“O Reino de Deus é o próprio Senhor Jesus Cristo que inicia neste mundo e um dia na eternidade. Tudo começa nele e termina na vida divina com Deus Uno e Trino.”
Por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
O Reino de Deus foi o centro da pregação de Jesus encarnado em meio ao seu povo. “O Reino de Deus está próximo de vós’ (Lc 10,9), era a mensagem que Jesus disse aos setenta e dois discípulos ao povo pregar nas vilas e povoados para onde ele deveria ir (Lc 10,1). O Reino de Deus é Deus reinar na vida da pessoa, da família, da comunidade e da sociedade.
O Senhor se serviu desta categoria bíblica, pois ela vinha dos profetas, para aprofundar a verdade das coisas divinas e humanas em Jesus Cristo. O Reino de Deus é o próprio Senhor Jesus Cristo que inicia neste mundo e um dia na eternidade. Tudo começa nele e termina na vida divina com Deus Uno e Trino. A seguir ver-se-á este dado como foi aprofundado nos santos padres, os primeiros escritores cristãos.
A comparação do Reino dos céus com o reino deste mundo
Atenágoras de Atenas, filósofo grego cristão do século II afirmou a importância do Reino celeste para os imperadores que governavam o reino terrestre. Ele se dirigia aos máximos imperadores para dizer que eles deveriam desfazer-se das calúnias que eram dadas contra os cristãos e oferecer a razão da religião cristã. Eles deveriam examinar o império celeste, porque tudo foi posto na mão deles pelo império de cima, de modo que a alma do rei está nas mãos de Deus e tudo procede dele, também o império romano[1].
O Reino de Deus está dentro das pessoas
São Jerônimo, presbítero dos séculos IV e V afirmou a presença do Reino dos céus nas pessoas, por parte de Jesus (Lc 17,21). Ele era convicto da sua presença no meio do povo de Deus. Ele disse se não fosse possível alcançar a sua cabeça, pelo menos é fundamental lavar com as lágrimas os seus pés presentes nas pessoas. O arrependimento do fiel é perfume para o Senhor. É preciso observar quanto é grande a misericórdia do Senhor. O fato é que os pecados das pessoas mandam um mau odor na realidade humana; no entanto se a pessoa se converte, se arrepende dos pecados, os pecados são mandados embora, eliminados e o fiel vive a graça de ser um perfume do Senhor no meio do mundo. Desta forma é preciso rezar para que o Senhor tome a vida da pessoa pela mão para que se levante, sirva os outros e a Cristo[2].
Reino das pessoas justas
Santo Ireneu de Lião, bispo nos séculos II e III afirmou a importância do reino das pessoas justas não sendo esta uma categoria abstrata mas certa, real, realizada por Deus para as pessoas que fizeram o bem e agiram na caridade. Será Deus Uno e Trino a ressuscitar as pessoas de modo que os fieis viverão para sempre com Deus. A condição dos ressuscitados será pela incorruptibilidade para ser capaz de ver a glória de Deus. O Reino de Deus será a condição de vida das pessoas ressuscitadas que viverão para sempre com o Senhor na glória[3].
Os seguidores do Senhor
São Justino, padre da Igreja de Roma, século II afirmou que os cristãos seguiam a doutrina do Senhor. Eles eram fieis observadores da Palavra do Senhor. Eles tinham presentes a palavra do Senhor que dizia que era melhor entrar no Reino dos céus com um só olho do que ser mandado para o fogo eterno com os dois (Mt 5,29)[4]. Os cristãos assumiam as palavras do Mestre que era para buscar antes o Reino dos céus, e tudo será dado em acréscimo (Mt 6,25) através de seus pensamentos, e obras de caridade[5].
O batismo, novo renascimento
São Justino colocou ainda a importância do batismo em vista do renascimento com Cristo e com a Igreja. Ele dá o perdão dos pecados. Ele tem como ponto iluminador a palavra de Jesus Cristo que disse que se os fieis não nascerem de novo, não entrarão no Reino dos Céus (Jo 3,3-4). São Justino seguia a palavra do Mestre que dizia que não se tratasse de entrar novamente no seio da mãe[6], mas de reviver o coração para o Senhor através de práticas de amor com Deus, com o próximo e consigo mesmo.
O Senhor é o Rei da Glória
São Justino também especificou que o Reino de Deus tem como rei, o próprio Senhor. No Diálogo com Trifão, disse o padre da Igreja de Roma que ao Senhor é a terra e o que ela contém e todos os que habitam nela. Quem é que subirá à montanha do Senhor?! Quem tem as mãos inocentes, puro o coração e nem jura para enganar o seu próximo. Nesta pessoa haverá a benção do Senhor e a misericórdia de Deus. Quem é o rei da glória? É o Senhor das potências, ele é o rei da glória (Sl 24)[7]. A Deus pertencem os poderosos da terra (Sl 46)[8]. O Reino de Deus tem o seu próprio rei, o Senhor no qual todos os seres humanos pertencem a Ele.
As obras de misericórdia
São Pedro Crisólogo, bispo de Ravena, século V afirmou a importância das obras de misericórdia para entrar no Reino de Deus. A pessoa é chamada a fazer a esmola como obra de misericórdia para os pobres a fim de que não seja conhecida à terra, mas nos céus, não seja apresentada aos seres humanos, mas a Deus. O Senhor não julga pelas coisas que a pessoa faz pelas mãos, mas pela intenção; não pelo lugar determina as obras , mas ele quer a misericórdia para que se cumpra diante dele, porque somente Ele é recompensador e testemunha da misericórdia, pois ele mesmo se identificará no dia do julgamento para a entrada das pessoas no reino de Deus que tinha fome e as pessoas deram a ele de comer (Mt 25,35). Ele quer que nos pobres, as pessoas doam a ele mesmo, sendo o devedor do dom e que nada seja perdido para quem doa. O fato é que Deus pede pouco com as obras de misericórdia, mas multiplicará muito em vista do Reino de Deus[9].
O Reino de Deus é o Senhor Jesus Cristo e a Igreja é instrumento do Reino. As pessoas são chamadas a construir o Reino de Deus neste mundo e um dia participem na eternidade, no Reino de Deus, com obras de caridade. O Reino de Deus é dom e é compromisso humano para ser vivido e anunciado para as famílias, comunidades e sociedade. Um dia ele será a vida em plenitude às pessoas, porque é o Reino de Deus.
Fonte: Vatican News
[1] Cfr. Atenágoras de Atenas. Petição em favor dos cristãos, 18. In: Padres Apologistas. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 139.
[2] Cfr. Girolamo. Commentario in Marco, 2. In: I Padri vivi. Commenti patristici al Vangelo domenicale – Anno B, a cura di Marek Starowleyski. Roma, Città Nuova Editrice, 1984, pg. 140.
[3] Cfr. Ireneu de Lião, V,35,2, São Paulo, Paulus, 1995, pg. 616..
[4] Cfr. Justino de Roma. I Apologia, 15,2. São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 30-31
[5] Cfr. Idem, 15, 16, pg. 32.
[6] Cfr. Idem, 61,4, pg. 76.
[7] Cfr. Idem, Diálogo com Trifão, 36,3-6, pgs. 163-164.
[8] Cfr. Idem, Idem, 37,1, pg. 164.
[9] Cfr. Pietro Crisologo. Sermoni sul Vagelo di san Matteo, 11. In: La teologia dei padri, v. 3. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pg. 278.