Por Padre Francisco Faus
Quando Maria e José chegaram a Belém para se recensear, estando eles ali completaram-se os dias dela. Ela deu à luz seu filho primogênito e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o numa manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem. “Não havia lugar para eles”. Maria ia dar à luz e não achou uma só porta que se abrisse.
Jesus continua a encontrar fechadas as portas de muitos corações. Perguntemo-nos como é que vai encontrar a nossa porta agora, no Natal, uma vez que com certeza vai bater nela: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa, e cearei com ele e ele comigo (Apoc 3, 20).
Todos nós, uma ou muitas vezes, já deixamos Nosso Senhor do lado de fora. Por quê? Podem nos ajudar duas imagens: pensar que o ferrolho que tranca a porta do nosso coração é sempre um não dito a Deus; assim como a chave de ouro que a abre é sempre um sim como o de Maria no dia da Anunciação.
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Cada uma das nossas recusas tem um nome concreto, que é sempre algum destes “ferrolhos”: orgulho, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. Os sete pecados capitais.
- Dentre todos os ferrolhos, o orgulho, é o pior. Torna-nos convencidos, arrogantes, autossuficientes, vaidosos, cheios de incompreensões, desprezos e críticas
A chave de ouro que abre essa porta se chama humildade. Por isso, Jesus, o nosso Médico divino, veio a nós humilde, fez-se pequeno, a última das criaturas deste mundo.
- Outras portas são trancadas pela avareza. A chave de ouro que as abre é a generosidade. A avareza é o egoísmo que nos faz agarrar-nos ao nosso tempo, aos nossos planos, ao nosso dinheiro, aos nossos gostos, que não queremos dar nem compartilhar com os demais. O avarento só sabe dizer “meu”.
Jesus nasce pobre, dando-se a todos. Ele nos diz “sou teu!”, e assim pode curar também a nossa avareza.
- A luxúria consiste na procura desordenada do prazer egoísta do sexo. E a chave de ouro que abre essa porta é a castidade: a pureza do coração, do olhar, da imaginação e do corpo: a castidade nos pensamentos, olhares, desejos e comportamento.
- Outro pecado capital: a ira. A chave de ouro que escancara as portas que a ira trancou é a mansidão. Como faz mal a ira! Que mal se vive com uma pessoa irritada, violenta, agressiva ou carrancuda, que está sempre de mau humor, e reage mal!
Jesus, desde o berço, já nos diz sem palavras: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso para as vossas almas.
- E a temperança? É a virtude-chave de ouro para abrir a porta que o pecado da gula fechou. Os nossos abusos no comer, na bebida, na diversão, na televisão, na Internet…, nas drogas!
Jesus , desde o seu nascimento, vive uma vida sóbria e austera: a antítese do consumismo e do hedonismo que hoje dominam e subjugam muitos homens e mulheres, muitas vezes desde a adolescência.
- E a inveja? Ela tranca os corações e despeja neles fel e vinagre, ódios e maledicências. Mas a caridade é a chave de ouro, e consiste em querer o bem de todos, colaborar positivamente para o bem de todos, perdoar a todos, quer se trate de amigos, quer de inimigos.
- Por fim, o sétimo ferrolho é a preguiça, que não é um pecado tão inofensivo como parece. Quantas vezes os não que mais nos prejudicam pessoalmente e fazem mal aos outros procedem da preguiça, da falta de vontade de esforçar-nos, da falta de vontade de lutar, de ser responsáveis, de ser constantes, de trabalhar, de sacrificar-nos.
A chave de ouro para abrir essa porta é a diligência, que significa o empenho por cumprir todos os nossos deveres por amor, com prontidão, ordem e acabamento,.
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Peçamos perdão, neste Natal. Destranquemos os ferrolhos e preparemos as chaves de ouro. Acharemos a paz na Confissão, e nos prepararmos para que o Natal seja, para nós, um novo nascimento que acompanha o Nascimento de Jesus.
Fonte: resumo de um capítulo do livro Contemplar o Natal de Pe. Francisco Faus