Pastoral juvenil e sinodalidade

Imagem de Mariana Yarritu em Cathopic

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA

 

Introdução

O tema sinodalidade tem sido objeto de constante e de mais intensa reflexão nos últimos anos. Na Constituição Apostólica Episcopalis Communio o Papa Francisco afirma que Cristo fala através de todo o povo de Deus, na totalidade dos fiéis, que receberam a unção do Santo, aquele que é a fonte da Sabedoria e que nos ensina (cf. 1Jo 2,20.27), por isso a Igreja não pode enganar-se na fé. A Igreja mantém-se aberta e atenta à voz do Espírito que fala através da voz das ovelhas de muitas formas, como por exemplo, por meio dos diversos organismos eclesiais (cf. Episcopalis Comunio, 5).

A Igreja é constituída por muitos membros, mas formamos um só corpo (cf. Rm 12,4-5). Os membros da Igreja, são sujeitos portadores de variadas vocações, carismas, ministérios e, dentro de cada ministério, há uma multiplicidade de atividades e serviços concretos.

Os sujeitos eclesiais vivem em diversos contextos, com múltiplas sensibilidades de acordo com a própria condição existencial, vocação, carisma e missão; podem ser crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos; todos são chamados à comunhão unidos a mesma cabeça, que é Jesus Cristo. Somos uma família que deve crer, viver, trabalhar e caminhar juntos!

Na multiplicidade das categorias dos sujeitos eclesiais encontramos os jovens. Eles são portadores de grandes talentos, carismas, ideias, sensibilidades e, por isso, tem muito para enriquecer a Igreja. A promoção de uma pastoral juvenil na perspectiva sinodal nos desafia a pensar em muitas questões. A sinodalidade tem diversas dimensões, depende de muitos fatores e nos desafia a cultivar uma variedade de olhares e iniciativas.

 

  1. Cultivar a escuta, a empatia e a compaixão para com a situação existencial dos jovens. Quando a realidade juvenil não é vista, conhecida e acolhida, o tratamento dispensado aos jovens tende a ser frio; isso significa que não podemos pensar em respostas globalizadas para os problemas juvenis.
  2. Levar em conta a diversidade de situações existenciais presentes na pluralidade dos contextos juvenis: na área urbana (centro e periferia), rural, ribeirinha, indígena, afrodescendente etc. Temos muitas situações existenciais juvenis negativas: drogadição, criminalidade, vazio existencial, desânimo, descrença, pobreza, desemprego… Esses fenômenos atingem a vida pessoal, os amigos, a família, o mundo do lazer, a educação, do trabalho, as comunidades… etc. Também devemos considerar o grande potencial positivo dos jovens: a alegria, a sensibilidade, o entusiasmo, a criatividade, a adaptabilidade, abertura ao novo, a propositividade etc.
  3. Favorecer a sintonia com magistério da Igreja e do Papa Francisco; nestes últimos anos o magistério da Igreja em diversos níveis nos ofertou muitos documentos com fortes estímulos para a pastoral juvenil: Aparecida, Evangelii Gaudium, Christus Vivit, Gaudete et Exsultate, Amoris Laetitia, Laudato Sí, Querida Amazônia, Fratelli Tutti… etc. Em todos esses documentos encontramos muitas pistas para a pastoral juvenil e convites à experiências, tais como: a economia de Francisco, o Pacto Educativo Global, o voluntariado, a amizade social, a missionariedade, Leitura Orante etc.
  4. Estimular o encontro e a amizade entre a diversidade das expressões juvenis: há muitos carismas, sensibilidades, organizações juvenis; é preciso que todos sejam estimulados a assimilar os mesmos princípios pastorais, a sentirem-se caminhando com a Igreja, sem paralelismo pastoral, ou à margem dos grandes anseios eclesiais.
  5. Promover uma pastoral juvenil dentro da pastoral de conjunto em profundo diálogo com as outras pastorais, sobretudo, aquelas com mais afinidade com a pastoral juvenil como por exemplo, a pastoral catequética, a pastoral familiar, a pastoral universitária etc.
  6. Restaurar a dimensão juvenil de todas as pastorais, grupos, movimentos e ministérios dentro das paróquias. O fechamento das forças vivas em nível paroquial, consequentemente, gera o envelhecimento da pastoral juvenil que, por sua vez, atrofia a renovação e o crescimento da Igreja. Todas as forças vivas são convocadas à revitalização e rejuvenescimento motivando, convocando e envolvendo os jovens em suas atividades.
  7. Promover a cultura projetual na pastoral juvenil em todos os níveis, contextos e expressões, considerando os mesmos princípios universais da Igreja na atualidade; há grandes temas para serem refletidos e vividos por todos os sujeitos eclesiais: ser Igreja em saída, a conversão pastoral, a sinodalidade…; cada expressão juvenil e níveis de organização deveria ter um projeto de desenvolvimento e fortalecimento da pastoral juvenil.
  8. A sinodalidade da pastoral juvenil deve considerar a necessidade do uso de novos meios, metodologias pastorais, experiências, atividades, ambientes pastorais; nesse horizonte está o uso das redes sociais, a virtualidade, o lazer, as artes, o entretenimento…
  9. Promover o acompanhamento, a experiência de processos e a sensibilidade para com a questão do projeto de vida; caminhar juntos pressupõe a fé nos mesmos ideais fundamentais: o Reino de Deus, a santidade, a vida eterna.
  10. Formar para o protagonismo juvenil partindo do treinamento de líderes estimulando a assimilação de princípios como comunhão, corresponsabilidade, colegialidade, convergência, sentido de pertença, fraternidade, cooperatividade, trabalho em equipe (ação conjunta).
  11. Promover e reforçar o conhecimento da Cristologia e da Eclesiologia. Para isso é de fundamental importância estimular os jovens a conhecer os Evangelhos e o dinamismo de vida das primeiras comunidades através da leitura dos Atos dos apóstolos. A ignorância sobre Cristo, gera a ignorância sobre a Igreja. Permanecer no amor e na comunhão é impossível sem a comunhão com Jesus Cristo. Hoje há um mercado muito grande sobre modelos de cristos e de igrejas, que gera confusão na mente dos jovens. Isso requer séria catequese (IVC). “CRISTO VIVE: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida… Ele vive e quer-te vivo! Está em ti, está contigo e jamais te deixa. Por mais que te possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a força e a esperança” (CV, 1-3). É preciso conhecê-lo!!!
  12. Investir na formação humana e espiritual. Muitas vezes, a comunhão na pastoral juvenil fica comprometida por causa das lacunas humanas e deficiências na vida espiritual que gera preconceitos, desconfiança, individualismo, intimismo, brigas, discriminação, isolamento, polarização, vaidade… A resposta para esses problemas está na formação humana que proponha a reflexão sobre a acolhida da diversidade, a gestão de problemas, a experiência do perdão, a paciência, a visão de processos, a colaboração, resiliência etc. É preciso também a formação espiritual que promova a experiência da mística, que estimule os jovens a conhecer e a amar a Igreja, a vivenciar os sacramentos e a buscar da santidade. Não há pastoral sem o ideal da santidade, a pastoral é meio de santidade.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. A sua paróquia está a devida atenção aos jovens? Há jovens nos Conselhos Paroquiais?
  2. As diversas forças vivas da sua paróquia estão sendo sensíveis aos jovens?
  3. O que significa “pastoral de conjunto”?

Fonte: CNBB Norte 2

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