O setembro da Bíblia e o tomar a cruz!

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Por Frei Jacir de Freitas Faria [1]

 

Setembro, quando a primavera inicia; quando é celebrado, no dia 30, a memória de São Jerônimo (morto em 420), o grande tradutor da Bíblia do hebraico/grego para o latim, a Igreja Católica, no Brasil, desde 1971, tem celebrado setembro como mês da Bíblia. Tudo começou em Belo Horizonte (MG). A cada ano é escolhido um livro. Para 2023, teremos a Carta aos Efésios, texto de fundamental importância para compreender as relações humanas a partir da fé.

Falar da Bíblia é o mesmo que tratar de uma biblioteca composta de 73 livros – 39 para os judeus, 66 para os evangélicos e 73 para os católicos –, os quais fazem parte de uma literatura que levou séculos para ser escrita. O grande mestre da leitura popular da Bíblia no Brasil, Frei Carlos Mesters, escreveu que a Bíblia nasceu da vontade de o povo ser fiel a Deus e a si mesmo. Nasceu da preocupação de transmitir aos outros e a nós essa fidelidade. A Bíblia nasceu sem rótulo. Só mais tarde, o próprio povo descobriu nela a expressão da vontade e da presença real de uma Palavra Santa, a Palavra de Deus na palavra do ser humano.[2] E se esse fato, o de palavra inspirada, é posterior ao momento da escrita em um livro, imagine o quanto é recente a aceitação da Bíblia como literatura! E tem também a Bíblia Apócrifa, outros 180 livros que ficaram fora da lista dos livros inspirado (canônicos).

Grandes temas perfazem os livros bíblicos. No Primeiro Testamento temos narrativas que fundamentam as seguintes intuições de fé :

  1. Origem do mundo e Israel: Deus de Israel é o mesmo que criou o mundo (Gn).
  2. Israel é o povo eleito: Deus fez uma aliança com Israel, expressa nos patriarcas, garantida pelos reis, defendida pelos profetas, testemunhada pelos heróis, rezada nos Salmos (Dt, Lv, Nm, Js, Jz, 1e2Rs, 1e2Sm, Rt, Es, Tb, Profetas, Sl)
  3. Teologia do êxodo: Deus sempre desceu para libertar e caminhar com o seu povo. Ele exige fidelidade e compromisso eterno com a libertação (Ex,Dt).
  4. Teologia messiânica: Deus enviará o seu messias para libertar Israel (Profetas).
  5. Teologia da retribuição: o justo receberá de Deus a retribuição. (Pr,Eclo,Ecl,Jó,Sab)

Já o Segundo Testamento procura elucidar e fundamentar a fé em Jesus Cristo, a partir dos  seguintes temas:

  1. Morte e ressurreição: aniquilamento de Jesus, o Deus que se fez humano e morreu na cruz (Todos).
  2. Reino de Deus (céus): é dos pobres, exige conversão, é serviço, nasce pequeno etc. (Mc, Mt e Lc).
  3. Vida: Jesus é o caminho e a vida que se manifesta em sinais e nas festas (João).
  4. Liberdade: a salvação não vem pela Lei, mas pela fé em Jesus, que comunica o Espírito da vida e da liberdade. Lei de Cristo é lei do amor (Cartas paulinas).
  5. Trindade: batismo, transfiguração, que me viu, viu o Pai, Pentecostes (Evangelhos e Atos)

Ainda que não apareça de forma explicita, a cruz aparece nos evangelhos sinóticos com um uma frase emblemática: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” (Mc 8,34—9,1; Mt 16,21-27; Lc 9,23-27). Trata-se de condições ditas por Jesus para quem quisesse segui-lo. Muito já foi dito sobre o significado da cruz e do seguimento.

A cruz, por causa de suas hastes vertical e horizontal, céu e terra, muito antes do cristianismo, já fazia parte do imaginário de povos. Os primeiros cristãos não a tinham como símbolo do cristianismo, mas o peixe, que era utilizado nas celebrações eucarísticas. Foi somente a partir do século segundo que a cruz foi identificada com os cristãos, os quais passaram a ser chamados de “os devotos da Cruz”. Com isso, a cruz passou a simbolizar a fé na morte e na ressurreição de Jesus, o perdão dos pecados, a salvação, o sofrimento de Jesus e do ser humano na labuta da vida.

Infelizmente, na Idade Média, a cruz passou a ser sinal de conformismo com o sofrimento e aceitação das injustiças sociais. Para compreender melhor o sentido da cruz na história do cristianismo e sua relação os sofrimentos da vida, assista ao vídeo proposto. Apresento uma reflexão sobre a cruz como metáfora da vitória.

Fonte: Franciscanos


[1]Doutor em Teologia Bíblica pela Faje (BH). Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica. É membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de dez livros e coautor de quinze. Youtube: Frei Jacir Bíblia e Apocrifos. https://www.youtube.com/channel/UCwbSE97jnR6jQwHRigX1KlQ

[2] MESTERS, Carlos. Bíblia, livro feito em mutirão. São Paulo: Paulinas, 1986, p.8.

 

 

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