Por Dom Alberto Taveira
Bispo da Arquidiocese de Belém/PA
O grande Papa São João Paulo II, ao terminar o Grande Jubileu, quando pareciam limitadas as suas forças, ao invés de ficar estancado diante dos grandes problemas da humanidade, estimulou a Igreja e todas as pessoas de boa vontade, com palavras fortes na Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (1): “Quando se encerra o Grande Jubileu, em que celebramos os dois mil anos do nascimento de Jesus, e um novo percurso de estrada se abre para a Igreja, ressoam no nosso coração as palavras com que um dia Jesus, depois de ter falado às multidões a partir da barca de Simão, convidou o Apóstolo a ‘avançar para águas mais profundas’ para a pesca (Lc 5, 4). Pedro e os primeiros companheiros confiaram na palavra de Cristo e lançaram as redes. ‘Assim fizeram e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam’ (Lc 5, 6). ‘Avança para águas mais profundas’! Estas palavras ressoam hoje aos nossos ouvidos, convidando-nos a lembrar com gratidão o passado, a viver com paixão o presente, abrir-se com confiança ao futuro: ‘Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre’ (Hb 13, 8)”. À distância de tantos anos, maiores são os desafios e maior a confiança que deve brotar em nós, justamente quando a Igreja proclama o mesmo texto de São Lucas (Lc 5, 1-11) na liturgia que estamos para celebrar neste final de semana.
O sucessor de Pedro, Papa Francisco, lança continuamente apelos à Igreja para que se ponha em marcha, com nova coragem e novas energias. A América Latina e o Caribe celebraram a Primeira Assembleia Eclesial do Continente, como desejo de reavivar o espírito da Conferência de Aparecida e na perspectiva do Jubileu Guadalupano de 2031, assim como o Jubileu da Redenção em 2033, numa magnífica experiência de sinodalidade – caminhar juntos – para “comunicar por um transbordamento de alegria a alegria do encontro com Jesus Cristo, para que nele tenhamos vida plena” (Conferência de Aparecida). No horizonte, aflora a realização do Sínodo, convocado pelo Papa para 2023, com um significativo processo de participação e corresponsabilidade. E nossa Igreja de Belém, após um intervalo suscitado pela pandemia, retoma agora o caminho de seu Primeiro Sínodo Arquidiocesano, com o tema “Belém, Igreja de portas abertas” e o lema “A cidade de encheu de alegria”. Tudo isso na tarefa de repensar e relançar a missão evangelizadora, num caminho de conversão missionária e maior responsabilidade pastoral.
“A sinodalidade é o caminho, algo que pertence à essência da Igreja, e é por isso que se insiste que ‘não é uma moda passageira ou um slogan vazio’. É algo que nos fez aprender a caminhar juntos, envolvendo a todos. Agora é uma questão de levá-lo às comunidades, às bases, e assim se mostra o compromisso de seguir o caminho, aprendendo e criando, em um itinerário pastoral que busca a conversão missionária e sinodal. Podemos dizer que o caminho foi traçado, agora precisamos da coragem de enfrentá-lo, sem esquecer algo que não é negociável: todos temos que estar juntos”. Assim se expressou a mensagem final da grande Assembleia Eclesial.
A atividade evangelizadora da Igreja exige continuamente um chamado à unidade. E é uma graça especial para nós cristãos termos um ponto de construção dessa unidade, que é o sucessor de Pedro, nosso Papa Francisco, com a missão atual de ser “pescador de homens”, tarefa que, na devida proporção, deve ser de cada cristão. Com ele, desejamos percorrer juntos o caminho.
O Pedro de então, pescador profissional, acolhe a palavra de um carpinteiro, que não tinha nada de pescador. Tudo começa com um ato de fé! “Mestre, trabalhamos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, pela tua palavra, lançarei as redes” (Lc 5, 5). Jesus é Mestre e Senhor, e Simão Pedro percorre mais uma etapa de sua vocação. Não lhe bastou deixar as redes para ir atrás de Jesus! Ele deve lançá-las de novo e de um modo diferente. A lógica de Deus tantas vez nos surpreende, pois somos chamados a apostar tudo na palavra de um outro! O Pedro de hoje é muitas vezes criticado e questionado, julgado e desrespeitado. Entretanto, se queremos ser católicos, é na força de sua fé e convicção que deveremos lançar as redes outra vez. E não basta fazer as mesmas coisas e assumir as mesmas atitudes. É hora de descobrir novos caminhos, nova linguagem, nova postura, sem perder a fidelidade àquilo que é essencial em nossa fé. Lançadas as redes, o milagre acontece. Quem aposta na unidade com o Papa experimentará os frutos, pois verá suas palavras e atitudes incidirem no coração das pessoas.
Simão Pedro se declarou pecador, pedindo até que o Senhor se afastasse dele. Não foram poucas as vezes em que o Papa Francisco, nosso Pedro de hoje, afirmou ser frágil e pecador, como todos nós o somos. Várias vezes a imprensa estampou imagens do Papa na Basílica de São Pedro dirigindo-se a um confessionário! E alguém pode perguntar a respeito da infalibilidade do Papa! Ele é infalível quando proclama uma verdade de fé, exercendo o ministério petrino que lhe foi confiado. Como pessoa humana, carece do perdão, por ser pecador e frágil como qualquer pessoa. Isso nos é altamente consolador, inclusive para que ninguém dê desculpas quando chamado a uma tarefa na Igreja. E todos os sucessores de Pedro são chamados a deixar tudo para ser pescadores de homens, e impressiona o modo com que o Papa Francisco realiza este serviço, sendo o primeiro numa Igreja em saída, com espírito missionário e disposição para o diálogo com o mundo inteiro.
A unidade se realiza em cada Igreja Particular, em cada Paróquia ou Comunidade, nas Pastorais, nos Movimentos Eclesiais. Todos os cristãos, e pensemos em nossa Arquidiocese, haverão de reconhecer, malgrado a fragilidade que existe também no seu Pastor e Bispo, que ele é o ponto de referência de unidade. Se não se vê o Bispo com espírito de fé, nem mesmo será possível ajudá-lo na superação de fraquezas ou correção de rumos, coisa que cada cristão pode e deve fazer, com espírito de caridade. Nossa Igreja se comprometa mais e mais, neste tempo de Sínodo, com o espírito de unidade e comunhão!
Fonte: CNBB Norte 2