A Igreja ensina que a Missa é um sacrifício de ação de graças. Mas, o que é sacrifício?
A palavra sacrifício é muito mal entendida ou, então, entendida num sentido muito negativo pela maioria dos cristãos. Para a gente em geral, sacrifício é algo que custa, é renúncia de alguma cosia, algo difícil de fazer. Ou então, parece que exige imolação. Acaba sendo sinônimo de morte, como na expressão “sacrificar um animal”. Sacrificar, então, significa matar.
A palavra sacrifício, no entanto, tem um sentido muito mais amplo e positivo. A palavra sacrifício vem do latim e é composta de duas palavras: sacer e facere. Sacer significa sagrado, divino e facere significa fazer. Sacrifício significa, pois, o que é feito sagrado, divino. E sacrificar significa tornar sagrado, fazer algo divino, tornar algo divino. Orientar algo para Deus.
Quem sacrifica é sacerdote. Sacerdote também tem a ver com sagrado. Sacerdote vem de sacer (sagrado, divino) e dos (dote, dom). Sacerdote é, então, dom sagrado, dom divino. Assim, pela própria criação à imagem e semelhança de Deus, o ser humano é sacerdote: um dom que vem de Deus, que ele recebe de Deus e um dom para Deus. Esta é a sua vocação.
O Antigo Testamento e, sobretudo, os salmos dizem que Deus deseja um sacrifício de ação de graças, um coração contrito e humilhado. Este é o verdadeiro sacrifício espiritual. Deseja que o ser humano acolha a vida como dom de Deus e a ofereça como uma doação a Deus. Diz o salmista que o sacrifício mais agradável a Deus, o mais sublime, é o sacrifício de louvor. Sim, o louvor é sacrifício, pois nele reconhecemos que tudo é de Deus e tudo vem de Deus.
Por que, então, a palavra sacrifício acabou incluindo a conotação de renúncia, de imolação e até de morte? Porque a expressão mais radical da entrega da vida a Deus é reconhecer que ela é mortal. Pelo fato de o ser humano sempre tentar possuir a vida não como dom, mas como um direito e querer apropriar-se dela, a exemplo dos primeiros pais, ele deixa de ser sacerdote, frustra sua vocação divina e cai na morte.
Ora, Jesus Cristo, por seu exemplo, veio convencer a humanidade de sua condição de criatura mortal. Ele a viveu de maneira plena e total como dom do Pai e entregou, ofereceu a sua vida ao Pai na obediência e no amor. Jesus consagrou a sua vida, lançando-a em Deus, reconhecendo que era dom de Deus, entregando-a nas mãos do Pai: Em vossas mãos entrego o meu espírito, minha vida, minha sorte, meu destino. A linguagem do sacrifício de Cristo foi a paixão e a morte, mas o dom, a oferta a Deus foi a entrega de sua vida na obediência e no amor.
Por isso, a Eucaristia é a atualização desta entrega de Cristo ao Pai na ação de graças da Igreja pela sua entrega total. Por isso, a Missa é um sacrifício de ação de graças.
Por ele e nele, os cristãos que reconhecem a vida como dom de Deus no sacramento do Batismo, onde se tornaram sacerdotes, podem viver o seu sacerdócio, no sacerdócio de Cristo. Deixam-se divinizar, morrendo e ressuscitando com Cristo, acolhendo a própria vida como dom de Deus e oferecendo-a com Cristo e em Cristo ao Pai.
Este aspecto da divinização realiza-se também na Comunhão eucarística. Nela reconhecemos que Cristo nos arrebata para dentro de si, que ele nos diviniza e que nós colocamos a nossa sorte, toda a nossa vida Nele. Jesus Cristo nos diviniza, Jesus Cristo nos sacrifica.
No sacramento da Eucaristia isso acontece através do ministério do sacerdote ordenado.
Assim, toda a nossa vida, nosso ser e agir se tornam um sacrifício espiritual, um sacrifício de louvor a Deus, um sacrifício de ação de graças.
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia /Frei Alberto Beckhäuser