Papa Francisco busca soluções para a crise da dívida no sul global

Imagem reproduzida de Vatican News

Antes da Audiência Geral desta quarta-feira (05/06), o Papa Francisco se reuniu com os participantes do workshop promovido pela Pontifícia Academia das Ciências, focado em buscar soluções para a crise da dívida no Sul Global. O Pontífice destacou a importância de gestos de boa vontade, como o perdão de dívidas, e convocou todos a construir uma casa comum baseada na responsabilidade e na inclusão social. 

O primeiro compromisso do Papa Francisco na manhã desta quarta-feira, 05 de junho, foi uma audiência com os participantes do workshop promovido pela Pontifícia Academia das Ciências, com o tema: “Como lidar com a crise da dívida no Sul Global”, que se propõe a estabelecer um diálogo sobre a implementação de políticas que ajudem a solucionar o problema da dívida que compromete muitos países do hemisfério sul, e que afeta milhões de famílias e pessoas no mundo. Entre os convidados do evento está o Ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad.

Solidariedade e harmonia dos povos

Em seu discurso, o Pontífice sublinhou que “depois de uma globalização mal administrada, depois da pandemia e das guerras, nos encontramos diante de uma crise de dívidas que afeta principalmente os países do sul do mundo, gerando miséria e angústia, e privando milhões de pessoas da possibilidade de um futuro digno”. Consequentemente, ressaltou Francisco, nenhum governo pode exigir moralmente de seu povo que sofra privações incompatíveis com a dignidade humana:

“Para tentar romper o círculo financiamento-dívida seria necessária a criação de um mecanismo multinacional, baseado na solidariedade e na harmonia dos povos, que leve em conta o sentido global do problema e suas implicações econômicas, financeiras e sociais. A ausência deste mecanismo favorece o “salve-se quem puder”, onde perdem sempre os mais fracos.”

Economia audaz e criativa

O Papa reiterou, em sintonia com o magistério dos seus antecessores, os princípios de justiça e solidariedade são os meios que levarão a encontrar pistas de solução. Segundo o Santo Padre, “nesse caminho é indispensável agir de boa fé e com verdade, seguindo um código de conduta internacional com normas de valor ético que tutelam as negociações”, e completou: “devemos pensar em uma nova arquitetura financeira internacional que seja audaz e criativa”.

Gesto profético

Ao recordar o Jubileu do ano 2000, o Papa trouxe o exemplo deixado por São João Paulo II, quando, durante a Audiência Geral de 3 de novembro de 1999, considerou que o tema da dívida externa “não é apenas de índole econômica, mas que afeta os princípios éticos fundamentais e é preciso que encontre espaço no direito internacional”. O Pontífice polonês, recordou Francisco, reconhecia que “o jubileu pode constituir uma ocasião propícia para gestos de boa vontade, de perdoar as dívidas, ou pelo menos reduzi-las em função do bem comum”, e em seguida fez um apelo:

“Gostaria de fazer eco desse chamado profético, hoje mais urgente do que nunca, tendo em mente que a dívida ecológica e a dívida externa são duas faces de uma mesma moeda que hipotecam o futuro. Por isso, queridos amigos, o Ano Santo de 2025 ao qual nos encaminhamos nos chama a abrir a mente e o coração para sermos capazes de desatar os nós desses laços que estrangulam o presente, sem esquecer que somos apenas guardiões e administradores, e não proprietários.”

Pecado humano e social 

Por fim, o convite do Santo Padre a “sonharmos e agirmos juntos na construção responsável da nossa casa comum; ninguém pode habitá-la com tranquilidade de consciência quando sabe que ao seu redor há uma multidão de irmãos e irmãs famintos e também mergulhados na exclusão social e na vulnerabilidade”. Deixar passar isso é pecado, pecado humano, mesmo que a pessoa não tenha fé, é um pecado social. “O que vocês estão fazendo aqui é importante, rezo por vocês”, concluiu Francisco. 


Thulio Fonseca – Vatican News

 

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