão da saúde integral, promove-se o desequilíbrio do ser humano. Isso é muito importante no exercício de todas as profissões. O ser humano é uma totalidade inseparável de corpo e alma, com múltiplas dimensões delicadas e interdependentes. A visão da totalidade do ser humano é uma condição fundamental para o bem-estar pessoal, familiar e institucional.
Certa vez Jesus encontrou uma enferma que já havia investido todos os seus recursos e não se livrava da própria doença (cf. Mc 5,26). A ciência promove o tratamento, mas a restauração da saúde e da vida é dom de Deus! De fato, o processo e a relação entre tratamento e cura é um mistério! Muitas vezes a previsão da medicina erra! O médico é um servidor de Deus em prol da saúde da vida e nesse serviço é desafiado (cf. Eclo 10,10). Isso significa que, todos nós que lidamos com pessoas, cuidando da vida humana, devemos sempre cultivar um profundo senso de delicadeza, respeito e humildade, pois o ser humano a Deus pertence.
São Lucas foi um médico que conciliou ciência e fé; um crente, fiel e apaixonado discípulo de Jesus Cristo que muito esforçou para estudar o Salvador! É ele mesmo quem nos conta isso (cf. Lc 1,1-4; Atos 1,1-2). Bem-aventurado o médico que tem fé, medita as palavras e atitudes do Médico da humanidade. Lucas foi um médico querido (cf. Cl 4,14). Quem é apaixonado pela vida e dela cuida com carinho, naturalmente é reconhecido e torna-se estimado. Enfim, São Lucas foi um médico missionário, colaborador de São Paulo no anúncio da pessoa de Jesus Cristo (cf. Fm 1,24; 2Tm 4,11). Eis um profissional com um perfil profundamente diferenciado que soube encontrar tempo para, além do exercício da profissão, estar engajado na Igreja, sendo missionário, voluntário, ministro da Palavra de Deus.
Fonte: CNBB Norte 2