Sal da terra e luz do mundo

Por Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

 

O Evangelho deste domingo (Mateus 5,13-16) é a continuação das bem-aventuranças que são retrato fiel de Jesus Cristo e referência permanente para todos os seguidores e discípulos dele.  O que é ser cristão? Através de três parábolas ou provérbios Jesus mostra alguns elementos do ser cristão: ser sal da terra, luz do mundo e brilhar do alto para todos. As três imagens convergem na mesma direção de que os cristãos servem os outros, de que os cristãos são uma presença suave e forte no mundo. Não passam despercebidos, eles são luz e sal como o próprio Cristo, pois, por onde passava coisas boas iam acontecendo. 

A primeira imagem usada por Jesus é o sal. É preciso dar sabor à vida dos homens. É a primeira das imagens à qual Jesus recorre para definir a identidade de seu discípulo. O sal faz parte do cotidiano da vida, empregado amplamente para dar sabor aos alimentos. Antes do aparecimento da geladeira e do freezer era praticamente o único meio para preservar os alimentos. Portanto, convivemos com sal e sabemos da sua utilidade.  

O rico simbolismo do sal ajuda a compreender a missão do seguidor de Jesus na sociedade. O sal é protagonista na culinária e a sua presença discreta na comida não é detectada; mas sua ausência logo é percebida. O sal se dissolve totalmente nos alimentos e deixa o seu sabor. É uma bela maneira de expressar a tarefa do cristão no mundo: ser sal da terra, sal humilde, derretido, saboroso. Atua de dentro, não se nota, mas que é indispensável. Jesus questiona: “Se o sal se tornar insosso, com que salgaremos?” Quimicamente parece que é impossível o sal não salgar. Com este questionamento, Jesus alerta os discípulos que não há meio termo, se é ou não se é discípulo. 

A segunda imagem usada por Jesus é a luz que ilumina o mundo. Torna-se a segunda característica do discípulo. A primeira página da Bíblia começa dizendo que a criação começa com a ordem: “haja luz” (Gn 1,3). A luz é um elemento vital para os seres vivos, somente raras espécies sobrevivem na escuridão no fundo do oceano. Também não basta ter olhos perfeitos, se não há luz, não se vê nada.  

O simbolismo da luz perpassa toda Escritura até chegar à plena luz, Jesus Cristo. “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não caminha da escuridão, mas terá a luz da vida” (João 8,12). O cristão iluminado por Cristo se converte em luz. Vai refletir a luz recebida, assim como a lua reflete a luz do sol.  

Os outros textos bíblicos da liturgia dominical aprofundam a compreensão do ser cristão como sal terra e luz do mundo. A fé professada e celebrada expressa-se em vivência moral, em atenção amorosa ao próximo. O profeta Isaías 58,7-10 ensina sobre a dimensão da atenção aos necessitados e indigentes, da partilha do pão e da roupa. “Então, brilhará a tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa”. Também exorta: “Se destruíres teus instrumento de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa (…) nascerá nas trevas a tua luz e tua vida será como o meio-dia”. O salmo 111/112 reza: “Feliz o homem caridoso e prestativo, que resolve seus negócios com justiça. Porque jamais vacilará o homem reto, sua lembrança permanece eternamente!” 

São Paulo na 1ª Carta ao Coríntios 2,1-5 lembra para que o cristão seja sal da terra e luz do mundo “a vossa fé se baseasse no poder de Deus, e não na sabedoria dos homens”, mas seja uma demonstração do “poder do Espírito”. A vida cristã e suas obras não podem ser comparadas com os métodos eficientes do mercado e da indústria. O cristão produz seus frutos na medida em que reconhece suas fraquezas e confia em Deus. São Paulo testemunha: “não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado”. 

Fonte: CNBB

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