Paciência

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A arte de sofrer

 

1. Dedicamos o capítulo anterior a um dos dois traços principais da fortaleza: a coragem de empreender, de enfrentar a realização de coisas difíceis e grandes: a magnanimidade.

O outro traço é a capacidade de resistir, de «vencer − como diz o Catecismo −o medo, inclusive da morte, de suportar a provação e as perseguições. Dispõe a pessoa a aceitar até a renúncia e o sacrifício da sua vida para defender uma causa justa» (n. 1808).

Esse aspecto da fortaleza resume-se numa palavra: paciência. Santo Tomás de Aquino afirma uma e outra vez que esse segundo aspecto da virtude da fortaleza é o principal, e tem como ponto culminante o martírio.

A palavra paciência procede do latim pati, que significa padecer. A virtude da paciência é, de fato, “a arte de padecer”. Quando está vitalizada pela graça do Espírito Santo, pode-se definir como “a arte se sofrer com fé, esperança e amor”, sobretudo com amor.

É muito sugestivo o fato de que São Paulo, no seu famoso hino à caridade, quando enumera os traços principais do amor cristão, coloque em primeiro lugar a paciência: O amor é paciente (1 Cor 13,4). E o que ele procurava praticar. Aos Coríntios, escrevia: Suporto tudo por amor dos escolhidos (2 Tim 2,10); e aos Colossenses: alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa (Cl 1,24).

Com seu estilo conciso, Santo Tomás escreveu: «Só o amor é causa da paciência» (Suma Teológica, 2-2,136,3).

Quer dizer que toda impaciência tem como causa a falta de amor, de amor a Deus ou de amor ao próximo, ou de ambos.

2. É lógico, portanto, que a causa das nossas impaciências seja o contrário do amor, isto é, o amor-próprio egoísta. Por isso, é importante aprender a “sabedoria do amor” que leva a ganhar a virtude da paciência. Vamos ver alguns de seus aspectos;

a) Saber ir além de suportar

O futuro Papa Bento XVI falava dessa sabedoria: «A paciência é o rosto cotidiano do amor. Nela, a fé e a esperança também estão presentes. Porque, sem a esperança que vem da fé, a paciência seria apenas resignação, e perderia o dinamismo que a faz ir além do esforço de suportar uns aos outros, para ir ao esforço de ser uns o suporte dos outros» (Docum. Catholique, 2005, n.1, pp. 4ss).

É isso o que são Paulo nos pede na Carta aos Gálatas: «Levai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo» (Gl 6,2).

b) Saber esperar

Sede pacientes, irmãos – escreve São Tiago −. Vede como o lavrador aguarda o precioso fruto da terra e tem paciência até receber a chuva temporã e a tardia. Tende também vós paciência e fortalecei os vossos corações (Tg 5,7-8).

São Josemaria fala dessa sabedoria: «quem sabe ser forte não se deixa dominar pela pressa em colher o fruto da sua virtude; é paciente. A fortaleza leva-o a saborear a virtude humana e divina da paciência… E é esta paciência a que nos leva também a ser compreensivos com os outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho, melhoram com o tempo» (Amigos de Deus, n. 78).

c) Saber calar

Como é importante calar quando a ira ou a impaciência fervilham dentro de nós. «Não repreendas quando sentes a indignação pela falta cometida. – Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. – E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de repreender. – Conseguirás mais com uma palavra afetuosa do que com três horas de briga» (Caminho, n. 10).

O personagem dos célebres contos policiais de Chesterton, o Pe. Brown, «tinha esse hábito do silêncio amistoso, que é tão essencial ante a tagarelice alheia» (A inocência do Pe. Brown, Sétimo Selo, p. 195).

Falar, e retrucar, e cair no bate-boca.  Por não saber calar é que vem o descontrole e a briga.

d) Saber falar

Quando a impaciência nos ataca, a primeira coisa que deveríamos fazer, depois de esforçar-nos por calar, é falar com Deus. Nunca falemos só “conosco”, com esses debates íntimos da imaginação esquentada, que só aumentam a fúria e a amargura íntimas. Menos ainda falemos, irados, com a pessoa que provocou a impaciência, querendo mostrar-lhe que nós temos razão e ela não.

Primeiro, portanto – e às vezes por muito tempo –, falemos com Deus, fazendo oração: procurando ver com Ele a verdadeira dimensão das coisas, pedindo-lhe forças para carregar a Cruz com serenidade, suplicando-lhe que nos comunique um pouco da paciência com que Cristo enfrentou o juízo iníquo, o caminho da Cruz e a crucifixão.

Experimentemos também invocar a nossa Mãe, Santa Maria, dizendo-lhe: “Rainha da paz, rogai por nós!”

E também será oportuno, muitas vezes, falar com quem nos possa orientar espiritualmente e aconselhar a melhor maneira de santificar as contrariedades.

e) Saber praticar as mortificações da paciência

Em vez de comentá-las agora, vamos incluí-las nas perguntas do questionário.

Questionário sobre a paciência

─ Vejo claramente que uma das manifestações principais da fortaleza é a paciência, que leva a resistir às dificuldades, ao sofrimento e  ao cansaço, sem cair nas queixas nem no desânimo?

─ Esforço-me por aceitar pacientemente os defeitos alheios, sem me irritar, sem ofender, sem perder a serenidade nem cair na autocompaixão?

─ Costumo dizer, em tom de queixa, que preciso de ter muita paciência com as pessoas e com as dificuldades da vida? Não percebo que as almas grandes, por serem generosas, precisam de menos paciência, porque aceitam com mais naturalidade o sacrifício?

─ Evito comentar desnecessariamente com os outros as dores, gripes, ou outro tipo de mal estar físico? Evito também resmungar do frio, do calor, da lentidão do trânsito, etc.?

─ Compreendo que a pessoa que vive preocupada em amar e ajudar tem, espontaneamente, mais paciência e mais serenidade? Peço a Deus que me ajude a aumentar o amor no meu coração?

─ No relacionamento com os outros, respondo ao mal com o mal, ou sei controlar-me, esperar, oferecer a Deus a mágoa, e reagir serenamente, procurando — sempre que seja possível — «afogar o mal na abundância de bem»?

─ Tenho paciência com os que usam de conversas intermináveis no celular, e procuro o modo mais delicado de abreviá-las?

─ Sei repetir calmamente as explicações que dou a outros, quando não as entendem de início, ou ficam fazendo perguntas que me parecem inúteis?

─ Implico com maus hábitos, tiques ou cacoetes dos outros, como a mania de bater na cadeira ou no sofá, de fungar, de contar piadas sem graça…?

─ Evito os modos duros de falar, de cobrar, de lembrar aos outros o que deveriam ter feito?

Conclusões (Procure tirar as suas conclusões e anotá-las)

Fonte: Padre Francisco Faus

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