Para adquirir fortaleza

Foto: Tati Restrepo em Cathopic

Pode-se dizer que há três “forças” com as quais podemos conquistar a virtude da fortaleza. Não só com uma ou duas delas, mas com as três.

 

1ª)  A força do ideal

Só pode ter a virtude cristã da fortaleza – ser corajoso para lançar-se, e ser firme para aguentar – aquele que possui um motivo poderoso, um ideal pelo qual valha a pena viver e morrer.

Numa sala da sede central do Opus Dei em Roma, São Josemaria mandou colocar, como sanefa junto ao teto, a seguinte frase várias vezes repetida: “Vale a pena, vale a pena…”. Um visitante perguntou-lhe por que estava tão repetida, e ele respondeu: «Porque mesmo assim há alguns que não percebem isso».

Uma vida sem ideal é triste, facilmente se decompõe e afunda na moleza. Nietzsche dizia (e desta vez acertou): «quando se tem algum “porquê”, qualquer “como” se pode suportar».

É penoso ver tanta gente sem “porquê”. «Não desejaríeis gritar à juventude que fervilha à vossa volta – escrevia São Josemaria –: Loucos! Largai essas coisas mundanas que amesquinham o coração e muitas vezes o aviltam…, largai isso e vinde conosco atrás do Amor?» (Caminho, n. 790).

O Amor, com maiúscula, esse é o grande ideal do cristão. Aquele que o conhece, que o assume, e que ganha entusiasmo por ele, renova suas forças, cria asas como de águiacorre e não se afadiga, anda, anda e nunca se cansa (Is 40,31).

Quem conhece Cristo, quem se enamorou dele e dele fez seu ideal (pois isso é ser cristão), entende por experiência estas palavras do Cântico dos Cânticos: O amor é forte como a morte…, suas chamas são chamas de fogo, labaredas divinas. Águas torrenciais não puderam extinguir o amor (Ct 8,6-7).

2ª) A segurança da fé

«Alguns passam pela vida como por um túnel, e não compreendem o esplendor e a segurança e o calor do sol da fé» (Caminho, 575).

Queremos ver ao vivo esse “esplendor, segurança e calor” da fé? Ouçamos as experiências de São Paulo, exemplo impressionante de coragem, constância e paciência.

Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? … Mas em todas essas coisas somos mais que vencedores pela virtude do que nos amou! (Rm 8, 35.37).

Será que era um otimista por natureza? Não. Elem conhecia bem a sua fraqueza. Na mesma carta ao romanos, falava dela: Quem me livrará deste corpo de morte? (Rom 7,4). E também escreveu aos coríntios, contando-lhes a sua incapacidade de superar uma dificuldade – tudo indica que era uma doença – que o limitava e, às vezes, o prostrava, atrapalhando o seu trabalho. Sentindo-se incapaz de vencer esse mal, dirigiu a Cristo uma oração cheia de humildade e de fé: Por três vezes pedi ao Senhor que o apartasse de mim. Mas ele disse-me: “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a minha força se revela totalmente” (2 Cor 12,8-9).

Depois disso, São Paulo escrevia: Alegro-me nas minhas fraquezas…, pois, quando me sinto fraco, então é que sou forte (Ibidem, 12, 10). E, com o coração cheio de confiança em Deus, desafiava as provações e contrariedades: Tudo posso naquele que me dá força! (Fl 4,13).

Esta é a grande “fonte” da fortaleza cristã: a confiança total em Deus – porque Tu és, ó Deusa minha fortaleza (Sl 42 [43],2) – , manifestada na oração cheia de fé e constância, e na luta esforçada por corresponder à ajuda divina. Essa luta, é precisamente a terceira força para ganhar fortaleza.

3ª) A têmpera do sacrifício

A virtude humana da fortaleza – como todas as virtudes morais – consolida-se e cresce com o nosso esforço repetido. Já víamos que o Catecismo frisa que «as virtudes morais são adquiridas humanamente …, por atos deliberados, … com todas as forças sensíveis e espirituais» (nn. 1804, 1808, 1803). Quando lutamos com fé e amor, a graça do Espírito Santo as sobrenaturaliza (cf. capítulos 9 e 10).

