Por Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
A existência da vida sobre a extensão do universo significa manifestação da vontade divina sobre toda a natureza criada. Divino e humanamente falando, ela é a realização concreta da prática do amor, que se torna plenamente consolidada no encontro com o Deus da vida, no encontro com a Pessoa de Jesus Cristo. Mesmo diante do progresso científico, a preservação da vida depende de Deus.
A vida vem de Deus, mas toda ela existe para a realização do ser humano, como proposta de felicidade, com fundamento na dignidade das pessoas. Foi por causa disso que foram dadas as Leis do Decálogo (Ex 24,12), com a finalidade de recuperar a identidade perdida durante a vida na história. O povo da promessa tinha caído no ostracismo em relação às orientações comunicadas por Moisés.
O que caracteriza mesmo a vida humana, principalmente quando a pessoa é temente a Deus, é o dom da liberdade realizada sem limites na condução e na prática do bem comum para todos. Liberdade de ação estendida, porque não pode admitir atitudes de discriminação e de ideias restritas, fechadas, mas abertas para elevar o ser humano na condição de plenamente humano e divino.
O amor vindo e percebido pela prática da fé cristã, revelado por Deus, que gera vida plena, tem uma dimensão diferente do amor próprio e natural presente no ser humano. É importante entender que o amor a Deus e ao próximo é o máximo dos dons divinos, porque Deus é amor. A máxima desse amor está no fato de enviar o Filho ao mundo com a missão de dar a vida, como proposta de vida.
Essa proposta de vida, na intenção de Jesus, passa pela prática livre no gesto bíblico do lava pés. Pela doação de si mesmo, para elevar a vida do outro. Constitui caminho de entrega apaixonada em testemunhar o amor, como missão no mundo, para a construção do bem e de elevação da vida das pessoas. Seguir Jesus Cristo nada mais é do que fazer o mesmo percurso de doação que ele fez.
Diante da proposta de vida, é inconcebível ficar tranquilo diante do sofrimento dos pobres, dos excluídos, dos pequenos, dos abandonados, dos doentes. Todos eles dependem da solidariedade e do cuidado de quem é capaz de ser cuidador, e de quem tem coração sensível e solidário. São práticas que revelam amor, assentimento de fé no Deus da vida e na capacidade de fazer o outro feliz.
Fonte: CNBB Leste2