Foram mais de 200 dias longe dos pequeninos. A última Santa Missa, celebrada na Matriz Nossa Senhora da Saúde com a participação desses fiéis tão especiais, foi no domingo, 15 de março.
De lá para cá, restou-nos um incômodo silêncio! A ausência dos passinhos espertos, ou até cambaleantes das crianças menores, pelos corredores e pátio da Matriz. Nenhum gritinho ou choro. Nenhuma mãe ou pai correndo atrás do seu “rebento”. Nenhuma gostosa gargalhada num momento que pode parecer inoportuno – afinal é da Santa Missa que falamos!
Há mais de 30 anos, nossas crianças têm um horário para celebrar o Dia do Senhor. A Santa Missa de domingo, às 10 horas, é para o louvor delas ao Pai. Famílias inteiras ocupavam os bancos. Crianças e adolescentes dando aquele tom especial e um brilho tão próprio da infância ao que nos é tão caro: celebrar os Mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Foi o próprio Jesus quem nos ensinou sobre a beleza dessa fase tão curta. Foi Ele quem nos disse da importância destes pequeninos, da grandeza do que lhes vêm de dentro e, por isso, lhes dá passe livre ao Reino do Pai: “Deixai as criancinhas virem a mim e não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo, aquele que não receber o Reino de Deus como uma criancinha, não entrará nele” (Lc 18, 16s).
A pandemia nos subtraiu, por um bom tempo, essa alegria dominical. Nos afastou fisicamente das celebrações e nos impediu de presenciar e viver abraços sinceramente calorosos entre essas criaturinhas de Deus! Agora, chegou o momento em que Jesus as pega de novo no colo para, a partir do gesto de amá-las na proximidade, nos relembrar dessas verdades a que o amor nos conduz.
Setenta pessoas é o que podemos receber na Matriz Nossa Senhora da Saúde – entre fiéis e equipe de liturgia. É pouco, a gente sabe. Mas é o permitido. E tem sido suficientemente bom saber que, pelo menos, já estamos com as portas abertas.
O velho e o novo de mãos dadas
Não teve criança correndo, nem mãe passando aperto com criança no colo, de um lado pro outro, pra silenciar o choro. Foi tudo muito tranquilo – como se uma maturidade, forçosamente imposta pela pandemia, tivesse tomado conta de todos.
Das belezas que de novo nos emocionam, vale o registro dos nossos “leitores” mirins. Eles sempre dão conta! E lá estavam eles, maduros de infância, proclamando a Palavra ao povo de Deus reunido – como se da mesa da Palavra nunca tivessem se afastado por tanto tempo.
Por um lado, a imagem dos bancos literalmente divididos, famílias partidas ao meio, separadas por fitas que cortam de fora a fora os bancos da Matriz. Eis o novo provocado pela pandemia!
Por outro, rostinhos celebrativos, relembrando o senta, levanta, ajoelha, levanta, canta, cala, responde! Deu tudo muito certo. Eis o velho – nunca cansado demais para persistir.
Assim, caminham de mãos dadas o passado e a nova realidade – misturados nos ajustes necessários para tempos tão difíceis e percebidos pelas crianças.
Diego Oliver Onofri, 9 anos, falou de como foi bom o retorno, mas finalizou o depoimento com “este quê” do que é novo para todos nós: “Foi tudo bom, mas não dá para sentar perto de todo mundo da família, nesse ponto foi ruim!”
O irmão, Douglas Oliver Onofri (12 anos), que foi um dos proclamadores da Palavra do dia, também comentou sobre a volta da celebração para as crianças: “’Tava’ fazendo falta! Fiquei muito tempo parado sem vir à missa. As medidas de segurança não têm jeito de burlar, não pode ficar junto da família. Mas foi legal!”
Tradicionalmente, a Matriz é recanto e aconchego para os fiéis mirins de várias regiões de Itabira. Fernanda Leite Silva, 12 anos, é um desses casos. Embora resida em outra circunscrição eclesiástica, sempre foi assídua nas missas dominicais da Matriz da Saúde. E tal como nos “bons tempos”, foi responsável pela proclamação da primeira leitura. De voz suave, expressão terna, conversou conosco após a Santa Missa: “É muito importante pra mim, depois de muito tempo, voltar. Estava com saudade de fazer também as leituras. É muita alegria poder celebrar com Jesus de novo!”
O que mudou?
Tirando a Santa Missa que tem rito e ritmo próprios… quase tudo parece mudado. A começar pelas orientações passadas pelo pároco, Padre Paulo Marcony, antes da celebração: “não podemos circular nas dependências da igreja; banheiros e bebedouros estão interditados etc. etc. etc. Por isso é tão importante que os pais orientem as crianças antes de sair de casa…”
Os muito “pequetitos” não devem retornar tão cedo! Passar quase uma hora sentado, sem poder usar o banheiro, dar nem que seja uma circuladinha… é quase impossível. Quem tem filho pequeno, sabe disso!
Pés no tapete sanitizante, seca, passa álcool gel na mão, senta e não levanta mais. Sem abraço da paz, sem aglomeração nos degraus do presbitério para a hora da “historinha” (reflexão do Evangelho)…
Tá tudo mesmo muito diferente.
A “historinha” foi mantida pela catequese, mas com todo mundo sentado bonitinho no seu lugar. Ficou aquele “vaziozinho” de não poder espremer o outro num abraço de amor e paz.
Mas, no final, valeu cada segundo. Estar diante de Jesus Eucarístico é um privilégio. É uma graça que só nós, católicos, compreendemos. É como mergulhar no profundo mistério da fé e, mesmo sem o entendimento necessário para absorvê-lo, ter plena confiança e absoluta certeza desta verdade.
Ainda vamos entoar muitos louvores para o nosso amado! Celebrando os bons frutos produzidos na vinha do Senhor.
Liliene Dante
Veja, abaixo, algumas fotos da celebração. Para ver o álbum completo, acesse nossa página no Facebook