Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Neste Natal, celebramos os 800 anos de criação do presépio – uma escola do Evangelho, um Evangelho vivo, nascido da intuição de São Francisco de Assis, em 1223. A celebração destes oito séculos de história inspirou o Papa Francisco na redação de uma Carta Apostólica sobre o significado e o valor do presépio, considerado um sinal admirável, com especial importância na vida dos cristãos. Uma tradição, com a força da criatividade artística, que conquista a admiração de diferentes gerações. Ao representar o nascimento de Jesus, com simplicidade e alegria, o presépio ensina sobre o mistério da Encarnação do Verbo. Com adornos próprios de artes variadas, concebidas na singularidade de cada cultura, constitui uma “escola” que educa sobre o caminho espiritual. E a tônica espiritual forte, ensinada pelo presépio, é a humildade d’Aquele que Se fez homem para Se encontrar com cada pessoa, proporcionando a fascinante descoberta do amor maior, o amor de Deus.
O Papa Francisco indica a importância e a riqueza da belíssima tradição de se organizar presépios, em preparação para o Natal do Senhor, nas igrejas, nos lares, nas escolas, nos hospitais, nos cárceres, nos ambientes de trabalho e nas praças, inspirando criativa imaginação com peças que ensinam sobre o exercício da humildade. Esta virtude tem força de remédio para curar todo tipo de orgulho e mesquinhez. Importa, então, se dedicar à preparação de presépios, escola para aprender o Evangelho. Muitas pessoas testemunham, desde o tempo da infância, sobre a importância de se contemplar, de modo orante, o presépio, para conquistar essencial sensibilidade. Cada presépio anuncia o Evangelho – oportuno lembrar a cena descrita por São Lucas: Maria envolvendo seu filho em panos e o recostando em uma manjedoura, por não haver lugar para a Sagrada Família na hospedaria. Manjedoura é praesepium na língua latina.
Em seu nascimento, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer – acontecimento que revela muitos mistérios da vida de Jesus. Esta cena inspirou a preparação de São Francisco de Assis para o Natal, em 1223, quando estava em Gréccio. O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica, rememora a origem dos presépios, a partir de fontes franciscanas: São Francisco chamou um homem daquela terra e solicitou a sua ajuda para que pudessem reconstituir a cena do nascimento de Jesus. A ideia era retratar as dificuldades sofridas pelo Menino nascido em Belém, em razão da falta de estruturas básicas indispensáveis ao acolhimento de um recém-nascido. O pequenino, Filho de Deus, foi reclinado na palha, entre o boi e o burro. O plano de São Francisco deu certo, alcançando o seu auge no dia de Natal. Muitas pessoas se reuniram diante da cena recriada sobre o nascimento de Jesus, procurando, assim, contemplar a grandeza do amor de Deus. A experiência de São Francisco promoveu especial alegria, com a participação de muita gente que se congregou em festa.
Assim nasce uma tradição com força de alavancar a evangelização, capaz de enlevar mentes e comover corações, por fazer compreender que Deus se abaixa, no seu amor redentor, até a condição humana. Jesus, fonte e sustento da vida, vem como irmão, oferecido à humanidade pelo Pai. A chegada do Menino-Deus concede ao ser humano a oportunidade para trilhar novo rumo, com razões para se investir no amor. Um investimento que redime a humanidade do pecado, perdoando-a e salvando-a. A pobreza do lugar onde Jesus – Filho de Deus – nasce, retratada em cada presépio, desconcerta o ser humano, combatendo o terrível orgulho. Ensina que o despojamento guarda lições essenciais para fazer da vida um dom, levando à adoção da misericórdia como a razão da própria vida.
As lições na escola do presépio são muitas. O céu estrelado e o silêncio da noite fazem pensar na escuridão que envolve a vida. Ao mesmo tempo, permitem reconhecer a luz da presença de Deus, que não abandona o ser humano. O Pai ajuda cada um de seus filhos a encontrarem respostas para problemas que inquietam o coração. A relação do presépio com as cidades, marcadas pelas contradições e cenários degradantes, pode ajudar muitos a se abrirem ao amor e a melhor enfrentarem situações de exclusão. Jesus é a novidade que renova o mundo decaído, pois é a única resposta para recuperar o esplendor do amor.
Todos estão convidados à experiência de contemplar presépios, na força de sua arte, para vivenciar autenticamente a espiritualidade do Natal, com força maior que as luzes, as cores e os enfeites desta época do ano. Nas lições transmitidas pelo presépio está o amor aos pobres, que são exemplares no reconhecimento do amor de Deus. O desapego, ensinado na escola do presépio, contribui para que o ser humano resista à ilusão de buscar felicidade no que é efêmero. Neste tempo de preparação para o Natal, vale visitar e contemplar presépios para cultivar, pela oração e pela beleza, o amor que salva. Prepare presépios, visite-os, deixe-se “encharcar” com o amor de Deus.
Fonte: CNBB