Por Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Podemos dizer que soberano mesmo é Deus. Ele é investido de sabedoria divina, mas que se tornou humana em Jesus Cristo, preocupado com o bem-estar social, com a dignidade das pessoas, tendo uma preferência especial para quem sofre limitações físicas, sociais, falta de segurança alimentar e as carências que dificultam a soberania de vida sadia, com a condição de dignidade humana.
O sentido da Páscoa está enraizado no Senhor e Cristo Bom Pastor, naquele que acolhe o ser humano para lhe dar soberania. Mas, ao buscar o conceito de soberania, aparece: “A soberania é uma autoridade superior que não pode ser restringida por nenhum outro poder e, portanto, constitui-se como o poder absoluto de ação legítima no âmbito político e jurídico de uma sociedade”.
Soberania não significa imposição, uma ação arbitrária em relação aos “súditos”, mas capacidade de resgatar a dignidade das pessoas sob os cuidados da autoridade soberana. É uma ação pascal, quando refletida a partir da Pessoa e da vida de Jesus Cristo, que agiu soberanamente em relação aos seus seguidores. Portanto, ser soberano é uma dignidade capaz de realizar uma cultura fraterna.
No mundo muito desfigurado pela escravidão e submissão, possibilitando construir uma sociedade marcadamente doente, a própria soberania fica também desfigurada e perde sua viabilidade como instrumento de humanização. Esse fato toca no mundo da administração pública, onde se deveria agir com soberania, a ação se transforma em guetos fechados por interesses egoístas pessoais.
Uma verdadeira soberania seria porta aberta para a vida. É a história do pastor com seu rebanho, porque tem a capacidade do cuidado, de olhar para as ovelhas mais fragilizadas, discriminadas e passíveis de sofrimento. Jesus foi pastor, como porta de entrada do rebanho, diferente de salteadores e causadores de maus tratos. Muitos entram pelas portas dos fundos, por falta de soberania.
Na Páscoa, importam as ações positivas que passam pela vida e a prática de Jesus Cristo, para se ter acesso ao Pai, como caminho de soberania individual. A questão é a escolha do caminho certo, que pode acontecer também através da ação social e política. A meta é atingir uma soberania nacional capaz de proteger o bem-estar social, para que todos tenham vida em abundância (cf. Jo 10,10).
Fonte: CNBB