Pilar da caridade – Igreja casa dos pobres

Imagem: Papa Francisco no almoço com pessoas pobres na Sala Paulo VI, em 17 de novembro de 2019 - Foto/reprodução Vatican Media

“Contemplar o Cristo sofredor na pessoa dos pobres significa comprometer-se com todos os que sofrem, buscando compreender as causas de seus flagelos, especialmente as que os jogam na exclusão. A ausência do sentido da vida é fonte de sofrimento.”

 

Por Jackson Erpen

“No nosso tempo, de fato, são muitas as necessidades que interpelam a sensibilidade cristã. O nosso mundo começa o novo milênio, carregado com as contradições dum crescimento económico, cultural e tecnológico que oferece a poucos afortunados grandes possibilidades e deixa milhões e milhões de pessoas não só à margem do progresso, mas a braços com condições de vida muito inferiores ao mínimo que é devido à dignidade humana. Como é possível que ainda haja, no nosso tempo, quem morra de fome, quem esteja condenado ao analfabetismo, quem viva privado dos cuidados médicos mais elementares, quem não tenha uma casa onde abrigar-se? E o cenário da pobreza poderá ampliar-se indefinidamente, se às antigas pobrezas acrescentarmos as novas que frequentemente atingem mesmo os ambientes e categorias dotados de recursos económicos, mas sujeitos ao desespero da falta de sentido, à tentação da droga, à solidão na velhice ou na doença, à marginalização ou à discriminação social. O cristão, que se debruça sobre este cenário, deve aprender a fazer o seu ato de fé em Cristo, decifrando o apelo que Ele lança a partir deste mundo da pobreza. (São João Paulo II)”

Em 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio era eleito 265º Sucessor de Pedro. Já no dia 16, no encontro com os representantes dos meios de comunicação na Sala Paulo VI, pronunciou a célebre frase que tornou-se uma marca de seu Pontificado: “Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres!”

Mas a preocupação da Igreja com as necessidades do próximo, especialmente dos pobres e vulneráveis, não é uma novidade trazida por Francisco. São João Paulo II recorda na sua Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte de 6 de janeiro de 2001, “trata-se de dar continuidade a uma tradição de caridade, que já teve inumeráveis manifestações nos dois milênios passados, mas que hoje requer, talvez, ainda maior capacidade inventiva. É hora duma nova «fantasia da caridade», que se manifeste não só nem sobretudo na eficácia dos socorros prestados, mas na capacidade de pensar e ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto de ajuda seja sentido, não como esmola humilhante, mas como partilha fraterna.” Por isso, devemos procurar que os pobres se sintam, em cada comunidade cristã, como «em sua casa»”.

“Não seria, este estilo, a maior e mais eficaz apresentação da boa nova do Reino? Sem esta forma de evangelização, realizada através da caridade e do testemunho da pobreza cristã, o anúncio do Evangelho — e este anúncio é a primeira caridade — corre o risco de não ser compreendido ou de afogar-se naquele mar de palavras que a atual sociedade da comunicação diariamente nos apresenta. A caridade das obras garante uma força inequivocável à caridade das palavras.”

Depois de “Pilar da caridade da Igreja-casa”padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre “Pilar da caridade – Igreja casa dos Pobres”:

“As orientações atuais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) usam essa imagem da Igreja como casa. Quatro são os pilares: pilar da Palavra, pilar do Pão, pilar da Caridade e pilar da Missão. Queremos hoje continuar a aprofundar o pilar da caridade, tão importante diante dos problemas que afetam nosso país, sobretudo afirmando que a Igreja é casa dos pobres. O episcopado Latino-americano, desde a conferência de Puebla, fez uma opção preferencial pelos pobres e pelos jovens. A opção preferencial pelos jovens parece que ficou esquecida e a opção preferencial pelos pobres mal-entendida ou questionada.

As novas Diretrizes da CNBB, válidas até 2023, no número 108, apontam que o Papa Francisco insiste em dizer que deseja uma Igreja pobre para os pobres (EG, n.198). A opção pelos pobres se baseia na prática de Jesus de Nazaré. Pois, “a evangelização dos pobres foi para Jesus um dos sinais messiânicos e será também para nós sinal de autenticidade evangélica” (DP, 1130).

Assegurou o papa Bento XVI no discurso de inauguração da Conferência de Aparecida: “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza” (DAp, 392).

Obedecendo aos apelos do Para Francisco, e somente assim, a Igreja será casa dos pobres como proclamou São João Paulo II ao afirmar que os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho, no documento Novo Millennio Ineunte (NMI, n.50).

É missão da comunidade cristã a promoção da cultura da vida através do enfrentamento dos desafios que a ela se impõe: a violência, falta de moradia digna, migrações, falta de perspectiva para os jovens, etc. (DGAE, 109). Os bispos do Brasil são categóricos: “Há que se afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre nossa fé e os pobres” (DGAE, 108).

Contemplar o Cristo sofredor na pessoa dos pobres significa comprometer-se com todos os que sofrem, buscando compreender as causas de seus flagelos, especialmente as que os jogam na exclusão. A ausência do sentido da vida é fonte de sofrimento. Também os cristãos são afetados por essa crise de sentido que gera cansaço, depressão, pânico, transtornos de personalidade e até suicídio. Essa situação ocorre porque se vive em uma sociedade que sustenta tudo ser possível, especialmente com o avanço de novas tecnologias indiferentes aos sofrimentos de muitos excluídos (cf. 110).

Entre tantos problemas que afetam a sociedade, a Igreja do Brasil aponta a falta de moradia digna, a situação da população em situação de rua e encarcerada, abandono de crianças e idosos, a crise familiar, o desemprego, o trabalho precário, a violência explícita ou institucionalizada pelas injustiças sociais, os jovens que já morreram pela miséria e pela violência, a situação dos migrantes, o trafego de pessoas, o segregacionismo e o racismo, a necessidade de preocupação com os povos indígenas, quilombolas e pescadores.

Junto aos que sofrem, especialmente os que sequer tem o direito à sobrevivência, a Igreja é chamada a reproduzir a imagem do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37). “Contemplar o Cristo sofredor na pessoa dos pobres significa comprometer-se com todos os que sofrem, buscando compreender as causas de seus flagelos, especialmente as que os jogam na exclusão” (DGAE, 110).”

Fonte: Vatican News

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

 

 

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