Fechar-se na fortaleza impenetrável das convicções e esquemas rígidos, realizando práticas religiosas que apenas servem para confirmar o que já se pensa, impede um diálogo sincero, uma aproximação entre irmãos e de encontrar verdadeiramente o Senhor”, foi o que disse em síntese o Papa Francisco em sua alocução antes de rezar o Angelus neste XIX Domingo do Tempo Comum.
Silenciar e colocar-se à escuta de Deus, acolhendo a sua voz para além dos nossos esquemas e superando os medos com a sua ajuda.
Antes de rezar o Angelus com os peregrinos reunidos na Praça São Pedro sob um calor de 36°C, o Papa comentou o Evangelho de João proposto pela liturgia do XIX Domingo do Tempo Comum, que fala da reação dos judeus à afirmação de Jesus: “Desci do céu”, “se escandalizam”!
Eles se perguntam como é possível que um filho de um carpinteiro, cuja mãe e parentes são pessoas comuns, conhecidas, normais, como tantos outros, poderia ter “descido do céu”, em outras palavras, de “como Deus poderia se manifestar de forma tão comum?”. E Francisco explica:
Eles estão bloqueados na própria fé, pelo preconceito, bloqueados pelo preconceito em relação às suas origens humildes e também bloqueados pela presunção, portanto, de não terem nada a aprender d’Ele. Os preconceitos e a presunção, quanto mal fazer! Impedem um diálogo sincero, uma aproximação entre irmãos. Estejamos atentos aos preconceitos e à presunção. Eles têm seus próprios esquemas rígidos e não há espaço em seus corações para o que não tem a ver com eles, para o que não conseguem catalogar e arquivar nas estantes empoeiradas de suas seguranças.
No entanto – observou o Papa – “são pessoas que observam a lei, dão esmolas, respeitam os jejuns e os momentos de oração”. E mesmo Cristo tendo realizado vários milagres, isso “não os ajuda a reconhecer n’Ele o Messias”. Por quê?
Porque realizam as suas práticas religiosas não tanto para ouvir o Senhor, mas para encontrar nelas a confirmação do que pensam. São fechados à Palavra do Senhor e buscam uma confirmação para os próprios pensamentos. Isto é demonstrado pelo fato de sequer se preocuparem em pedir uma explicação a Jesus: limitam-se a murmurar entre si a respeito dele, como que para se tranquilizarem, uns aos outros, sobre aquilo de que estão convencidos, e se fecham, são fechados como que em uma fortaleza impenetrável. E assim não conseguem acreditar. O fechamento do coração, quanto mal faz, quanto mal faz!
E isso – observou o Papa – pode acontecer também a nós, na nossa vida de fé e na nossa oração:
Pode acontecer-nos, isto é, que em vez de ouvirmos verdadeiramente o que o Senhor tem para nos dizer, nós buscamos d’Ele e dos outros somente uma confirmação daquilo que pensamos, uma confirmação das nossas convicções, nossos juízos, que são pré-conceitos. Mas este modo de nos dirigirmos a Deus não nos ajuda a encontrar Deus verdadeiramente, nem a abrir-nos ao dom da sua luz e da sua graça, para crescer no bem, para fazer a sua vontade e para superar os fechamentos e as dificuldades.
“A verdadeira fé e oração, quando são verdadeiras, abrem a mente e o coração, não os fecham. Quando encontras uma pessoa que na mente, na oração, são fechadas, essa fé e essa oração não são verdadeiras.”
Então, o convite do Santo Padre a nos perguntarmos:
Na minha vida de fé, sou capaz de realmente fazer silêncio dentro de mim e de me colocar na escuta de Deus? Estou disposto a acolher a sua voz para além dos meus esquemas e superar também, com a sua ajuda, os meus medos?
Que Maria – disse ao concluir – nos ajude a ouvir com fé a voz do Senhor e a fazer com coragem a sua vontade.
A oração do Papa pelas vítimas de acidente aéreo em São Paulo
O acidente aéreo na tarde de sexta-feira, em São Paulo, matou 62 pessoas, sendo o mais grave desde 2007, quando uma aeronave da TAM não conseguiu pousar na pista do Aeroporto de Congonhas e bateu no prédio da TAM Express, provocando a morte de 199 pessoas.
“Rezemos também pelas vítimas do trágico acidente aéreo ocorrido no Brasil”. Com essas palavras, pronunciadas diante de uma multidão reunida na Praça São Pedro, inclusive um grupo de brasileiros com bandeiras verde-amarelas, a quem pediu que não esquecessem de rezar por ele, o Papa Francisco expressou sua proximidade às vítimas do acidente aéreo ocorrido na tarde de sexta-feira, 9, em Vinhedo, que matou os 58 passageiros e 4 tripulantes a bordo do voo 2283.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Com informações da Vatican News