De Daejeon chega o testemunho do Padre Cazzolato, missionário da Consolata, há 10 anos da visita de Francisco para a VI Jornada da Juventude Asiática. Ele ilustra o trabalho de proximidade aos novos pobres e migrantes, que chegam especialmente das Filipinas e da Nigéria, além do compromisso com o diálogo inter-religioso e a esperança de que, com a JMJ 2027 em Seul, as novas gerações encontrem estabilidade, acompanhamento e direcionamentos atentos.
Redescobrir o impulso que o Papa Francisco imprimiu na população da Coreia do Sul, por ocasião da viagem que, há 10 anos, de 13 a 18 de agosto de 2014, o levou àquela região do mundo para a VI Jornada da Juventude Asiática. Essa é a mensagem que hoje o Padre Diego Cazzolato, missionário da Consolata há mais de 30 anos no país asiático, compartilha com a Rádio Vaticano – Vatican News.
Desde o desafio do diálogo inter-religioso, até o de apoiar os novos pobres, os muitos migrantes que chegam das Filipinas, mas também da Nigéria, o trabalho desses religiosos mantém viva a esperança de reconciliação interna e de fraternidade universal.
O consolo de Francisco e as muitas conversões
O Pe. Cazzolato vive em Daejeon desde 1988 e se lembra muito bem dos momentos em que teve a oportunidade de encontrar o Papa naquela viagem apostólica: na missa no estádio, depois em um grande centro para deficientes e na celebração de encerramento. “Foi muito bonito porque alguns meses antes havia acontecido uma grande tragédia que abalou profundamente o coração dos coreanos. Havia uma balsa que transportava estudantes do ensino médio que estavam indo para uma viagem a uma ilha semitropical no sul da Coreia. Por causas ainda não totalmente identificadas, o navio afundou e 360 rapazes e moças com idades entre 17 e 18 anos morreram. Com sua chegada, o Papa conseguiu restaurar a paz e a esperança de todas as pessoas. Foi uma visita providencial”.
O religioso ainda continua satisfeito com a bela maneira pela qual a televisão nacional transmitiu esses momentos em sua totalidade, com os gestos e as palavras de Francisco, que também quis se encontrar com alguns pais dos jovens afogados. “Ele conseguiu dar um certo consolo ao país e todos ainda reconhecem isso”, enfatiza. E observa que aquela foi uma ocasião propícia da qual nasceram muitas conversões: “houve um aumento considerável de catecúmenos, de fato vários ficaram muito tocados e decidiram se tornar católicos”.
A esperança de uma reconciliação
Na feliz lembrança que o padre tem daqueles dias, no entanto, há uma amargura, expressa sem pretensão, por uma espécie de oportunidade que “desapareceu” com o tempo: “naquela época, havia muita esperança de reconciliação entre as duas Coreias. O presidente católico que assumiu o poder naquela época fez tudo o que podia para abrir caminhos para o diálogo e oferecer oportunidades de união. Há alguns anos, infelizmente, esse trabalho de consertar as barreiras foi completamente destruído, especialmente pela atitude daqueles que governam a Coreia do Norte, mas também pelo governo atual, que reafirma a oposição à Coreia do Norte em vez da busca pela paz. Neste momento, eu diria que as relações estão em seu ponto mais baixo na história dos últimos 50 anos”.
Missionários entre migrantes, os “novos pobres”
O missionário italiano transplantado na Coreia, relata como a proximidade humana e espiritual com os coreanos mudou ao longo do tempo: “no início, nosso desejo era estar perto dos pobres, evangelizar os pobres. Conseguimos ter uma presença muito simples em um dos subúrbios da grande cidade de Seul, onde na época, os pobres se reuniam para viver em casas precárias, sem muitos serviços, mas com um mínimo de dignidade humana e econômica. Depois, os planos do governo para modernizar essas áreas, primeiro com as Olimpíadas de 88 e depois com a Copa do Mundo de 2002, efetivamente as desmantelaram e os pobres foram embora”.
A missão está, portanto, sendo reformulada e orientada para “os novos pobres”. Eles são os migrantes que, segundo o Padre Cazzolato, chegam de muitas partes do mundo em busca de alguma segurança econômica. “Eles são muitos! A maioria vem das Filipinas, depois um grande grupo vem da Nigéria. Da América Latina, especialmente do Peru, eles costumavam chegar mais no passado, mas agora quase todos foram repatriados. Depois, há do Sudeste Asiático: Vietnã, Timor-Leste, Camboja, Tailândia, alguns da Mongólia”.
A fronteira asiática onde o Papa retorna para estimular o diálogo
Sim, a Mongólia, aquela terra sem fronteiras para onde o Papa foi há exatamente um ano, confirmando seu desejo de abraçar igrejas pequenas, mas calorosas. O olhar constante sobre a fronteira asiática, para onde o Papa Bergoglio está prestes a retornar em setembro, “é importante porque se faz presente nas periferias, porque é um sinal de entusiasmo. Estou muito interessado pela parada na Indonésia”, confidencia Cazzolato, “o país com o maior número de muçulmanos, onde as relações entre o cristianismo e o islamismo não são muito fáceis. Acredito que o Papa dará mais impulso ao diálogo”.
De diálogo o padre entende: é a isso que dedica a sua comunidade em Daejeon. “Entramos em contato com líderes e fiéis de outras religiões, especialmente budistas e confucionistas ou outras religiões nativas da Coreia. Tentamos criar relações de paz entre todos e buscar a verdade juntos”. Ele admite que, depois de uma temporada mais entusiasmada, agora estamos experimentando mais uma “maré baixa”, mas, segundo ele, “estamos avançando”.
Para a JMJ 2027, é necessária nova proposta aos jovens
O que aconteceu com aqueles jovens que há dez anos se encontraram com o líder da Igreja Católica universal na Coreia? O missionário não nega que hoje os jovens, em geral, “buscam a verdade fora das igrejas, das paróquias, dos templos budistas”. Ele expressa o estado de profunda preocupação que eles têm com seu futuro, com um emprego que não é mais tão seguro. Apesar dos altos níveis de progresso tecnológico que o país alcançou internacionalmente, as novas gerações “lutam para encontrar emprego, sentem-se bastante abandonadas pelos adultos e precisam urgentemente de guias capazes para apoiá-las. E devo dizer que nós, como cristãos, nem sempre somos capazes de suprir essa necessidade”.
A esperança está depositada nos preparativos para a JMJ 2027, que será realizada na Coreia e para a qual, diz o padre, muitas iniciativas estão sendo planejadas. “O mood entre os jovens é de grande desânimo. Esperamos restabelecer as relações com aqueles que se perderam nos últimos anos. Precisamos de uma proposta boa e séria”.
Antonella Palermo – Vatican News