O relatório anual que descreve a realidade dos deslocados e refugiados de fé cristã foi publicado pela organização sem fins lucrativos Open Doors. Em 58 países, eles foram forçados a deixar suas casas quase exclusivamente por causa de sua identidade religiosa. A World Watch List revela que, de 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021, 5.898 cristãos foram mortos, 5.110 igrejas e prédios ligados à Igreja foram atacados ou fechados.
Tiziana Campisi
Existem 76 países onde os cristãos enfrentam altos níveis de perseguição. É o que revela o Portas Abertas – Open Doors que, em vista do Dia Mundial do Refugiado da ONU, celebrado 20 de junho, e em concomitância com os últimos dados divulgados pelo ACNUR sobre o número de deslocados no mundo (100 milhões), publica “Igreja Refugiada: Relatório de 2022 sobre deslocados internos e refugiados”.
A organização sem fins lucrativos há mais de 60 anos engajada na pesquisa de campo das causas e soluções para a perseguição, oferece apoio material, auxílio emergencial, informação e assistência aos cristãos perseguidos por sua fé e também mantém uma World Watch List. Disso resulta que nos primeiros 58 países os cristãos declaram que foram deslocados à força de suas casas quase exclusivamente por causa de sua identidade religiosa, enquanto cerca de metade dos deslocados internos vêm de 5 países (46%) onde os cristãos são mais perseguidos, e mais de 2/3 dos refugiados (68%) vêm de 5 países onde existe um alto nível de discriminação e perseguição.
Concentrando-se nos 50 principais países onde os cristãos são mais perseguidos, a World Watch List 2022, de 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021, registra mais de 360 milhões de cristãos enfrentando altos níveis de perseguição e discriminação com base em sua fé e 312 milhões enfrentando um nível muito alto ou extremo de perseguição.
Os números
Portas Abertas relata que no período examinado pelo Relatório, 5.898 cristãos foram mortos, um aumento de 4% em relação ao relatório de 2021, que contava 4.761. São 5.110 igrejas e prédios relacionados que foram atacados ou fechados, 14% a mais em relação ao relatório anterior; os cristãos presos sem julgamento e encarcerados 6.175, (+ 69%). O número mais alarmante é o de cristãos sequestrados: 3.829, 124% a mais que os 1.710 do relatório anterior.
O relatório de 2022 também destaca que o deslocamento de cristãos de suas casas e comunidades também é resultado de uma estratégia deliberada de perseguição religiosa, visando apagar a presença do cristianismo de uma comunidade ou país específico. Em alguns casos é uma estratégia declarada e pública, em outros é secreta e informal.
Outro elemento que o relatório revela, é que a perseguição religiosa não necessariamente termina nas fronteiras: os cristãos forçados a se mudar podem sofrer perseguição religiosa em qualquer estágio de sua viagem. O Portas Abertas salienta ainda que o deslocamento distancia indivíduos e famílias das redes sociais e comunitárias e isso ameaça a resiliência dos cristãos e o seu sentido de identidade. Além de perder as próprias casas, os cristãos deslocados também perdem redes práticas de apoio e proteção social ou financeira e enfrentam novos e contínuos desafios, principalmente violência psicológica e insegurança física, que surgem das pressões de grupos religiosos violentos. Mas também há traumas devido à violência familiar e rejeição naqueles que se convertem ao cristianismo.
Os cristãos deslocados no mundo
Na África subsaariana, os principais países que geram refugiados cristãos e deslocados internos são Camarões, República Democrática do Congo, Eritreia e Nigéria, onde, em particular, atuam grupos extremistas islâmicos que também visam propriedades, gado e terras.
No Oriente Médio e no norte da África, os cristãos que deixam seu país por motivos principalmente relacionados à fé são muitas vezes de origem muçulmana. Para eles, a principal ameaça pode ser os próprios familiares.
As nações com mais pessoas deslocadas são o Irã e a Síria, palcos de conflitos prolongados que, na última década, causaram consequências particularmente graves para comunidades cristãs minoritárias, forçando-as a sair em massa. Um caso em particular é o Iraque, onde apenas 166.000 cristãos autóctones permanecem. Antes de Saddam Hussein chegar ao poder, o país tinha mais de um milhão de cristãos, mas o número diminuiu durante seu governo e desde 2003 foi verificado um aumento na perseguição. Após a invasão que derrubou Hussein, as pressões atingiram seu ápice em 2014, quando o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS) declarou que os cristãos deveriam deixar o país, se converter ao Islã ou pagar um imposto.
Na Ásia, há mais refugiados cristãos e deslocados internos no Afeganistão, Mianmar e Paquistão. As principais fontes de pressão que levam os indivíduos a fugir de suas casas são a família e a comunidade local. Há também uma forte pressão sobre aqueles que se convertem ao cristianismo de outra religião, especialmente no Paquistão, onde as minorias religiosas vivem à sombra de leis contra a apostasia e a blasfêmia. A conversão ao cristianismo é considerada inaceitável e uma ameaça à honra da família e para evitar espancamentos, casamentos forçados e crimes de honra, muitos dos que se convertem fogem ou se refugiam em lugares onde não são reconhecidos.
Na América Latina, os cristãos são afetados principalmente pela insegurança e criminalidade, e enquanto os jovens optam por deixar seus lugares de origem temendo serem recrutados por gangues criminosas ou presos em ciclos de violência, mulheres e meninas correm o risco de serem alvos de violência sexual.
Os países da região de ondem provém o maior número de refugiados são Colômbia e México. Em países autoritários como Cuba, Nicarágua e Venezuela, líderes eclesiásticos e cristãos mais ativos também enfrentam perseguição por parte de funcionários do governo, principalmente se tiveram uma presença pública significativa ou participaram de protestos antigovernamentais.
Fonte: Vatican News