No encontro com os jovens, Francisco disse que “há tantos hoje que são muito “social”, mas pouco sociais: fechados em si mesmos, prisioneiros do celular que trazem na mão, mas no visor falta o outro, faltam os seus olhos, a sua respiração, as suas mãos. Ao invés, como é bom estar com os outros, descobrir as novidades do outro; cultivar a mística do todo, a alegria de compartilhar, o ardor de servir!”
Mariangela Jaguraba
O Papa Francisco encontrou-se com os jovens, na manhã desta segunda-feira (06/12), na Escola das Irmãs Ursulinas São Dionísio, em Maroussi, Atenas, último compromisso público do Santo Padre em terras gregas.
Francisco aproveitou a ocasião para agradecer o acolhimento recebido e o trabalho realizado na organização de sua visita ao país. Depois de ouvir os testemunhos dos jovens, o Papa fez um comentário sobre cada um.
A fé é um caminho quotidiano com Jesus
A jovem Katerina falou sobre suas frequentes dúvidas de fé. O Papa lhe disse para “não ter medo das dúvidas, porque não são faltas de fé. Pelo contrário, as dúvidas são «vitaminas da fé»: ajudam a robustecê-la, tornando-a mais forte, ou seja, mais consciente, mais livre, mais madura. Tornam-na mais disposta a pôr-se a caminho, a seguir em frente com humildade, dia após dia”.
A fé é precisamente isto: um caminho quotidiano com Jesus, que nos leva pela mão, acompanha, encoraja e, quando caímos, nos levanta. É como uma história de amor, onde se avança sempre juntos, a cada dia; e contudo sobrevêm, como numa história de amor, momentos em que há necessidade de se interrogar, de superar as dúvidas. E é útil, faz subir o nível do relacionamento.
“O âmago da fé não é uma ideia nem uma moral, mas uma realidade, uma realidade belíssima que não depende de nós e que nos deixa de boca aberta: somos filhos amados de Deus! Filhos amados: temos um Pai que olha por nós sem nunca cessar de nos amar. Não podemos deixar de nos maravilhar por sermos para ele, não obstante todas as nossas fraquezas e pecados, filhos amados desde sempre e para sempre”, frisou o Papa.
Os jovens “não valem pela marca da roupa que usam”
Francisco disse ainda que quando ficarmos desiludidos com o que fazemos, devemos ter a coragem de admirar o perdão. No perdão se encontram “o rosto do Pai e a paz do coração” que “nos derrama o seu amor num abraço que nos levanta, que desintegra o mal cometido e volta a fazer brilhar a beleza incancelável que há em nós: a de sermos seus filhos prediletos. Não permitamos que a preguiça, o medo ou a vergonha nos roubem o tesouro do perdão. Deixemo-nos maravilhar pelo amor de Deus”.
Jovens, vocês “não valem pela marca da roupa ou pelos sapatos que usam, mas porque é único, é única”. Não se deixem encantar pelas mensagens sedutores e insistentes das sereias de hoje, “que apostam em lucros fáceis, nas ilusórias necessidades do consumismo, no culto do bem-estar físico, da diversão a todo o custo. São muitos fogos de artifício, que brilham por um momento, mas deixam apenas fumaça no ar”.
Há tantos hoje que são muito “social”, mas pouco sociais
O testemunho de Ioanna foi centrado nas duas mulheres mais importantes de sua vida: sua mãe e sua avó, que a «ensinaram a rezar, a agradecer a Deus todos os dias», assimilando “a fé de forma natural, genuína”. A jovem nos deu uma sugestão útil: “recorrer ao Senhor para qualquer coisa, falar com Ele, confessar-Lhe as nossas preocupações”. Ioanna falou também de uma terceira pessoa decisiva para ela, uma irmã que lhe mostrou a “alegria de olhar a vida como um serviço, pois servir os outros é o caminho para conquistar a alegria. É o caminho para se fazer algo de realmente novo na história. O serviço é a novidade de Jesus; o serviço, o dedicar-se aos outros é a novidade que torna a vida sempre jovem”.
O Papa convidou os jovens a não se contentarem com “encontros virtuais, mas a procurar os encontros reais”, a não procurarem “visibilidade, mas os invisíveis. Isto sim; é ser original, revolucionário.
Há tantos hoje que são muito “social”, mas pouco sociais: fechados em si mesmos, prisioneiros do celular que trazem na mão, mas no visor falta o outro, faltam os seus olhos, a sua respiração, as suas mãos. O visor torna-se facilmente num espelho, onde você julga ter diante de si o mundo, quando na realidade você está sozinho, num mundo virtual cheio de aparências, de fotografias maquiadas para parecer sempre bonito e em forma. Ao invés, como é bom estar com os outros, descobrir as novidades do outro; cultivar a mística do todo, a alegria de compartilhar, o ardor de servir!
Tenham a coragem da esperança
O último testemunho foi de Aboud que fugiu da Síria junto com seus parentes, depois de terem corrido várias vezes o risco de serem mortos pela guerra. “Depois de tantos «nãos» e mil dificuldades, vocês chegaram a este país da única maneira possível, de barco, permanecendo «num rochedo sem água nem comida, esperando o amanhecer e um navio da guarda costeira». Uma verdadeira e própria odisseia dos nossos dias”, disse o Papa.
O Papa convidou os jovens a alimentarem a coragem da esperança, como fez Aboud. “E como se faz? Através de suas opções”, respondeu Francisco.
Escolher é um desafio: é enfrentar o medo do desconhecido, sair do pântano da homogeneização, decidir tomar as rédeas da própria vida. Para fazer opções corretas, vocês devem se lembrar de uma coisa: as boas decisões têm a ver sempre com os outros, e não apenas conosco. Eis as opções pelas quais vale a pena arriscar, os sonhos que se devem realizar: aqueles que exigem coragem e envolvem os outros. É o que lhes desejo: com a ajuda de Deus, Pai que os ama, tenham a coragem da esperança.
Fonte: Vatican News