O tempo Pascal e o tempo pandêmico

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

 

Nós celebramos o tempo pascal como tempo de graça e de louvor à Deus e à humanidade a respeito da verdade de fé que é: Cristo ressuscitou dos mortos. Cristo não está mais no sepulcro, mas Ele está vivo no meio de nós e caminha com os seus discípulos e discípulas. Neste tempo favorável de alegria e de amor, também nós estamos enfrentando um tempo pandêmico, de propagação do Covid 19, que está assolando milhões de pessoas no Brasil e no mundo. São preocupantes as novas variantes do Covid 19 por serem mais contagiosas que a original. Nós somos chamados a viver a alegria da ressurreição de Cristo e, ao mesmo tempo, a dor e o sofrimento de pessoas nas quais está presente o Cristo Ressuscitado.

O significado da Páscoa

Páscoa é passagem da morte para a vida, do egoísmo para o amor, do pecado para a graça. Se para o povo de Israel, a Páscoa era a passagem da escravidão para a liberdade, para o povo cristão, o seguidor do Senhor, a Páscoa é a ressurreição de Cristo, a sua passagem da morte para a vida. É a festa das festas, na expressão de São Gregório de Nazianzo, bispo do século IV. Esta é a mais importante do ano litúrgico, aquela que dá sentido pleno, porque celebramos a ressurreição de Jesus. É uma festa de luz; o Senhor ressuscitado nos ilumina, coloca em nossos corações uma imensa alegria, uma imensa esperança, e os enche também de amor para ser vivido no meio da humanidade.

Páscoa, nova criação

A Páscoa do Senhor liga-se à nova criação, porque Cristo Jesus trouxe vida nova para todos, é o novo êxodo, porque ele venceu a morte, o pecado e nos deu vida. “Nós comemos e bebemos com ele após a sua ressurreição dentre os mortos” (cfr. At 10,41) disse o Apóstolo Pedro ao povo judeu na Palestina. O fato é que em Jesus, tudo se torna anúncio de salvação. Deus Pai ressuscitou Jesus dos mortos, de modo que Ele não se encontra mais no sepulcro. Pela ressurreição, o Senhor tornou-se Juiz dos vivos e dos mortos (cfr. At 10, 42).

A ressurreição de Jesus é a vida nova que vem pela morte. A morte não possui mais sentido nele. Ele é o eterno vivente. A ressurreição mostra a unicidade da pessoa de Cristo; o mesmo que morreu sobre a cruz, é o ressuscitado. Com a ressurreição, Cristo não está mais sujeito à morte e à corrupção do corpo. Ele agora vive para sempre, como Ele o era antes da encarnação.

Tempo de pandemia

O tempo pascal está sendo celebrado em meio há outro tempo, o de pandemia, o qual deve ser visto com profunda reflexão, porque leva as pessoas aos sofrimentos corporais e, sobretudo, é letal. O cristão é uma pessoa que acredita na vida em Jesus Cristo e, por isso, não carrega um discurso negacionista, mas segue a verdade das coisas e dá o testemunho em favor da vida, assim como as mulheres deram testemunho do Cristo Ressuscitado dentre os mortos. Nós somos pessoas que valorizamos a ciência, a qual está proporcionando as vacinas para as pessoas viverem melhor o cotidiano de suas existências.

O significado de pandemia refere-se a uma doença infecciosa que se espalha em determinado povo e também no planeta. É a difusão de um vírus capaz de levar à morte, caso não tenha algum medicamento que o confronte, difundindo-se em muitos lugares, invadindo rapidamente vastíssimos territórios e continentes. As pandemias foram diversas ao longo da história da humanidade. Inclusive, nós temos notícias de uma epidemia no norte africano, nos meados do século III da era cristã, onde milhares de pessoas morreram por causa de uma gripe, na qual São Cipriano, bispo de Cartago, do século III, nos trouxe.

O mundo está enfrentando a Pandemia da Covid-19. Tudo indica que surgiu no continente asiático, no final de 2019, e espalhou-se rapidamente pelo mundo afora, chegando ao Brasil, trazendo um rastro de milhões de infectados e milhões de mortes. A sua origem é ainda misteriosa, mas os especialistas falam que veio de morcegos, tendo também alguns animais intermediários e penetrou nos seres humanos. É um vírus que ataca o sistema pulmonar, afetando a respiração, podendo levar à morte.

