Por Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Começo com uma pergunta: quem não quer ser feliz? Nem é preciso responder, porque a resposta já está gravada no ser da pessoa. Mas devemos entender bem essa realidade, ter consciência de que a felicidade vem de dentro e não das coisas periféricas, de bem-estar, de aliviar sofrimento ou conseguido algum interesse. Nem todos chegam à paz interior, mesmo quem realizou o que queria.
Felicidade e paz interior são frutos de estados emocionais, construídos através da experiência autêntica de vida e fortalecidos ainda pela prática da fé. O acúmulo de bens materiais não consegue realizar a pessoa plenamente, porque estará sempre insatisfeita e em busca do que ainda não conseguiu. Numa nomenclatura baseada na fé, dizemos que a felicidade e a paz significam vida de santidade.
A felicidade, como privilégio de quem a detém, depende essencialmente de serena e equilibrada esperança e de uma mente emocional dominada, mesmo estando em tempo de provações e sofrimento. Nem tudo é vitória, mas cada ato precisa contribuir para a construção de um ambiente feliz. É nestas condições que está ancorada a proposta do projeto proclamado na Palavra de Deus.
Existe um confronto permanente entre o desejo premente de felicidade pessoal e a cultura da hostilidade, também fortemente presentes na realidade atual. Diante disso, a proposta de Jesus é o surgimento de um mundo novo, onde a felicidade deverá ser sem fim, mas depende da pessoa reconhecer os sinais de sua chegada. Supõe ainda fidelidade e compromisso com a verdade e a justiça.
Vemos muito desânimo, cansaço e fragilidade das pessoas mediante os enfrentamentos, adversidades e dinâmica do egoísmo presentes na sociedade. Elas ficam fragilizadas e impotentes para agir. O caminho possível de superação é a comunhão com Deus, que acontece quando há consciência de pertença à família divina, porque aí as pessoas experimentam a força da solidariedade fraterna.
A sociedade hodierna vive as tensões e as consequências provocadas pela crescente agressividade da força do mal. É quase impossível ser feliz convivendo com um clima de insegurança, medo e violência. São sombras fortes que atingem e desafiam a todos, que evidenciam o quanto a pessoa humana é limitada e incapaz para ser feliz sozinha. Precisa saber que só Deus é o Senhor da história.
Fonte: CNBB