“Este é o primeiro olhar que devemos ter sobre a Igreja, o olhar do alto. Sim, antes de mais nada a Igreja deve ser vista do alto, com os olhos enamorados de Deus. Perguntemo-nos se, na Igreja, partimos de Deus, do seu olhar enamorado sobre nós. Existe sempre a tentação de partir do eu antes que de Deus, colocar as nossas agendas antes do Evangelho, deixar-se levar pelo vento do mundanismo para seguir as modas do tempo ou rejeitar o tempo que a Providência nos dá e voltar-nos para trás.”
Por Jackson Erpen
Há 60 anos, mais especificamente em 11 de outubro de 1962, João XXIII inaugurava na Basílica de São Pedro o Concílio Ecumênico Vaticano II na presença de 2449 bispos e de uma imensa multidão de fiéis, presente também na Praça São Pedro. Coube a Paulo XVI, por sua vez, concluir o histórico evento realizado em 4 sessões – com todos os documentos aprovados quase por unanimidade – em 8 de dezembro de 1965.
O caminho iniciado naquele período, ainda não foi concluído. Foi o próprio Papa Francisco, em uma entrevista ao jornal italiano “Avvenire”, a afirmar que a implementação de um Concílio leva cerca de 100 anos. Sendo “o primeiro entre os Sucessores de Pedro no último meio século a não ter vivido diretamente esse acontecimento como padre conciliar ou como teólogo, percorre concretamente suas trilhas. Ele o faz lembrando que o único objetivo para o qual a Igreja existe é o anúncio do Evangelho às mulheres e aos homens de hoje”.
No dia em que a Igreja recordou os 60 anos da abertura do grande evento, o Pontífice presidiu a Santa Missa na mesma Basílica de São Pedro que viu João XXIII pronunciar por 37 minutos o discurso inaugural. Padre Gerson Schmidt*, no programa de hoje, continua a refletir sobre a homilia de Francisco:
“O Concílio Vaticano II foi um acontecimento decisivo para a história da Igreja. O maior acontecimento eclesial do século XX. A Igreja, pela primeira vez na história, dedicou um Concílio a interrogar-se sobre si mesma, a refletir sobre a sua própria natureza e missão. A Igreja tem um papel fundamental a executar e isso o Concilio quis clarear, identificar, aperfeiçoar. Passados 60 anos desse marco histórico, divisor de águas, queremos refletir sobre essa realidade proposta pelo Concilio, seus objetivos, sua aplicação concreta, passados mais de meio século.
O Papa Francisco, em sua homilia por ocasião do 60 anos da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, diz que devemos ter um olhar para o alto. A igreja deve ser vista do alto, com os olhos enamorados de Deus. Olhar e partir do Evangelho, antes de nossas agendas. Na mesma Basílica de S. Pedro, 11 de outubro passado, quando João XIII abria o concilio, o Papa Francisco agora afirma assim: “Este é o primeiro olhar que devemos ter sobre a Igreja, o olhar do alto. Sim, antes de mais nada a Igreja deve ser vista do alto, com os olhos enamorados de Deus. Perguntemo-nos se, na Igreja, partimos de Deus, do seu olhar enamorado sobre nós. Existe sempre a tentação de partir do eu antes que de Deus, colocar as nossas agendas antes do Evangelho, deixar-se levar pelo vento do mundanismo para seguir as modas do tempo ou rejeitar o tempo que a Providência nos dá e voltar-nos para trás. Mas tenhamos cuidado! Quer o progressismo que segue o mundo, quer o tradicionalismo que lamenta um mundo passado, não são provas de amor, mas de infidelidade. São egoísmos pelagianos, que antepõem os próprios gostos e planos ao amor que agrada a Deus, ou seja, o amor simples, humilde e fiel que Jesus pediu a Pedro. Amas-Me? Redescubramos o Concílio para devolver a primazia a Deus, ao essencial: a uma Igreja que seja louca de amor pelo seu Senhor e por todos os homens, por Ele amados; a uma Igreja que seja rica de Jesus e pobre de meios; a uma Igreja que seja livre e libertadora.
O Papa São João XIII, na abertura do concilio, pregava em sua mensagem: “Os Concílios Ecumênicos, todas as vezes que se reúnem, são celebração solene da união de Cristo e da sua Igreja, e por isso levam à irradiação universal da verdade, à reta direção da vida individual, doméstica e social; ao reforço das energias espirituais, em perene elevação para os bens verdadeiros e eternos. Estão diante de nós, na sucessão das várias épocas dos primeiros 20 séculos da história cristã, os testemunhos deste magistério extraordinário da Igreja, recolhido em vários volumes imponentes: patrimônio sagrado dos arquivos eclesiásticos, tanto aqui em Roma como nas bibliotecas mais célebres do mundo inteiro”.
Papa João recorda o magistério, o patrimônio sagrado, o tesouro extraordinário da fé, mas ao mesmo tempo quer que a Igreja se abra para os novos tempos, que perscrute os sinais dos tempos. João XXIII não quer olhar simplesmente para o rico passado, apesar de muitas nebulosidades, mas para o futuro. Dizia assim ainda no discurso de abertura: “Iluminada pela luz deste Concílio, a Igreja, como esperamos confiadamente, engrandecerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energias, olhará intrépida para o futuro. Na verdade, com atualizações oportunas e com a prudente coordenação da colaboração mútua, a Igreja conseguirá que os homens, as famílias e os povos voltem realmente a alma para as coisas celestiais”.”
Fonte: Vatican News
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.