Foi apresentado o programa para o dia convocado pelo Papa para reacender luzes de esperança numa terra carregada por uma dura crise política e econômica: orações na Basílica Vaticana e mesa redonda ecumênica. Sandri: “É o fruto de um longo caminho iniciado por João Paulo II e Bento XVI”. Gallagher: “Uma viagem do Papa talvez no início de 2022, quando o governo será formado”.
O Dia de Oração e Reflexão pelo Líbano em 1º de julho é o resultado de um longo percurso de cerca de trinta anos. O evento foi convocado pelo Papa na esperança de abrir fendas de paz no país oprimido por uma crise política, econômica e social multifacetada, cenário da violenta explosão no porto de Beirute, em agosto de 2020.
“Um caminho que começou com o Sínodo para o Líbano convocado por João Paulo II, em 1995, depois prosseguiu com a Exortação Apostólica “Uma esperança para o Líbano”, entregue ao País dos Cedros na visita do Papa, em maio de 1997″, lembrou o prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, cardeal Leonardo Sandrio, durante a coletiva de apresentação do evento, nesta sexta-feira (25/06), realizada na Sala de Imprensa da Santa Sé. Bento XVI também seguiu estes passos e escolheu o Líbano para assinar e entregar o Documento na conclusão do Sínodo Especial para o Oriente Médio, em setembro de 2012, Ecclesia in Medio Oriente, em sua última viagem apostólica antes da renúncia.
Agora é Francisco quem está chamando a atenção do mundo para esta terra que Wojtyla definiu “uma mensagem”. Na coletiva no avião de retorno do Iraque, o Pontífice argentino revelou que tinha recebido um pedido para parar em Beirute antes de ir a Bagdá. Uma etapa difícil de organizar naquele momento, mas que Francisco prometeu, mais cedo ou mais tarde, fazer. “Talvez até o final deste ano, mesmo que seja mais provável no início do próximo ano”, disse o secretário para as Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher, explicando aos jornalistas que, além de alguns compromissos já na agenda papal, espera-se a formação definitiva de um governo com o qual se possa interagir.
Na expectativa dessa peregrinação, diante da emergência da situação libanesa, o Papa quis convocar este dia, na sequência de outras grandes iniciativas do pontificado, como a vigília pela Síria na Praça São Pedro, em 2013, a oração pela paz, nos Jardins Vaticanos, pela Terra Santa, em 2014, o encontro bilateral na Santa Marta com os líderes políticos e religiosos do Sudão do Sul, em 2019. “Tudo nasce da preocupação com o agravamento da crise no Líbano”, confirmou dom Gallagher: “A Santa Sé está fortemente preocupada com o colapso do país, que afeta particularmente a comunidade cristã.” Não há apenas o “impasse político”, mas também a “forte emigração dos jovens”. Um fenômeno que “ameaça destruir o equilíbrio” e reduzir pela metade a presença cristã no Oriente Médio. O Líbano, “o último bastião da democracia árabe”, deve ser ajudado a “manter sua identidade única a fim de garantir um Oriente Médio pluralista, tolerante e diversificado”, disse o arcebispo.
“Em termos concretos, o Dia de Oração de 1º de julho será um contínuo “caminhar juntos” entre o Papa e os chefes das Igrejas e Comunidades eclesiais”, disse o cardeal Sandri. “Trata-se das Igrejas ortodoxa e católica, presentes com seus diversos ritos e tradições”, explicou dom Brian Farrell, secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e também de várias comunidades eclesiais nascidas da Reforma.
Todos juntos se encontrarão na Santa Marta, onde serão hospedados de 30 de junho a 2 de julho, para um momento de acolhimento. Logo depois, seguirão em direção à Basílica de São Pedro. Na Basílica, depois da oração do Pai-Nosso, descerão as escadas da Confissão do Apóstolo Pedro e cada um ascenderá uma vela como sinal da oração que arde, pedindo a intercessão do Apóstolo. “Durante o evento não poderemos vê-los ou ouvi-los, porque as portas da Sala Clementina da Residência Apostólica permanecerão fechadas aos nossos olhares”, explicou Sandri, exortando as pessoas a seguirem o Dia de oração à distância com uma oração de intercessão em suas paróquias e comunidades religiosas.
