“O Evangelho oferece hoje a cada um de nós a água viva que pode nos fazer tornar uma fonte de refrigério para os outros (…). Com a alegria de ter encontrado o Senhor poderemos saciar a sede dos outros; poderemos entender a sua sede e compartilhar o amor que Ele nos deu.”
Por Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
“Um dos encontros mais belos e fascinantes de Jesus”: com estas palavras o Papa começou sua alocução que precedeu a oração do Angelus deste III Domingo da Quaresma, inspirando-se no encontro de Jesus com a Samaritana, narrado no Evangelho de João (cf. Jo 4, 5-42).
Dirigindo-se aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro em um domingo primaveril, Francisco explica que “Jesus e os discípulos param perto de um poço em Samaria. Chega uma mulher e Jesus diz a ela: «Dá-me de beber»”. E é precisamente apartir destas palavras do versículo 8, “Dá-me de beber”, que o Papa desenvolve sua reflexão:
Contemplando esta cena – observou o Papa – cada um de nós pode dizer:
O Senhor, o Mestre, pede-me de beber. Tem, portanto, sede como eu? Tem a minha sede? Estás realmente perto de mim, Senhor! Estás ligado à minha pobreza, não consigo acreditar nisso… tiraste-me de baixo, do mais baixo de mim mesmo, onde ninguém me alcança.
A sede de Jesus, de fato, não é somente física, mas “expressa as aridezes mais profundas da nossa vida: é sobretudo sede do nosso amor. Ele é mais que (um) mendigo, é “sedento” de nosso amor. E surgirá no momento culminante da paixão, na Cruz; ali, antes de morrer, Jesus dirá: “‘Tenho sede'”:
Mas o Senhor, que pede de beber, é Aquele que dá de beber: ao encontrar a Samaritana, fala-lhe da água viva do Espírito Santo, e da Cruz sai do seu lado trespassado sangue e água. Jesus, sedento de amor, nos sacia de amor. E faz conosco como com a samaritana: vem ao nosso encontro na nossa vida quotidiana, partilha a nossa sede, promete-nos a água viva que faz brotar em nós a vida eterna.
O Papa destaca então um segundo aspecto do pedido “Dá-me de beber“:
E recordando que nossa casa comum também está exausta e sedenta, Francisco, pede para não esquecermos daqueles que não tem água para viver:
E – não esqueçamos – dá-me de beber é o grito de tantos irmãos e irmãs que não têm água para viver, enquanto se continua a poluir e desfigurar a nossa casa comum; e também ela, exausta e sedenta, “tem sede”, aquela sede de amor que o levou a descer, a rebaixar-se, a esse abaixamento para ser um de nós.
Diante desses desafios, afirmou o Santo Padre, “o Evangelho oferece hoje a cada um de nós a água viva que pode nos fazer tornar uma fonte de refrigério para os outros”:
E então, como a samaritana, que deixou o seu cântaro junto ao poço e foi chamar os habitantes da cidade, também nós não pensaremos mais somente em aplacar nossa sede, também a nossa sede intelectual ou cultural, mas com a alegria de ter encontrado o Senhor poderemos saciar a sede dos outros; dar sentido à vida dos outros, não como senhores, mas como servos desta Palavra de Deus que nos saciou, que continuamente nos sacia; seremos capazes de entender sua sede e compartilhar o amor que Ele nos deu.
Francisco disse então que lhe vinha de fazer a seguinte pergunta, a ele e a quem o ouvia:
Somos capazes de compreender a sede dos outros? A sede das pessoas, a sede de tantos da minha família, do meu bairro? Hoje podemos nos perguntar: tenho sede de Deus, e quero perceber que preciso do seu amor como da água para viver? E depois: eu que tenho sede, me preocupo com a sede dos outros, a sede espiritual, a material?
“Que Nossa Senhora – disse ao concluir – interceda por nós e nos ampare no caminho.”