A pandemia no Brasil

O mês de março de 2021 registrou um número muito alto de infectados e de mortes no Brasil. É claro que também houve um número muito importante de recuperados. Diversos estados estão com a taxa de ocupação de UTI em oitenta e noventa por cento. Muitas pessoas estão na fila de espera para serem atendidas, porém não recebem o cuidado médico e vêm a falecer.

A difusão do vírus

O vírus se difunde através das gotículas contaminadas, por isso, a aglomeração de pessoas aumenta a sua transmissibilidade. O vírus se aloja no pulmão, onde compromete a respiração e, se o doente não recebe o tratamento adequado, pode vir a falecer. Segundo o STF, os estados e municípios têm o poder de decretar medidas para conter as aglomerações. Isso nem sempre é bem aceito por algumas pessoas, empresas, entidades sociais, mas é o sacrifício de todos neste momento difícil.

No Brasil, estão morrendo milhares de pessoas todos os dias, de modo que é preciso reduzir este número de mortes e, sobretudo, aumentar o número de UTI´s para que assim, as pessoas tenham um atendimento hospitalar digno neste momento de dor e de sofrimento. O Brasil é um dos focos desta doença e está perdendo milhares de brasileiros e de brasileiras. Sem dúvida, essa situação se explica pela circulação maior de pessoas, possibilitando o crescimento do vírus ativo, com a contaminação em massa, refletindo-se no número de hospitalizações e num sistema hospitalar já bastante esgotado. A taxa de letalidade tem subido muito nas UTI´s.

Os hospitais de campanha contribuem para o atendimento dos doentes. Nós estamos pedindo o retorno do Hospital de Campanha para Marabá e a região face ao crescimento exponencial de infecções e o colapso hospitalar em muitos lugares. O avanço da cepa P.1, originada em Manaus, e os conflitos políticos entre os governos federal, estadual e municipal quanto ao fechamento ou abertura do comércio, são fatores que favorecem o aumento do número de casos nestas últimas semanas. Nós estamos unidos aos profissionais de saúde, muitas vezes esgotados, rogando ao Senhor que os ilumine para salvarem vidas, através dos meios medicinais disponíveis.

A missão da Igreja

A Igreja, como seguidora do Senhor Jesus Cristo, morto e ressuscitado, segue também as regras da vigilância sanitária. Se o estado ou o município decretam medidas para evitar as aglomerações, a Igreja faz a sua parte para que se preservem vidas. Nós insistimos pelo uso de máscaras, álcool gel, a comunhão seja dada somente na mão. O momento é de isolamento social porque somos seguidores de Cristo, caminho, verdade e vida.

A missão da ciência

Graças ao trabalho de cientistas, diversas vacinas estão sendo produzidas para a imunização do rebanho. Nós vemos alegria contagiante em muitas pessoas pelo fato de que receberam uma dose da vacina. As vacinas reduzem os efeitos deletérios do vírus na saúde humana, o que certamente permitirá que as pessoas, em um futuro próximo, possam voltar a circular mais livremente. A cada semana, é noticiada a chegada de insumos e a confecção de milhões de vacinas para o povo. O número de vacinados está aumentando sempre mais no Brasil. Tudo isto é feito pela rede pública, pelo sistema único de saúde, o SUS.

Tempo pascal e tempo de pandemia

Na sexta-feira santa, fizemos uma oração pelos que sofrem com a pandemia e também por aqueles e aquelas que se dedicam à pesquisa de medicamentos e vacinas eficazes. Nós vivenciamos a alegria da ressurreição de Jesus Cristo em nossas vidas e no mundo inteiro. É tempo de paz e de amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Mas, a realidade coloca-nos a pandemia, em que muitas pessoas são atingidas e, por vezes, morrem. Sentimos a alegria do Senhor que está ao nosso lado e, também, a angústia pelos irmãos e irmãs que partem deste mundo, rumo à casa do Pai. Deus Uno e Trino nos fortaleça na caminhada! A ressurreição de Jesus ocorre, nestes tempos, em meio às dores e sofrimentos, na esperança que vem do Ressuscitado, em vista de uma vida nova.

Fonte: CNBB

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