Chega um momento em que é preciso “deixar” algo para melhor “seguir” Jesus, disse Francisco no Angelus, perguntando: “Deixo algumas certezas e parto para uma nova aventura, ou fico onde estou? É um momento decisivo para cada cristão, porque aqui está em jogo o sentido de todo o resto. Se não se tem coragem de colocar-se a caminho, corre-se o risco de ficar espectadores da própria existência e de viver a fé pela metade.”
“Deixar”, “seguir”: dois verbos-chave da passagem de Mateus proposta pela liturgia do dia e trazidos pelo Papa em sua alocução antes de rezar o Angelus, para a nossa realidade nos dias de hoje. O convite, portanto, para renunciarmos em nossa vida àquilo que nos impede de melhor seguir Jesus.
As palavras iniciais de Francisco direciona os presentes na Praça São Pedro ao cenário do mar da Galileia, escolhido por Jesus para fazer o chamado aos primeiros discípulos. De fato – explicou o Papa – alguns deles já o conheciam graças a João Batista, “e Deus havia colocado neles a semente da fé, mas agora Ele volta a procurá-los onde vivem e trabalham, fazendo a eles um chamado direto: “Sigam-me!” E eles “imediatamente deixaram as redes e o seguiram”.
“Deixar” para “seguir”
Em outras palavras, “é o momento do encontro decisivo com Jesus, aquele que eles recordarão por toda a vida e que entra no Evangelho. Desde então seguem Jesus e, para segui-lo, deixam”:
Deixar para seguir. É sempre assim com Jesus. Com Jesus, é sempre assim. Pode-se começar a sentir o seu encanto de alguma forma, quem sabe graças ao outros. Depois o conhecimento pode se tornar mais pessoal e acender uma luz no coração. Torna-se algo bonito a ser compartilhado: “Sabe, aquela passagem do Evangelho me tocou, aquela experiência de serviço me tocou”, algo que te toca o coração. Assim teriam feito também os primeiros discípulos Mas cedo ou tarde chega o momento em que é preciso deixar para segui-lo. E aí se deve decidir: deixo algumas certezas e parto para uma nova aventura, ou fico como sou? É um momento decisivo para cada cristão, porque aqui está em jogo o sentido de todo o resto (…). Se não se tem coragem de colocar-se a caminho, corre-se o risco de ficar espectadores da própria existência e de viver a fé pela metade.
O que devemos deixar?
Assim, observa o Papa, “estar com Jesus exige a coragem de deixar, de colocar-se a caminho”. Mas, pergunta, “o que devemos deixar”?
Mas certamente nossos vícios e nossos pecados, que são como âncoras que nos prendem à margem e nos impedem de zarpar. Para começar a ‘deixar’ é justo que comecemos a pedir perdão: perdão pelas coisas que não foram boas; mas eu deixo essas coisas e sigo em frente. Mas é preciso deixar também aquilo que nos impede de viver em plenitude, por exemplo deixar os medos, deixar os cálculos egoístas, deixar as garantias para permanecer seguros, sem expectativas. E é preciso também renunciar ao tempo que se perde com tantas coisas inúteis. Como é belo deixar tudo isto para viver, por exemplo, o risco cansativo mas compensador do serviço, ou para dedicar tempo à oração, para crescer na amizade com o Senhor.
Para realizar a vida é preciso aceitar o desafio de deixar
Nesse contexto, Francisco pensa também em uma jovem família, “que deixa a vida tranquila para se abrir à imprevisível e bela aventura da maternidade e da paternidade. Deixa-se algo para viver esta bela aventura. É um sacrifício, mas basta um olhar para as crianças para entender que foi correto deixar certos ritmos de comodidade, certos confortos, para ter esta alegria. Um passo a mais”.
Mas também pensa em certas profissões
Por exemplo em um médico ou um profissional de saúde que renunciou a tanto tempo livre para estudar e preparar-se, e que agora fazem o bem dedicando muitas horas do dia e da noite, muitas energias físicas e mentais aos doentes. Penso nos trabalhadores que deixam as comodidades, que deixam o doce ócio para levar o pão para casa. Em suma, para realizar a vida é preciso aceitar o desafio de deixar. É a isso que Jesus convida cada um de nós. Não ter medo das coisas que tenho que “deixar” para seguir Jesus.
O Papa pede então que façamo-nos algumas perguntas
Antes de tudo: eu me lembro de algum “momento forte” em que já encontrei Jesus? Cada um de nós pense em sua própria história: em minha vida (há) houve algum momento forte, onde encontrei Jesus? E algo belo e significativo que aconteceu na minha vida por ter deixado outras coisas menos importantes? E hoje, há algo que Jesus me peça para renunciar? Quais são as coisas materiais, os modos de pensar, os hábitos que preciso deixar para realmente dizer “sim” a ele?
“Que Maria – disse o Papa ao concluir – nos ajude a dizer, como ela, um sim pleno a Deus, a saber deixar algo para segui-lo melhor. Não tenham medo de “deixar” se for para seguir a Jesus, sempre estaremos melhores ainda.”
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano