“Que Jesus toque também a nós, e começaremos a andar”

Não permitiu que ninguém lhe seguisse além de Pedro, Tiago e João, seu irmão. Alguém poderia perguntar, dizendo: Por que são sempre escolhidos estes três, e os demais são deixados a parte? Pois quando ele também transfigurou no monte, tomou consigo a estes três. Assim, são três os escolhidos: Pedro, Tiago e João.

 

Em primeiro lugar neste número se esconde o mistério da Trindade, por isto este número é santo por si. Pois também Jacó, segundo o Antigo Testamento, colocou três varas nos bebedouros. E está escrito em outro lugar: um cordel triplicado não se rompe facilmente. Portanto, é escolhido Pedro, sobre o qual foi fundada a Igreja; Tiago, o primeiro dos apóstolos que foi coroado com o martírio, e João, que é o princípio da virgindade.

E chegou à casa do chefe da sinagoga e viu um alvoroço e umas carpideiras. E ainda hoje seguem fazendo alvoroço na sinagoga. Mesmo que afirmem que cantam os salmos de Davi, seu canto, contudo, é pranto. E entrando lhes disse: Por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu, mas dorme.

A saber: “A criança, que morreu para vós, vive para mim. Para vós está morta, para mim dorme. E aquele que dorme pode ser despertado”. Então começaram a caçoar dele. Porque não acreditavam que a filha do chefe da sinagoga pudesse ser ressuscitada por Jesus.

Porém ele, colocando todos para fora, tomou consigo ao pai e a mãe da menina. Dirijamo-nos aos santos varões, que realizam sinais, aqueles aos quais o Senhor lhes concedeu certos poderes. Eis aqui que Cristo, quando se dirigia para ressuscitar a filha do chefe da sinagoga, coloca todos para fora, para que não pensassem que o fazia para se enaltecer. Assim, tendo colocada a todos para fora, ele tomou consigo ao pai e a mãe da menina. E inclusive a eles provavelmente lhes teria colocado para fora, se não tivesse sido por  consideração ao seu amor de pais, para que vissem a sua filha ressuscitada.

Entraram no quarto onde estava a criança, Jesus pegou na mão da menina… Em primeiro lugar pegou a sua mão, curou suas obras, e deste modo ressuscitou. Então verdadeiramente se cumpriu isto: Quando tiver entrado a plenitude das nações, então todo Israel será salvo. Diz, pois, Jesus: “Talita cumi”, que significa: “Menina, levanta-te para mim”. Se tivesse dito: “Talita cum”, significaria: “Menina, levanta-te”, porém como disse: “Talita cumi” isto significa, tanto em língua siríaca quanto em hebraica: “Menina, levanta-te para mim”. “Cumi” significa: “levanta-te para mim”.

Observa, pois, o mistério da mesma língua hebraica e siríaca. É como se dissesse: “Menina, que devias ser mãe, por tua infidelidade continuas sendo menina”. O que podemos expressar deste outro modo: “porque vais renascer, serás chamada menina”. “Menina, levanta-te para mim”, ou seja, não por teu próprio mérito, mas por minha graça”. “Levanta-te, portanto, para mim porque serás curada por tuas virtudes”.

Ela levantou-se imediatamente e começou a andar. Que Jesus toque também a nós, e começaremos a andar. Ainda que sejamos paralíticos, ainda que possuamos más obras e não possamos andar, ainda que estejamos costados no leito de nossos pecados e de nosso corpo, se Jesus nos toca, no mesmo instante ficaremos curados. A sogra de Pedro estava dominada pelas febres: Jesus a tocou e se levantou, e imediatamente se pôs a servi-los. Vede que diferença. Aquela é tocada, se levanta e se põe a servir, a esta lhe basta somente andar.

São Jerônimo, doutor da Igreja (séc. V) – Comentário sobre o Evangelho de São Marcos in loc.

Fonte: Veni Brasil – Lecionário Patrístico Dominical (Editora Vozes)

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