Por Padre Antônio Ferreira, cmf – em Revista Ave Maria
Os últimos capítulos do Evangelho segundo Mateus relatam a paixão e a ressurreição de Jesus. Ele prepara os seus discípulos para os momentos finais: “Bem sabeis que daqui a dois dias é a Páscoa; e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado” (Mt 26,2).
Era tempo de celebração da Páscoa. Ela rememorava a libertação do povo judeu do Egito. Muitas pessoas afluíam a Jerusalém para a celebração.
Jesus passou por Betânia e foi à casa de Simão, o leproso. Na casa de Simão, uma mulher entrou e derramou sobre a cabeça de Jesus um frasco de perfume de grande valor. O ato foi considerado, pelos discípulos, como desperdício, alegando que a venda dele teria podido arrecadar dinheiro a ser distribuído aos pobres.
Jesus deu o sentido verdadeiro do gesto. A ação era uma preparação de seu corpo para o sepultamento. Essa mulher expressou o sentido pleno e real do seguimento. Ele exaltou a atitude da mulher e assegurou que a memória dela seria preservada e anunciada onde quer que o Evangelho fosse proclamado.
Realizados os preparativos necessários, Jesus celebrou pela última vez a Páscoa com os seus discípulos.
Ela ganha um significado novo, sendo, a partir desse momento, a ceia do Senhor: “Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e o abençoou, partiu-o e deu-o aos discípulos, dizendo: ‘Tomai, comei; este é o meu corpo’. E Ele tomou um cálice e, dando graças, deu-lho, dizendo: ‘Bebei, todos vós; porque este é o meu sangue da aliança, que é derramado por muitos para o perdão de pecados’” (Mt 26,26-28).
Após a ceia, Jesus e os discípulos foram para o jardim das Oliveiras, num lugar chamado Getsêmani (lagar de azeite). Esse seria o local onde Judas o trairia e Jesus viveria aí a agonia e seria preso. Uma multidão foi enviada para prender Jesus. Ele advertiu que tudo aquilo só estava acontecendo para que se cumprissem as Escrituras (cf. Mt 26,54).
Por três vezes, ora ao Pai pedindo, se possível, que fosse preservado de beber o cálice, expressando os momentos que viveria com o julgamento, os açoites, escárnios e morte de cruz. Ele confirmou plena obediência ao Pai: “Faça-se a tua vontade” (Mt 26,39.42.44).
No Getsêmani, Jesus foi preso e levado perante Caifás, o sumo sacerdote (cf. Mt 26,57), junto ao Sinédrio, onde teria a sentença formulada (cf. Mt 26,57-62; 27,1-2). Depois o levaram a Pilatos, representante do Império Romano, para que a sentença fosse confirmada e aplicada (cf. Mt 27,11-14).
É impressionante que Jesus manteve-se em silêncio (cf. Mt 27,12) e isso incomodou seus acusadores. Quando falou o fez para atestar a verdade: “Disse-lhe Jesus: ‘Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do Homem assentado à direita do poder, e vindo sobre as nuvens do céu’” (Mt 26,64).
As acusações foram apresentadas mediante falsas testemunhas (cf. Mt 26,60). Nenhuma falta foi encontrada em Jesus. O próprio Pilatos o declarou inocente (cf. Mt 27,24). Tratou-se de uma condenação injusta, que evidencia as milhares de vítimas inocentes ao longo da história, de ontem e de hoje.
Para isso, juntaram-se as autoridades religiosas e a imperial (política): Jesus foi levado à morte de cruz. Com isso, desejou-se mostrar que Jesus não podia ser divino e nem o povo devia segui-lo. Assim, a pretensão de ser o Messias estaria derrotada, anulada, uma vez que a Escritura diz: “Aquele que é pendurado é um objeto de maldição divina” (Dt 21,23).
Ao ser tirado da cruz, o corpo de Jesus foi depositado em um túmulo propriedade de José de Arimateia, importante pessoa da cidade.
Maria Madalena e a outra Maria foram ao túmulo e viveram uma profunda experiência: a pedra que selava o sepulcro fora removida. Um anjo – sinal do divino junto aos seres humanos – revelou o que sucedera e que não precisavam temer nada: “Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque ressuscitou como havia dito” (Mt 28,5-6). No terceiro dia, Ele ressuscitou. A morte foi vencida e, com ela, toda injustiça é denunciada e derrotada.
O próprio Jesus se apresentou às duas mulheres. Fez delas missionárias: levar aos discípulos a grande notícia e que se dirigissem à Galileia, onde o veriam.
Por fim, no encontro com o Senhor ressuscitado na Galileia, os discípulos e discípulas receberam o mandato que se aplica a toda a Igreja, em todos os tempos: “Toda autoridade me foi dada no Céu e na Terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,18-20).