Papa quer ir ao Canadá no contexto da questão indígena

Escola Residencial Kamloops Indian, em British Columbia, no Canadá, em meados de 1950 - Department of Indian Affairs and Northern Development/Library and Archives Canada

Francisco disse estar disposto a aceitar o convite do episcopado do país norte-americano, comprometido no processo de reconciliação com os nativos. As datas da visita serão oficializadas em breve.

 

Durante o Angelus de 6 de junho passado, Francisco compartilhou com a multidão sua consternação com as notícias dramáticas e rudes de algumas semanas antes. Uma escola católica, a Escola Residencial Indígena Kamloops, tornou-se um epicentro de horror quando uma vala comum com mais de 200 restos humanos de nativos canadenses foi descoberta, revelando um passado de repetidas crueldades. A descoberta levou o episcopado norte-americano a fazer um “mea culpa” imediato e a lançar uma série de projetos de apoio às comunidades indígenas, num processo de reconciliação cujo ápice é agora representado pela vontade do Papa de visitar o Canadá, “numa data a ser marcada posteriormente”, conforme especificado numa nota da Sala de Imprensa da Santa Sé divulgada no final da manhã desta quarta-feira (21/10), que relatou o convite dirigido a Francisco pelos prelados do país.

Didática violenta

Há um histórico de abusos por trás dessa macabra descoberta, de várias formas de violência perpetradas contra milhares, estima-se quatro mil, das cerca de 150 mil crianças indígenas que frequentaram a escola do final do século XIX até o final dos anos 60 (foi fechada completamente em 1978). As crianças foram separadas de suas famílias para serem inseridas num programa de assimilação cultural, que incluía uma proibição “didática” de falar a língua de origem, bem como formas ocultas de abusos piores. Já em 2015, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá, após sete anos de pesquisa, produziu um relatório detalhando os maus tratos e as dificuldades, incluindo a desnutrição, sofridas por essas crianças.

Do trauma à esperança

O envolvimento de estruturas eclesiais canadenses nesta espiral, além das mencionadas fossas comuns, a descoberta de outras 715 sepulturas anônimas perto de outra estrutura, a Escola Residencial Indígena de Marieval, levou a Conferência Episcopal do Canadá a expressar “remorso” pelos maus-tratos e morte de milhares de crianças indígenas e a reconhecer “com pesar” que “o trauma histórico” e “a herança do sofrimento e dos desafios enfrentados pelos povos indígenas” continuam “até hoje”. Uma assunção de responsabilidade que criou compromissos concretos com as comunidades indígenas.

“Uma longa viagem”

Foram disponibilizados 30 milhões de dólares em todo o país, por um período de cinco anos, para acompanhar um processo de reconciliação com várias iniciativas. Programas, objetivos e fundos são e serão objetos de debate com lideranças indígenas e contam com o envolvimento de dioceses, paróquias e órgãos eclesiais. Falando na televisão canadense há algum tempo, o arcebispo de Regina, dom Donald Bolen, chamou este percurso de “um longo caminho”. “É importante fazê-lo. Devemos continuar com ações concretas por justiça e reconciliação”.

Fonte: Vatican News – Alessandro De Carolis

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