Papa: a vida consagrada é árida se ‘nos servirmos’ em vez de ‘servir’

Papa Francisco na Catedral de Nossa Senhora do Congo com os sacerdotes - foto: reproduzida de Vatican News/Vatican Media

Para viver bem a vocação o Papa sugere aos religiosos superar desafios como “a mediocridade espiritual, a comodidade mundana e a superficialidade”.

 

Por Jane Nogara

Na tarde desta quinta-feira (02/02) o Papa Francisco teve um encontro de oração com sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas e seminaristas na Catedral de Nossa Senhora do Congo em Kinshasa. Francisco mostrou sua satisfação por por encontrá-los justamente na Festa da Apresentação do Senhor e Dia da Vida Consagrada. Depois agradeceu as palavras do cardeal Ambongo, arcebispo de Kinshasa que falou de “enormes desafios” a enfrentar para viver o compromisso sacerdotal e religioso nesta terra, marcada por “condições difíceis e muitas vezes perigosas”, por tanto sofrimento. O Papa recordou que ele disse que também há tanta alegria com o serviço ao Evangelho e são numerosas as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. E nisso disse o Papa “vemos a abundância da graça de Deus, que opera precisamente na fraqueza e vos torna capazes, juntamente com os fiéis leigos, de gerar esperança nas situações frequentemente dolorosas do vosso povo”.

Compaixão e consolação

Francisco propôs algumas reflexões a partir de Isaías que diz: “Deus abre caminhos nos nossos desertos e nós, ministros ordenados e pessoas consagradas, somos chamados a ser sinal desta promessa e realizá-la na história do Povo santo de Deus”. Mas, em concreto, pergunta o Papa “a que é que somos chamados? A servir o povo como testemunhas do amor de Deus. Isaías ajuda-nos a compreender como fazê-lo”. E explica que “o Senhor é movido pela compaixão e a consolação para dar esperança e promessa de salvação ao povo israelita. Assim o Senhor revela-Se como Deus da compaixão e garante que nunca nos deixará sozinhos, que estará sempre ao nosso lado como refúgio e força nas dificuldades”. E anuncia aos presentes:

“Por vosso intermédio, também hoje o Senhor quer ungir o seu povo com o óleo da consolação e da esperança”

O sacerdócio é servir

“Isto é ser servidores do povo: padres, irmãs, missionários que experimentaram a alegria do encontro libertador com Jesus e oferecem-na aos outros. Lembremo-nos disto”, acrescentou, “o sacerdócio e a vida consagrada tornam-se áridos, se os vivemos para ‘nos servirmos’ do povo em vez de ‘servi-lo’. “Fomos chamados”, disse o Papa, “para oferecer a vida pelos irmãos e irmãs, levando-lhes Jesus, o único que sara as feridas do coração. Em seguida o Papa disse que se deteria em pontos que devem ser superados para viver bem a vocação: “a mediocridade espiritual, a comodidade mundana, a superficialidade”.

Mediocridade espiritual

O Papa inicia com a mediocridade espiritual e a importância da oração para este desafio “E como? A Apresentação do Senhor, designada no Oriente cristão como ‘festa do encontro’, recorda-nos a prioridade da nossa vida: o encontro com o Senhor, especialmente na oração pessoal, porque a relação com Ele é o fundamento do nosso agir”.

“Não esqueçamos que o segredo de tudo é a oração, porque o ministério e o apostolado não são, primariamente, obra nossa nem dependem apenas dos meios humanos”

Sobre este ponto Francisco compartilha alguns conselhos aos religiosos: “Em primeiro lugar, mantenhamo-nos fiéis a certos ritmos litúrgicos da oração que cadenciam o dia, desde a Missa até à Liturgia das Horas. E não descuremos também a Confissão: sempre precisamos ser perdoados, para poder dar misericórdia”. Francisco acrescentou outro conselho ainda: “Um momento prolongado de adoração, de meditação da Palavra, a reza do Santo Terço; um encontro íntimo com Aquele que amamos acima de todas as coisas”.

“Sem oração, não se vai longe… Por fim, para superar a mediocridade espiritual, nunca nos cansemos de invocar Nossa Senhora, a nossa Mãe, e d’Ela aprender a contemplar e seguir Jesus”

Atentos às comodidades

“O segundo desafio”, disse o Papa, “é vencer a tentação da comodidade mundana, duma vida cômoda na qual seja possível organizar mais ou menos todas as coisas e continuar em frente por inércia, procurando o nosso conforto e arrastando-nos sem entusiasmo”. “Há um grande risco associado à mundanidade, especialmente num contexto de pobreza e sofrimento: aproveitar-se da função que temos para satisfazer as nossas carências e comodidades”. E destacou em seguida a beleza da disponibilidade: “Ao contrário, como é belo manter-se transparente nas intenções e livre de compromissos com o dinheiro, abraçando alegremente a pobreza evangélica e trabalhando junto dos pobres!

“E como é belo ser luminoso vivendo o celibato como sinal de total disponibilidade para o Reino de Deus!”

Vencer a superficialidade

Por fim o Papa sugere o terceiro desafio: vencer a tentação da superficialidade. “As pessoas não precisam de funcionários do sagrado nem de doutores afastados do povo. Somos chamados a entrar no coração do mistério cristão, aprofundar a sua doutrina, estudar e meditar a Palavra de Deus; e, ao mesmo tempo, permanecer abertos às inquietações do nosso tempo, às questões cada vez mais complexas da nossa época, para poder compreender a vida e as exigências das pessoas, para compreender como tomá-las pela mão e acompanhá-las”.

“A formação do clero não é facultativa. Digo isto aos seminaristas, mas vale para todos: a formação é um caminho a percorrer sempre ao longo de toda a vida”

Testemunhas do amor de Deus

“Os desafios de que vos falei, temos de os enfrentar se quisermos servir o povo como testemunhas do amor de Deus, porque só é eficaz o serviço se passar através do testemunho”.  Francisco conclui seu discurso destacando as testemunhas: “Para ser bons sacerdotes, diáconos e pessoas consagradas não bastam as palavras e as intenções: antes de tudo, é a própria vida que fala”.

“Caríssimos, este é precisamente o ministério a que sois chamados: mostrar proximidade e consolação, como uma luz sempre acesa no meio de tanta escuridão. E, para ser irmãos e irmãs de todos, começai por sê-lo entre vós: testemunhas de fraternidade, nunca em guerra; testemunhas de paz, aprendendo a superar até as particularidades das culturas e das proveniências étnicas”.

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