MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
PARA A QUARESMA DE 1980
Todos os anos, ao iniciar a Quaresma, o Papa costuma dirigir-se aos fiéis de toda a Igreja e incitá-los a viverem bem este tempo, que nos é proporcionado a fim de nos prepararmos para uma verdadeira libertação.
O espírito de penitência e a sua prática levam-nos a desapegar-nos de tudo o que possuímos de supérfluo e, algumas vezes, mesmo do necessário, que nos impede de «ser» verdadeiramente aquilo que Deus quer que sejamos: «Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração». Estará o nosso coração, porventura, apegado às riquezas materiais, ao poder sobre os outros, ou às subtilezas egoístas de dominação? Então, nesse caso, temos necessidade da Páscoa de Cristo Libertador, o qual, se nós quisermos, nos pode desembaraçar das ligaduras do pecado que nos tolhem os movimentos.
Preparemo-nos para nos deixar enriquecer com a graça da Ressurreição, desfazendo-nos de todos os falsos tesouros: os bens materiais que nos não são necessários, muitas vezes são as próprias condições de sobrevivência para milhões de seres humanos. E, para além do mínimo para a subsistência, há centenas de milhões de homens que esperam de nós que os ajudemos a chegarem a ter os meios necessários para a sua própria promoção humana integral, bem como para o desenvolvimento económico e cultural dos seus respectivos países.
Entretanto, as declarações de intenção ou um simples donativo não bastam para modificar o coração do homem; para isso, é necessária aquela conversão do espírito que nos leve, no encontro dos corações, a partilhar os bens com os menos favorecidos das nossas sociedades, com aqueles que são desapossados de tudo – por vezes, mesmo da sua dignidade de homens e de mulheres, de jovens e de crianças – e com todos os refugiados do mundo, que não podem continuar a viver na terra dos seus antepassados e que têm de abandonar a própria pátria. É então que nós encontraremos e viveremos mais intimamente o mistério da paixão e morte redentoras do Senhor Jesus. A verdadeira partilha de bens, que é encontro com os outros, ajuda-nos a libertar-nos daqueles vínculos que nos tornam escravos; e porque ela nos faz ver nos outros irmãos e irmãs, leva-nos a redescobrir que somos filhos de um mesmo Pai, «herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo» (Rom 8, 17), do qual nós retemos as riquezas incorruptíveis.
Eu quero exortar-vos, portanto, a corresponder generosamente aos apelos que vos irão fazer, durante a Quaresma, os vossos Bispos pessoalmente, ou então através de outros responsáveis pelas campanhas de compartilha de bens. Vós sereis os primeiros a beneficiar com isso, porque vos poreis assim no caminho da única verdadeira libertação. Os vossos esforços juntamente com os de todos os batizados testemunharão a Caridade de Cristo e estarão a construir desse modo aquela «civilização do Amor» que, conscientemente ou não, no fundo deseja o nosso mundo, penalizado pelos conflitos e pelas injustiças, e desiludido porque já não encontra verdadeiras testemunhas do Amor de Deus.
Dou-vos a bênção em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!
IOANNES PAULUS PP. II