Por Frei Clarêncio Neotti
Houve cientistas que saíram à procura da estrela que orientou os magos. Fizeram cálculos para mostrar o aparecimento no céu, de determinado cometa nessa época. Não há necessidade. Assim como os magos simbolizam a humanidade toda, a estrela simboliza o firmamento que desce das alturas para reverenciar seu Criador, agora na gruta de Belém. Trata-se de linguagem poética, facilmente compreensível. Afinal, Jesus não veio apenas salvar o homem, mas redimir a natureza inteira, incluídos os animais e os astros. Além do mais, esse texto foi escrito por Mateus, que procura mostrar a realização das profecias. E há uma no livro dos Números (24,17) que diz assim: “Eis que vejo, mas não agora, percebo-o, mas não de perto: de Jacó desponta uma estrela, de Israel se ergue um cetro”.
A ideia de os animais (representados pelo boi [vaca] e pelo burro), os astros (a estrela caminhante), as pedras (a gruta), as plantas (o feno) e, sobretudo, os homens de todas as raças e de todas as classes sociais (os pastores são os pobres e marginalizados; os reis magos, a classe alta) se achegarem ao Menino para adorá-Lo é um quadro lindo e necessário: o universo, criado por amor; inclina-se humilde e reverente diante do Criador que, por amor, fez-se criatura semelhante a todas as criaturas, sem deixar sua condição divina. Santo Agostinho viu nos pastores os homens de perto e nos magos viu os homens de longe: o perto e o longe se encontram hoje aos pés de Jesus, porque, a partir de agora, não existem distâncias possíveis para separar Deus e a humanidade, o Criador e as criaturas. E muito menos razão de separação entre os homens. “Todos são membros de um mesmo corpo, coparticipantes em Cristo Jesus” (Ef 3,6), como lemos na segunda leitura. É o mesmo São Paulo a nos lembrar (Ef l,lO) que esse Menino, deitado na manjedoura, “é a cabeça de todas as criaturas, tanto as que estão no céu quanto as que estão na terra”, por isso descem as estrelas, movimentam-se as criaturas racionais e irracionais e se encontram na gruta de Belém, para reconhecer o Senhor. A primeira leitura (Is 60,1-6) parece até a crônica desse encontro, em que as trevas e a luz se abraçam para desenhar a aurora da missão salvadora de Jesus e tudo e todos “proclamam as obras do Senhor”.
Fonte: Franciscanos
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.