“A caridade é sempre a via mestra do caminho de fé. Mas a caridade não é simples filantropia, mas, por um lado, é olhar o outro com os mesmos olhos de Jesus e, por outro lado, é ver Cristo no rosto dos necessitados. As sementes de amor que saberemos semear, com a bênção de Deus, vão brotar no presente e com o tempo vão gerar frutos de bem”. (Papa Francisco)
Por Jackson Erpen
A Constituição Dogmática Lumen Gentium relaciona a Igreja com várias imagens, como por exemplo, Igreja como construção e edifício de Deus, Igreja como casa, entre outras. Padre Gerson Schmidt* aprofundou este tema em vários programas, antes de começar a refletir sobre os quatro pilares que fazem parte dos fundamentos sólidos e constitutivos da Igreja de Cristo: pilar da Palavra, pilar do Pão, pilar da Caridade e pilar da Missão. Depois de ter tratado no último programa sobre “pilar do Pão e Papa Francisco”, o sacerdote gaúcho nos propõe hoje a reflexão “pilar da Caridade da Igreja-casa”:
“As orientações atuais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) usam essa imagem da Igreja como casa que já abordamos aqui em nosso aprofundamento da Constituição Dogmática Lumen Gentium, que aponta a analogia da Igreja como uma casa ou edifício de Deus. Segundo as novas diretrizes da CNBB essa casa é construída a partir de quatro pilares onde se ergue a Igreja de Cristo: pilar da Palavra, pilar do Pão, pilar da Caridade e pilar da Missão. Já falamos do pilar da Palavra e do pilar do Pão, e atualizamos sobretudo com apontamentos do Papa Francisco. Hoje aprofundamos o pilar da Caridade, terceiro pilar constitutivo da Igreja, conforme as atuais Diretrizes da CNBB.
No número 102 das Diretrizes, diz que “na fé cristã, a espiritualidade está centrada na capacidade de amar a Deus e ao próximo. Rezar e servir, amar e contemplar são realidades indispensáveis para o discípulo missionário de Jesus Cristo. Sem oração não existe vida cristã autêntica. Sem caridade, a oração não pode ser considerada cristã”. Referendando o Encíclica Laudato si’ do Papa Francisco, os bispos repicam que “somente contemplando o mundo com os olhos de Deus é possível perceber e acolher o grito que emerge das faces da pobreza e da agonia da criação” (LS, n.53).
A Igreja reza em sua liturgia, dirigindo-se ao Pai, recordando que Jesus sempre se mostrou cheio de misericórdia pelos pequenos e pobres, doentes e pecadores. Por isso a Igreja reza em sua liturgia na Oração Eucarística VI-D: “Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos (ãs); inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos e fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos no serviço a eles” (cf. DGAE, 103).
As Diretrizes lembram o documento papal Gaudete et Exsultate, do santo padre Francisco sobre a chamada à santidade no mundo atual, número 76, que diz que “saber chorar com os outros é santidade”. Não sejamos uma Igreja que não chora diante dos dramas dos seus filhos. Nós queremos chorar para que a sociedade também seja mais maternal para que, em vez de matar, aprenda a dar à luz (cf. DGAE, 104).
O número 172 relembra as Palavras dos padres conciliares na Constituição Gaudium et Spes que escreve na abertura: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo e nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco em seu coração” (GS, proêmio, n.1). Todas as pessoas, especialmente quando feridas pelas marcas da cultura de morte que existe devido ao pecado, estejam no âmbito do nosso olhar pastoral, dizem as diretrizes.
No número 105 das DGAE ainda diz assim: “A Igreja anuncia o Evangelho da Paz, que é Jesus Cristo em pessoa. A justiça é fidelidade à vontade de Deus e se concretiza especialmente no compromisso com os excluídos e demais marginalizados que vivem nas periferias. Anunciar Jesus é ensinar o que ele nos mandou: “aprendei a fazer o bem, buscai o direito, socorrei ao oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva” (Is 1,17).
A evangelização do mundo urbano não pode prescindir da questão do trabalho. A solidariedade com quem sofre as consequências do desemprego e do trabalho precário é, pois, uma expressão importante de caridade, devendo se manifestar pela atuação organizada dos cristãos leigos e leigas. Igualmente a caridade se expressa no empenho e na atuação política dos cristãos e das comunidades cristãs. A boa política é um meio privilegiado para promover a paz e os direitos humanos fundamentais. A omissão dos cristãos neste campo traz gravíssimas consequências para a ação transformadora na Igreja e no mundo (CNBB Doc 105 cap. III).
Fonte: Vatican News
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.