Quem, onde e como?

Imagem: foto de Dante Di Natale em Cathopic

Por Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)

 

O Ano Vocacional em curso para todo o Brasil traz consigo uma série de perguntas sobre as pessoas chamadas por Deus, suas motivações e o alcance de sua atuação. O Evangelho (Mt 4,12-23) nos ajuda a penetrar neste maravilhoso e desafiador mistério da vocação. Comecemos pelo espaço de atuação de Jesus. Sabemos que não percorreu grandes distâncias, exceto a fuga para o Egito, ainda criança, algumas incursões pelas fronteiras com regiões pagãs. Jerusalém e a Judéia foram percorridas por ele, como ponto de chegada de sua entrega como Salvador do Mundo, visitas ao Templo e muitos confrontos com as autoridades religiosas. Entretanto, a maior parte de sua pregação do Reino de Deus aconteceu na Galileia. De fato, “deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, às margens do mar da Galileia, no território de Zabulon e de Neftali, para cumprir-se o que foi dito pelo profeta Isaías: ‘Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galileia, entregue às nações pagãs! O povo que estava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu’. A partir de então, Jesus começou a anunciar: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4,13-17). 

Ele começou pela região mais desafiadora, o povo que andava na escuridão (Cf. Is 9,1) e que encontrou uma grande luz, para crescer a alegria e a felicidade. Com frequência ouvimos pessoas se referirem a outros tempos ou épocas, pensando ter sido melhor o passado, alimentando saudade bucólica e falta de coragem para enfrentar os desafios do presente. Desejamos apresentar a todos os cristãos, especialmente aos jovens, a beleza do tempo presente, para que descubram justamente nos problemas de hoje a inspiração a darem resposta corajosa, pois há muita gente desorientada e perdida, suplicando nosso envolvimento. Onde Deus está e apresenta seu convite vocacional? Faz-se necessário olhar ao redor, superar o indiferentismo e olhar para tantas pessoas caídas à beira do caminho, sem passar ao largo! (Cf. Lc 10,31-2) Não existe falta de vocações em nosso tempo. Falta sensibilização, trato e resposta corajosa. 

Para trazer em nossa boca a palavra forte de Jesus – “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo” – é necessário ouvi-la dirigida a cada um de nós, em qualquer idade ou condição social e religiosa. Cada um de nós há de se encontrar na Galileia dos pagãos! Uma revisão corajosa e honesta da vida mostrará o quanto cada um de nós, sem exceção, deve converter-se sempre e mais ainda. A força da pregação do Reino de Deus não diminuiu e vai se perpetuar até o fim dos tempos. E tendo ouvido o convite de Jesus, abram-se nossos olhos e nossos corações para o horizonte missionário, com a pergunta sobre onde cada um de nós pode servir, e com ousadia procurar saber que situações mais complicadas podem contar com os dons a nós concedidos pelo Senhor. Há coisas difíceis cuja solução pode estar em nós e não nos outros! Que tal aceitar esta provocação? 

O Evangelho depois apresenta nomes! Simão Pedro, André, seu irmão, Tiago e João (Cf. Mt 4,18-22). Quem pode responder ao chamado de Jesus? Uma lista imensa começa ali e hoje chega até aqui, incluindo nossos nomes. São Paulo nos ajuda a entender: “A alguns ele concedeu serem apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas; a outros, pastores e mestres. Assim, ele capacitou os santos para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até chegarmos, todos juntos, à unidade na fé e no conhecimento do Filho de Deus, ao estado de adultos, à estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4,11-13).  

Na mesma Carta aos Efésios ele descreve a vocação da família (Ef 5,21 – 6,4). Na primeira semana de janeiro, para dar um exemplo, foi celebrada a missa de posse e envio dos casais dirigentes do Encontro de Casais com Cristo, homens e mulheres que descobrem com criatividade seu lugar nas Paróquias e na Arquidiocese, um evento de grande significação. E no último final de semana, era toda a Pastoral Familiar da Arquidiocese que se reunia, traçando seus rumos de trabalho para o presente ano! Não há vocação melhor do que a outra! Para cada um de nós, a melhor é a que corresponde ao olhar pessoal de Deus, e para todos ele tem este olhar especial! 

O Apóstolo São Paulo escrevendo aos Coríntios (1Cor 1,10-17), ao referir-se a nomes de personalidades importantes, como Pedro, Apolo e o próprio Paulo, faz convergir as diversas vocações e dons para o essencial, Jesus Cristo! Durante este período do ano, as diversas circunscrições eclesiásticas de todo o Brasil, segundo as prementes necessidades da Evangelização, promove as nomeações de sacerdotes para Paróquias e outras atividades. Nossa Arquidiocese tem assistido, desde o final do mês de dezembro de 2022, quando começamos a dar posse aos padres em suas novas destinações, um verdadeiro espetáculo de disponibilidade, da parte dos sacerdotes e do povo, manifestações de acolhida aos párocos que chegam, uma alegria pela responsabilidade missionária e evangelizadora que envolve a todos, na grande tarefa do anúncio do nome de Jesus Cristo e não a si mesmos, todos eles prontos a abraçar a missão. Além disso, nossos seminaristas estão nas missões intensivas de férias, presentes em toda a Arquidiocese, felizes e agradecidos pelo trabalho e os frutos, já que Deus não se deixa vencer em generosidade. E chegam continuamente notícias de nossas Áreas Missionárias e Novas Paróquias, onde pululam iniciativas de formação e dedicação ao povo de Deus. 

Como se não bastasse, fiel às propostas do Sínodo Especial para a Amazônia, nossa Arquidiocese tem agora quatro sacerdotes diocesanos missionários, dois na Prelazia do Alto Xingu – Tucumã – PA, um em Itacoatiara – AM e um na Diocese de Humaitá – AM. Temos aprendido a dar de nossa pobreza, para que sejamos mais ainda uma Igreja em saída, abrindo-nos para horizontes cada vez amplos.  

Rezemos com a Igreja: Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras. Amém! 

Fonte: CNBB

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