Pensamento inclusivo

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por Pe. Johan Konings

 

A cristandade tradicional caracterizava-se por atitudes exclusivistas. Só a Igreja católica estava certa… Dizia-se que quem morre fora da Igreja católica vai ao inferno. (Deveria ser mandado ao inferno quem fala assim…)

O evangelho conta um episódio que nos ensina o contrário. Os discípulos ficam nervosos porque alguém anda expulsando demônios no nome de Jesus, sem fazer parte do grupo deles. Naquele tempo, todo tipo de tratamento sugestivo estava na moda, como hoje. Visto que Jesus era o sucesso do momento, alguns que não eram de seu grupo usavam seu nome para expulsar uns demoniozinhos. Que mal havia nisso? Nenhum, mas os discípulos queriam direitos autorais!

A liturgia ilustra o problema com outro episódio. O povo de Israel andando pelo deserto, o Espírito desce sobre a assembleia dos anciãos. Mas dois não foram à assembleia e receberam o Espírito assim mesmo. Os outros reclamam. Então, Moisés responde: “Oxalá todo o povo de Deus profetizasse e Deus infundisse a todos o seu espírito” (1ª leitura).

Nem todos os cristãos são tão mesquinhos assim que pretendem reservar para a própria agremiação os dons de Deus. Desde o Humanismo, bem antes do Concílio Vaticano II, os educadores cristãos ensinavam que os pagãos Platão e Virgílio eram profetas, pois anunciaram coisas que, depois, se verificaram em Jesus. Houve até quem chamasse Karl Marx de profeta (com menos mérito, pois viveu bem depois de Jesus e repetiu muita coisa que Jesus e a Bíblia disseram antes dele…). As coisas boas que esses pagãos falaram não deixaram de ser um testemunho a favor de Jesus.

“Quem não é contra nós está em nosso favor” (Mc 9,40). Esta é a lição (Jesus disse também: “Quem não está comigo é contra mim”, Mt 12,30, mas isso, em caso de conflito e perseguição).

O nome de Jesus representa o Reino do Pai. O nome de Jesus se liga a uma realidade nova, a vontade de Deus. “Ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois sair falando mal de mim” (Mc 9,39). Por tudo aquilo que ele disse e fez, pelo dom da própria vida, Jesus ligou a seu nome a nova realidade que se chama o “Reino de Deus”. Quem consegue usar o nome de Jesus como força positiva certamente colabora de alguma maneira com o Reino.

Não é preciso ser católico batizado para colaborar com os valores do evangelho. Os primeiros missionários no Brasil ficaram cheios de admiração porque os índios pagãos pareciam ter mais valores evangélicos que os colonos portugueses escravocratas. O testemunho do evangelho pode existir fora da comunidade cristã, e nós devemos alegrar-nos por causa disso.

Então, em vez de dizer que fora da Igreja não há salvação, vamos dizer: tudo o que salva expande o que estamos fazendo na Igreja. Pensamento inclusivo.

Fonte: franciscanos.org.br


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

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