Silêncio! Como a sociedade atual necessita de silêncio! Somos todos bombardeados por estímulos de todo gênero, que nos atingem os ouvidos, a vista, o olfato, o paladar, o tato, enfim, todos os nossos sentidos. Esses ruídos penetram o nosso ser, o enchem à saturação, não deixando muitas vezes, espaço para as coisas boas da vida, para Deus nem para nós mesmos. Caímos na superficialidade, na exterioridade, na solidão. Eis o som do rádio, da televisão, do telefone, da internet; o ruído dos carros, das buzinas, dos tiros, dos foguetes. São as imagens de todo tipo com suas mensagens. As ofertas ao paladar, os perfumes de todo tipo, os objetos de prazer imediato. Não nos é dado tempo para escolher o que nos convém, para assimilar as coisas. Tornamo-nos todos saturados. O homem moderno tem medo do silêncio, foge dele, porque foge de si mesmo. Sente dificuldade de confrontar-se consigo mesmo, com a natureza, com o próximo e com Deus.
Daí a necessidade do jejum, ou seja, de abster-se de tantos estímulos que nos atingem a cada hora do dia e mesmo da noite. As pessoas têm necessidade de jejuar do som, das imagens, dos aromas, do paladar, do tato. O silêncio constitui uma forma de jejum. Trata-se de criar espaço em nós mesmos para acolher o que convém. Fazer silêncio é entrar em nós mesmos, fazer espaço para o bem, para o amor ao próximo e o amor a Deus.
Tal silêncio que nos leva a acolher o mistério, a fazê-lo nidificar em nós e repercuti-lo na ressonância do nosso ser interior, o silêncio que nos leva a jejuar das palavras vãs para acolher a Palavra e deixá-la tomar forma em nós, a exemplo de Maria, a serva da Palavra, é indispensável também na celebração da Sagrada Liturgia. Acontece que muitas de nossas assembleias estão se transformando em verdadeiras plateias de show, de espetáculo.
Nossas celebrações são por demais barulhentas, cheias de ruídos tanto acústicos como visuais. Há muito palavrório, muita conversa, muita distração, que acabam abafando a oração. Infelizmente, após o Concílio, não se entendeu corretamente o sentido da participação ativa na Liturgia. O Concílio pede uma participação eficaz ou frutuosa. Para que seja frutuosa é preciso que seja consciente, ativa e plena. Mas se pensou quase só na participação ativa e ainda mal entendida. Identificou-se o ativo com o verbal, com palavras. Por isso, o acento nos diálogos, nas aclamações e nos cantos. Ora, a participação ativa não se restringe às palavras. Participamos ouvindo, vendo, cheirando, degustando; participamos pelo tato, pela ação, pelos movimentos, bem como pelo silêncio.
Por isso, quando fala da participação ativa na Liturgia, o Concílio diz: “Para promover a participação ativa, trate-se de incentivar as aclamações do povo, as respostas, as salmodias, as antífonas e os cantos, bem como as ações e os gestos e o porte do corpo. A seu tempo, seja também guardado o sagrado silêncio” (SC 30). Não se trata de um silêncio morto, mas cheio. Trata-se de um silêncio sagrado, porque capaz de relacionar a pessoa com Deus.
Apresentam-se, portanto, vários modos de participar ativamente da Sagrada Liturgia: as aclamações do povo, as respostas, a salmodia, as antífonas e os cantos. Estes vão todos na linha do uso da palavra. Mas, temos as ações e os gestos e o porte do corpo que em geral são realizados ou acompanhados em silêncio. Finalmente, temos o próprio silêncio como momentos significativos e expressões de participação ativa. Temos, portanto, o silêncio que acompanha ações, gestos e posturas do corpo, o silêncio na escuta da palavra, como a Palavra de Deus e orações presidenciais e momentos de silêncio propriamente ditos.
Fonte: Franciscanos – Especial Gotas de Liturgia / Por Frei Alberto Beckhäuser