Rezar em salmos, ou rezar com salmos, melhor que rezar salmos.
A reforma da Liturgia das Horas promovida pelo Concílio Vaticano II manteve como principal elemento expressivo da Oração da Igreja os salmos. O que fazer com que os salmos sejam verdadeiramente oração e oração pessoal na Liturgia das Horas?
Aqui vão algumas dicas. De saída, devemos suspeitar que os salmos constituem um tesouro não só para o povo de Israel, mas para a Igreja e toda a humanidade.
Para tornar os salmos expressão da nossa oração pessoal devemos colocá-los na perspectiva do princípio da unidade da História da Salvação e do Mistério de Cristo. A História da Salvação é uma só como também o Mistério de Cristo. A História da Salvação realiza-se em várias fases ou etapas. Podemos definir quatro fases: Criação e providência (Antigo Testamento), o evento da Encarnação do Filho de Deus, o tempo da Igreja e a consumação escatológica. Devemos, então, fazê-los nossa oração a partir de Jesus Cristo, à luz de Jesus Cristo, descobrindo neles sempre a compreensão ou o sentido dos contemporâneos, quando os salmos foram compostos, sua compreensão à luz de Cristo, sua compreensão pela Igreja hoje, sempre aberta para a realidade última escatológica.
Além disso, temos mais algumas chaves para tornar os salmos nossa oração pessoal em Cristo e por Cristo, na Igreja.
1.Os salmos constituem uma síntese da História da Salvação e do Mistério pascal de Cristo em forma de oração. Os salmos são Palavra de Deus privilegiada, pois, neles Deus fala e se revela na resposta orante do ser humano. Cada versículo, cada estrofe, cada salmo constitui uma experiência de oração. Oração, não como recitação de palavras, mas como experiência de comunicação com Deus.
2.Os salmos são capazes de fazer memória e tornar presente o Mistério de Cristo e do ser humano em sua plenitude.
Devemos criar em nós um espírito comunitário e universal, vendo e vivendo, no eu dos salmos, Jesus Cristo, o indivíduo que reza, a comunidade orante e a humanidade toda em Cristo e por Cristo. Cristo acolhe e dá voz a toda a humanidade em sua comunhão com Deus.
3. A oração da Igreja é “oração que Cristo unido ao seu Corpo, eleva ao Pai”. Diz Santo Agostinho: “Reconheçamos, pois, a nossa voz nele, e a sua voz em nós”.
4. A santidade de vida. Quem reza com os salmos vibra com o Deus santo, com o modo de ser de Deus. Os salmos falam sempre com Deus e de Deus sobre as coisas divinas, sobre todas as realidades criadas em sua relação com Deus. Uma experiência gratificante é tomar salmos e tentar descobrir estes diversos aspectos: como eles constituem oração, como neles se revela o Mistério de Cristo e do ser humano, como o eu dos salmos pode expressar a vida da humanidade toda em Cristo, e como os salmos falam de Deus ou a Deus sobre o mundo e o ser humano em suas mais diversas circunstâncias.
Finalmente, podemos perceber como os salmos contam a vida do ser humano. Neles podemos identificar a nossa vida e a vida de toda a humanidade. Neles encontramos a história da humanidade, desde a criação até a parusia e a história de cada um de nós, desde as nossas origens até a consumação. Sob este aspecto, podemos agrupar os salmos em 10 grandes temas conforme o tema central de cada um. Sempre na unidade do Mistério de Cristo e da História da Salvação em suas diversas fases. São eles: 1. Criação e providência. 2. O Povo de Deus. 3. O rei, chefe do povo de Deus. 4. Jerusalém capital do Povo de Deus. 5. O Templo de Jerusalém. 6. A Lei do Povo de Deus. 7. Os inimigos do Povo de Deus. 8. O pecador arrependido no Povo de Deus. 9. O justo, o pobre do Senhor no Povo de Deus. 10. O louvor dos atributos de Deus e convites para louvá-lo.
“Cantai para o Senhor um canto novo, com arte sustentai a louvação!” (Sl 32,3).
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia /Frei Alberto Beckhäuser