Como na Basílica de São Nicolau em Bari, para o evento ecumênico de 7 de julho de 2018, a mesa de encontro será redonda e em torno dela se sentará o núncio no Líbano, dom Joseph Spiteri, como moderador, e dez Chefes das comunidades cristãs. Dentre eles talvez esteja o sucessor do patriarca da Cilícia dos Armênios, Gregório Pedro XX Ghabroyan, que faleceu em 25 de maio. O sucessor do patriarca falecido será eleito no Sínodo iniciado três dias atrás.
Entre a manhã e a tarde, haverá três sessões de trabalho, cada uma apresentada por um relator. A oração conclusiva na Basílica Vaticana contará com a presença dos embaixadores da Santa Sé e todas as comunidades religiosas masculinas e femininas foram convidadas, assim como os leigos libaneses residentes em Roma. Não estarão presentes expoentes políticos, já que foi decidido dar ao evento uma dimensão exclusivamente religiosa.
O Papa e os convidados irão em procissão até São Pedro, seguindo um sacerdote que levará o Evangelho. Em seguida, será feita uma oração ecumênica com a proclamação de algumas passagens da Palavra de Deus, alternadas com orações e cantos das diferentes tradições rituais presentes no Líbano. Textos em árabe, sírio, armênio e caldeu ressoarão em São Pedro. No final da celebração, alguns jovens entregarão uma lâmpada acesa, que será então colocada num candelabro. “É a esperança de paz que as gerações jovens entregam, pedindo ajuda para que não seja apagada pelas tribulações do presente”, destacou o cardeal Sandri. A conclusão será confiada ao Papa Francisco que fará um discurso conclusivo e, antes de se despedir, doará um ladrilho com o logotipo do evento, em memória do dia. Não está previsto um apelo conjunto, mas o discurso do Papa “irá conter apelos e considerações, fruto das reflexões daquele dia que poderão ser indicações para o futuro do Líbano”.
Quanto ao logotipo, ele representa a imagem de Nossa Senhora de Harissa que protege o Líbano e é reconhecível chegando do mar, no santuário que acolhe os peregrinos de todas as idades e credos. Será confiado à Virgem a realização do evento de 1º de julho para que “um novo sol possa surgir em breve”, disse o cardeal Sandri, evocando as palavras do poeta libanês Kahil Gibran: “Além da cortina escura da noite, há um novo amanhecer que nos espera.”
Durante a conferência, as palavras comoventes de um jornalista libanês, correspondente em Roma da agência governamental, que agradeceu à Santa Sé porque “é a única a ajudar o Líbano sem interesse”. “Uma ajuda fornecida graças à colaboração internacional”, explicou Gallagher, acrescentando: “Não há ninguém que tenha passado até agora na Secretaria de Estado a quem não tenhamos dirigido uma palavra em favor do Líbano. É quase um hábito… Perguntamos: o que você pode fazer nestas circunstâncias difíceis e trágicas”? Gallagher também respondeu a uma pergunta sobre a situação em Hong Kong, que a diplomacia vaticana olha com atenção: “Obviamente, Hong Kong é um objeto de interesse para nós. O Líbano é um lugar onde pensamos que podemos dar uma contribuição. Não vemos esta possibilidade em Hong Kong. Podemos dizer palavras apropriadas que serão apreciadas pela imprensa internacional e em muitos países do mundo, mas eu e muitos dos meus colegas não estamos convencidos de que possam fazer alguma diferença”.
Fonte: Vatican News – Salvatore Cernuzio/Mariangela Jaguraba
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