Por Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
Tendo contemplado o horizonte da vinda do Senhor, que aguardamos com firme esperança, dizendo diariamente com a Igreja “Vinde, Senhor Jesus”, fomos conduzidos ao encontro com o mesmo Senhor que vem, no dia a dia da Igreja e da humanidade, tantas vezes escondido e tantas vezes encontrado nos sinais que nos deixou, como a vida Sacramental, a presença do próximo, a palavra da Igreja, o amor recíproco entre os irmãos e a exuberância maior, a Eucaristia. Agora, tomados pelas mãos da Virgem Santa, acompanhados pela proteção e apoio do justo São José, vamos a Belém de Judá, para ver o que lá aconteceu! A estrela-guia nos conduz a Belém! Os anjos cantam a glória de Deus e a paz na terra aos homens por ele amados, os reis magos, vindos de longe, prestam este serviço da esperança e da contemplação. Forme-se um grande cortejo de peregrinos e romeiros, rumo ao Santuário que é a Gruta de Belém.
Dele participam, na esperança dos séculos, muitos profetas e justos que desejaram ver o que vemos, e não viram; desejaram ouvir o que ouvimos, e não ouviram. Por isso reconhecemos como dirigidas também a nós as palavras de Jesus: “Felizes são vossos olhos, porque veem, e vossos ouvidos, porque ouvem!” (Cf. Mt 13,16-17). Se os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos (Cf. Mt 20,16), até agora somos os últimos, e tudo nos pertence, de Belém até aqui, com todas as experiências de lutas, vida e santidade de todos os homens e mulheres que conheceram Jesus, seguindo o rastro das expectativas messiânicas, sempre atuais, porque ele veio e inaugurou os novos tempos!
Na Belém, Casa do Pão, que se estende por toda a terra, desejamos recolher as atitudes de fé e os sentimentos suscitados pela grande e perene novidade, até porque seríamos os seres humanos mais dignos de dó se passássemos o Natal sem o encontro com o festejado! É claro que lá dentro de cada coração humano existe a sede de Deus, pois nossas almas são como terra seca e árida. Muitas vezes falta dar nome a esta sede! É ela que nos faz sadiamente insatisfeitos, desejosos de infinito! Vamos juntos ao encontro das grandes perguntas humanas, inclusive as mais pungente e atuais, certamente provocantes! Onde está Deus? Tem sentido viver? Qual é a explicação das dores pessoais ou sociais existentes no mundo? O que fazer para superar as guerras em todas as suas dimensões, aquelas que começam em nossas casas, para chegar a todas as outras existentes pela terra afora? Pois bem, há que trabalhar o nosso encontro pessoal com o Senhor. A resposta a estas e outras grandes perguntas pode estar no mais profundo de seu coração. Se cada um de nós for capaz de se inclinar diante do Mistério do Verbo de Deus Encarnado, ajoelhando-nos em adoração e descobrir nela o sentido da vida, mesmo as pessoas que estiverem mais distantes verão o Natal acontecer, e nossas vida provocarão outras perguntas, como, por exemplo, as razões de nossa prontidão para servir, nossa partilha dos bens, o sorriso constante.
Acolho como proposta desafiadora e natalina palavras de São Pedro: “Quem é que vos fará mal, se vos esforçais por fazer o bem? Mais que isso, se tiverdes que sofrer por causa da justiça, felizes de vós! Não tenhais medo de suas intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência. Então, se em alguma coisa fordes difamados, ficarão com vergonha aqueles que ultrajam o vosso bom procedimento em Cristo. Pois será melhor sofrer praticando o bem, se tal for a vontade de Deus, do que praticando o mal” (1 Pd 3,13-17).
“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17). O Verbo se fez carne e habitou entre nós! Nestes dias que antecedem o Natal, é hora de valorizar tudo o que Deus criou. Um olhar de sadio e inteligente otimismo, com o qual desejamos fazer este mundo mais saudável, no cuidado com a natureza e o ambiente, gostar mais de nossas casas e cidades, enfeitar com gosto os nossos lares, preparar com esmero a refeição, ceia, almoço ou jantar do dia da Festa, fazer o exercício do sorriso alegre, ser presença em nossas famílias e ambientes de convivência.
O Verbo se fez Carne e habitou entre nós! Natal é tempo para não desprezar a humanidade que vive ao nosso lado. Ninguém desperdice ou julgue superficiais os sentimentos de partilha que assistimos durante este período. No fim de tudo, quando Deus for tudo em todos, teremos a alegria de testemunhar muitas pessoas que dele se aproximaram pela estrada da generosidade, mesmo que passageira, pois tudo o que for feito ao menor dos irmãos, a ele está sendo feito! Mesmo sem saber!
Todas estas realidades são proclamadas e celebradas na Sagrada Liturgia. Não nos dispensemos da participação na Santa Missa de Natal, seja na noite de Vigília, seja no próprio dia vinte e cinco de dezembro. A Igreja é a Casa do Pão – Belém por excelência. Se um de nós estiver ausente, o lugar ficará vazio. Não há substituições na Liturgia de Natal! E, se porventura nossa reflexão tiver chegado a alguém que se encontra afastado, por algum motivo, da vida de Igreja, encontre aqui o convite para entrar em Belém pela porta da humildade, como simbolicamente se faz em Belém de Judá! Aqui, ela é a porta do Sacramento da Reconciliação, a porta da Misericórdia. Seja bem-vindo, irmão ou irmã!
Neste Natal, abrimos nossos corações ao milagre de Belém. Sob o olhar amoroso da Virgem Maria, somos recebidos com ternura e graça. Ao lado de São José, guardião fiel, sentimo-nos acolhidos na Sagrada Família. O Menino Jesus, com seu olhar puro, renova em nós a inocência e a alegria. Que este Natal seja um convite para redescobrir a verdadeira felicidade que se manifesta no nascimento do Salvador, o Verbo que se tornou carne e vive entre nós. Estes votos de Natal cheguem, da parte do Arcebispo e dos Bispos Auxiliares, a todos os irmãos e irmãs que desejam celebrar a Solenidade.
Fonte: CNBB