A luta por fazer «atos deliberados» da virtude da fortaleza exige necessariamente o sacrifício, a mortificação da moleza e das outras fraquezas que considerávamos no capítulo anterior. Mais uma vez, é preciso repetir: «Onde não há mortificação, não há virtude» (Caminho, n. 180).

Se queremos ser fortes, contemos em primeiro lugar com a fortaleza de Deus, e depois descubramos– com generosidade, sem medo − as mortificações concretas de que precisamos  para vencer a moleza de caráter e a falta de espírito de sacrifício.

Podem servir de orientação os seguintes pensamentos de Caminho:

• «Acostuma-te a dizer que não» (n. 5). Naturalmente trata-se agora do “não” que dizemos às tentações da facilidade, que querem deixar de lado o cumprimento do dever.

• «Vontade. – Energia. – Exemplo. – O que é preciso fazer, faz-se… Sem hesitar… Sem contemplações» (n. 11). Ou seja, sem concessões nem desculpas, por mais “razoáveis” que pareçam.

• «As tuas grandes covardias de agora são – é evidente – paralelas às tuas pequenas covardias diárias. “Não pudeste” vencer nas coisas grandes, porque “não quiseste” vencer nas coisas pequenas» (n. 828).

• «Vontade. É uma característica muito importante. Não desprezes as pequenas coisas, porque, através do contínuo exercício de negar e negares-te a ti próprio nessas coisas − que nunca são futilidades nem ninharias −, fortalecerás, virilizarás, com a graça de Deus, a tua vontade, para seres, em primeiro lugar, inteiro senhor de ti mesmo. − E depois, guia, chefe, líder! − que prendas, que empurres, que arrastes, com o teu exemplo e com a tua palavra e com a tua ciência e com o teu império (n. 19).

Questionário sobre a aquisição da fortaleza

─ Vivo aberto a grandes ideais, mesmo que me veja fraco, porque tenho a consciência de que Deus não chamou ninguém à mediocridade, mas à santidade?

─ Já tenho alguma experiência da força que o amor, sobretudo o amor a Deus, pode infundir à vida, transformando uma pessoa amorfa em alguém dinâmico, esforçado, criativo e generoso?

─ Percebo que serei fraco na medida em que for egoísta. Mesmo na vida espiritual cristã, se só cuido de eu ser melhor, mas não me “dou”, não me “entrego” ao serviço dos demais, muitas das minhas virtudes serão mais aparentes que reais?

─ Confio em Deus? Lembro-me de que Cristo insistiu na necessidade da oração, para recebermos as graças de que necessitamos, e nos mandou pedir com humildade e perseverança, confiando plenamente em  nosso Pai Deus?

─ Peço a fortaleza que me falta, ao mesmo tempo em que me esforço por conquistá-la?

─ Fico pessimista ao ver as minhas dificuldades e fracassos? Compreendo que, se perseverar na oração e no esforço, poderei dizer como São Paulo: “Tudo posso naquele que me dá força”?

─ Sou generoso nas mortificações necessárias para ir desgastando, vencendo aos poucos as minhas fraquezas? Compreendo que, neste ponto, a constância, a “perseverança sempre retomada com esforço” de que fala o Catecismo, é fundamental?

─ Dou valor às mortificações pequenas, que tanto ajudam a temperar, a fortalecer o caráter, por exemplo: ser pontual, especialmente na hora de levantar e nos horários de trabalho e de estudo; ser equilibrado e sóbrio na comida e na bebida, e também ser controlado no uso de aparelhos eletrônicos; esforçar-me por evitar “o ar de cansado” ou de “aborrecido”, etc.?

─ Desprezei sacrifícios pequenos (como ter detalhes amáveis com os outros, prestar pequenos serviços, cuidar melhor as coisas materiais), com a desculpa e que “não têm importância”, quando na realidade, não era questão de importância mas de moleza?

Conclusões (Procure tirar as suas conclusões e anotá-las)

Fonte: Padre Francisco Faus

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