Repartir com quem não tem

A partilha é ensinamento evangélico, deve ser também prática na vida do cristão

Por José Antonio Pagola

 

A palavra do Batista tocou o coração das pessoas. Seu apelo à conversão para iniciar uma vida mais fiel a Deus despertou em muitos uma pergunta concreta: o que devemos fazer? É a pergunta que brota em nós quando ouvimos um chamado radical e não sabemos como concretizar nossa resposta.

O Batista não lhes propõe ritos sagrados, nem normas, nem preceitos. A primeira coisa a fazer não é cumprir melhor os deveres religiosos, mas viver de forma mais humana, reavivar algo que já está em nosso coração: o desejo de uma vida mais justa, digna e fraterna.

O mais decisivo é abrir nosso coração a Deus, olhando atentamente para as necessidades dos que sofrem. O Batista resume sua resposta numa fórmula genial por sua simplicidade e verdade: “Quem tiver duas túnicas, reparta-as com quem não tem; e quem tiver comida faça o mesmo”.

O que podemos dizer diante destas palavras nós que habitamos num mundo onde mais de um terço da humanidade vive na miséria, lutando cada dia para sobreviver, enquanto nós continuamos enchendo nossos armários com todo tipo de túnicas e temos nossas geladeiras abarrotadas de alimentos?

E o que podemos dizer dos seguidores de Jesus diante deste apelo tão simples e tão humano? Não devemos começar por abrir os olhos de nosso coração para tomar consciência de que vivemos submetidos a um bem-estar que nos impede de ser mais humanos?

Nós cristãos não nos damos conta de que vivemos “cativos de uma religião burguesa” (Johann Baptist Metz). O cristianismo, tal como nós o praticamos, não tem força para transformar a sociedade do bem-estar. Pelo contrário, é ela que está esvaziando nosso seguimento de Jesus de valores tão genuínos como a solidariedade, a defesa dos pobres, a compaixão ou a justiça.

Por isso, precisamos agradecer o esforço de tantas pessoas que se rebelam contra esse “cativeiro”, comprometendo-se em gestos concretos de solidariedade e cultivando um estilo de vida mais simples, austero e humano. Elas nos recordam o caminho que é preciso seguir.

Fonte: Franciscanos


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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