Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte/MG e presidente da CNBB
Graves conflitos ameaçam a paz pelo mundo afora, pedindo urgentes providências. Neste horizonte, este convite dirigido a cada pessoa é mais que oportuno: unir-se ao gesto orante oficiado pelo Papa Francisco, neste 25 de março. Um gesto orante que ultrapassa o território da devoção – remete a humanidade às raízes espirituais que são capazes de restaurar o coração humano e o tecido sociocultural da civilização contemporânea. O distanciamento dessas raízes explica, significativamente, a presença da guerra, das forças destruidoras derivadas dos preconceitos e discriminações, passando pelas indiferenças em relação àqueles que sofrem. As guerras e outras formas de violência mostram, pois, que o mundo precisa de um novo humanismo.
Os fracassos e sofrimentos vividos atualmente se contrapõem às muitas possibilidades de dinâmicas civilizatórias mais construtivas. O ser humano já deveria ter aprendido melhor as lições acumuladas pelos acontecimentos da história, particularmente da história recente. Mas há um tremendo descompasso entre os avanços científicos e tecnológicos com a ainda incipiente construção de um novo humanismo. Quando se governa sem os parâmetros de um humanismo integral escancaram-se as portas das delinquências – nos pronunciamentos, nas escolhas e no discernimento de prioridades. Com isso, fica comprometido o desenvolvimento que todos sonham e atitudes são configuradas sob lógicas cuja irracionalidade constitui verdadeiro crime contra a humanidade. A insanidade que prevalece desgasta e inviabiliza a cultura do diálogo, enfraquecendo o compromisso de se buscar construir e se envolver em redes de cooperação. Ao invés disso, são escolhidos líderes contaminados por interesses mesquinhos, “porta de entrada” para a corrupção e as manipulações.
Refletir sobre o atual cenário mundial leva a consolidar a convicção da necessidade urgente de se promover mudanças em diversos âmbitos, por meio de variados recursos cidadãos. Incontestável é a necessidade de se investir na educação integral, capaz de alavancar transformações significativas. A educação integral é obstáculo para aqueles que dificultam os diálogos – inclusive na elaboração e efetivação de políticas públicas essenciais, a exemplo daquelas dedicadas ao campo educacional. É preocupante a cegueira do maquinário estatal, incapaz de reconhecer que a educação impulsiona a sociedade rumo ao desenvolvimento integral.
Está faltando sabedoria e entendimento humanístico para compreender que a tarefa primordial de trabalhar pela educação é responsabilidade governamental em diálogo e articulação com as famílias, as igrejas, as escolas e a sociedade civil. A carência de um humanismo integral na condução de governos obscurece processos de definição das prioridades dos investimentos mais importantes para dar novo rumo à sociedade. Os governantes não podem desconsiderar o campo da educação valendo-se da justificativa de que faltam recursos – um refrão. Precisam reavaliar prioridades, abrindo-se ao diálogo, à escuta, à avaliação de propostas. Para isso, requer-se uma competência humanística que ultrapassa a simples capacidade para fazer funcionar uma máquina estatal e governamental. Não basta simplesmente um modelo de gestão exitoso nas contas.
É fundamental deixar-se presidir por um adequado modelo de sociedade, pela abertura ao diálogo que produz entendimentos lúcidos, capazes de inspirar um novo movimento civilizatório para a humanidade. O equilíbrio das contas e a prioridade da sustentabilidade devem contracenar com um processo educativo que resgate cidadãos do lixo da corrupção, dos comprometimentos na prática da justiça e do desmonte de mecanismos que estão sustentando as exclusões, as desigualdades sociais. O esperado grande movimento transformador do mundo, que contempla a oração e as redes de serviços, envolvendo as dinâmicas dialogais, será possível pela priorização da educação, nos parâmetros do novo humanismo integral. Um humanismo capaz de debelar guerras e conflitos, colocando a civilização contemporânea sobre trilhos novos, condizentes com as suas conquistas científicas e tecnológicas. Trilhos de um humanismo integral.