Os doidos

Por Dom Fernando Arêas Rifan

Bispo administrador apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

 

Diante de tantos desmandos e loucuras atuais, em todos os campos, um irmão Bispo comentava comigo: Eu não sei onde há mais doidos, se do lado direito ou do lado esquerdo! Claro que isso se aplica especialmente à área religiosa e política. Sobretudo com a internet, que é o palanque para quem não tem auditório selecionado e onde se pode falar de tudo a torto e a direito, os absurdos se ouvem e leem todos os dias. E ai de quem os contradisser! As ofensas, os juízos de intenções, os xingamentos pululam. Característica do fanatismo e do desequilíbrio.

O célebre pensador inglês Chesterton (1874-1936), que se converteu ao Catolicismo em 1922, começa sua famosa obra “Ortodoxia” com um capítulo intitulado “Os Doidos”, aliás, a razão pela qual escrevera esse livro. Não podemos nos furtar de citar alguns trechos, que servem para todos, já que, como diz o provérbio popular, “de musico, de poeta e de louco todos nós temos um pouco”. As considerações são interessantes, embora de aplicação não unívoca.

“…A imaginação não produz a loucura: o que produz a loucura é exatamente a razão… Certo pretensioso perguntou, um dia, por que razão dizemos ‘doido como um chapeleiro’. Outro, mais pretensioso do que ele, responder-lhe-ia que um chapeleiro é doido porque tem como ofício medir a cabeça dos outros…”

“Os doidos são, frequentemente, grandes pensadores… A última coisa que poderá ser dita acerca de um doido é que suas ações são desprovidas de causa… Ele vê sempre razão demasiada em todas as coisas. O louco poderá até atribuir uma intenção conspiratória a essas atividades sem sentido praticadas pelo homem sadio… Uma de suas características mais sinistras é a espantosa clareza nos pormenores: as coisas ligam-se umas às outras em um plano mais intrincado do que um labirinto. Se você discutir com um doido, muito provavelmente levará a pior, pois a mente do alienado, em muitos sentidos, move-se muito mais rapidamente porque não se detém em coisas que preocupam apenas quem tem bom raciocínio. O louco não se preocupa com o que diz respeito ao temperamento, à caridade ou à certeza cega da experiência. A perda de certas afeições sãs tornou-o mais lógico… O louco não é o homem que perdeu a razão, mas o homem que perdeu tudo, menos a razão. A explicação que um doido dá a respeito de qualquer coisa é sempre completa e, às vezes, satisfatória, num sentido puramente racional…

…O doido vive na arejada e bem iluminada prisão de uma única ideia, e todo o seu espírito converge para um ponto afiado e doloroso, sem aquela hesitação e complexidade próprias das pessoas normais… Para tais homens, um tabuleiro de xadrez representa o branco sobre o preto e… é para eles impossível alterar o seu ponto de vista; são incapazes de ver o preto sobre o branco… Os doidos nunca têm dúvidas…”. Quer dizer, com tais pessoas não adianta discutir. Resumindo, segundo Chesterton, o doido, maníaco ou desequilibrado é uma pessoa cheia de lógica e razão, mas lhe falta o bom senso, o equilíbrio. Porque o bom senso e o equilíbrio é que torna a pessoa normal.

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