Tanto o Brasil como a própria Europa têm registrado quedas na taxa de natalidade com a pandemia acelerando ainda mais essa curva negativa. O presidente do Fórum das Associações Familiares concedeu entrevista ao Vatican News, após o anúncio da participação do Papa Francisco num evento dedicado à crise demográfica na Itália e no mundo marcado para 14 de maio, em Roma.
A pandemia tem mudado o perfil populacional do Brasil quando se fala da relação entre aumento no número de mortes por causa da Covid-19 e a queda na taxa de natalidade: só no primeiro trimestre de 2021, o país registrou quase 10 mil nascimentos a menos do que no mesmo período do ano passado. Uma curva negativa que também está sendo registrada na Europa, como na Itália, que, segundo os especialistas, a fecundidade já se encontra em níveis muitos baixos e com pouca probabilidade para uma reversão de tendência.
Essas questões, ainda mais evidenciadas com a pandemia, são seguidas de perto pelo Papa Francisco que há 5 anos dedicou à família a Exortação Apostólica Amoris laetitia. A emergência sanitária da Covid-19 colocou muitos lares em crise, mas é nesse contexto de amor e ternura que se pode olhar para o futuro com confiança e esperança. O Pontífice, por exemplo, já confirmou a sua participação no encontro “Stati Generali della Natalità”, um evento para analisar o destino demográfico da Itália e do mundo, marcado para 14 de março, em Roma. Gigi De Palo, presidente do Fórum das Associações Familiares, expressou satisfação pela novidade:
R. – Estamos muito felizes com a presença do Santo Padre porque estamos convencidos de que, além das questões econômicas e sociais que são importantes e fundamentais especialmente para o nosso país, há também uma falta de esperança, de confiança, de uma visão a longo prazo. Precisávamos disso e pedimos ao Papa para tentar nos ajudar a dar um salto de qualidade para pensarmos no fato de que a natalidade e, portanto, o nascimento de uma criança, tem a ver com esperança. Tudo nasceu muito espontâneo, já no ano passado eu tinha convidado o Santo Padre para o mesmo evento que íamos fazer em 15 de maio. A gente se encontrou e perguntei se participaria do evento e ele aceitou. Estamos muito satisfeitos com a sua confirmação porque queremos falar sobre o tema da natalidade, tentando quebrar o padrão associativismo católico – político e queremos tentar argumentar com o mundo das empresas, dos bancos, da mídia, do esporte e do entretenimento porque é uma questão que não diz respeito apenas às associações ou aos católicos, mas diz respeito a todo o mundo. Diz respeito ao mundo do consumo, do bem-estar, da narração e também ao tema da esperança, que acreditamos ser fundamental.
Francisco, sobre o tema da taxa de natalidade, falou várias vezes inclusive traçando um quadro amargo, especialmente da Europa que envelhece. Mas a própria Itália testemunha esse tipo de cenário:
R. – O Papa conhece a humanidade, conhece as famílias. Em Amoris laetitia se vê que não é uma exortação escrita em uma escrivaninha, mas, como minha esposa costuma dizer, parece que ele estava presente nas famílias italianas, como uma pessoa que assistia aos nossos almoços e jantares, porque fala sobre isso de forma muito concreta e inovadora, mantendo todos os aspectos ligados ao magistério, por isso fala com palavras novas. Estamos esperando palavras novas, que possa nos dizer o seu ponto de vista, tendo em mente que a questão dos nascimentos não tem a ver apenas com algumas pessoas que querem filhos, mas também com pessoas que não querem filhos, que escolhem livremente de não tê-los. O Papa nos lembra que somos uma só família humana e que existe solidariedade intergeracional. Se uma pessoa solteira não quer filhos, mas ainda quer manter um padrão de vida decente – uma aposentadoria, cuidados de saúde que não sejam pagos – ela deve torcer por políticas familiares, por uma retomada da taxa de natalidade em nosso país. Em vez disso, muitas vezes conseguimos transformar até mesmo este tipo de situação em ideologia e conflito. Precisamos de um plano do governo para retomar os nascimentos porque corremos o risco de creches vazias, como acontece em muitas regiões italianas onde as escolas estão fechando. Precisamos de uma visão geral, um plano orgânico feito bem, e esperamos que se tenha em mente que a taxa de natalidade é a nova questão social.