O senso moral, na pós-verdade

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Por Dom Edson José Oriolo dos Santos
Bispo Diocesano de Leopoldina – MG

 

Os tempos atuais provocam o raciocínio naquilo que tangencia as questões morais em situações tidas em um tempo histórico da ‘pós-verdade’. Neste sentido, é fundamental que se parta de tais conceitos para que eles se tornem fundamentos do raciocínio a ser desenvolvido. Sendo assim, pode-se pensar que a pós-verdade é uma espécie de falência da racionalidade e da ética ocidentais. Caracteriza-se pela relativização da realidade das coisas em benefício de convicções formadas em um cenário eminentemente afetivo e ideológico, ainda que sem nexo com a razão. Há a exaltação do subjetivo e o critério passa a ser o sujeito. Neste sentido, as coisas são de determinado modo porque o indivíduo quer que elas sejam assim ou porque elas, sendo assim, favorecerão tal discurso, o restante não interessa.

Em tempo de crise sanitária Covid-19, tenho refletido e escrito sobre os inúmeros desafios causados pelas redes sociais na vida e no processo de proclamar as belezas do Bom Deus, na Igreja. As redes sociais estão inaugurando um mundo totalmente novo e, com efeito, traçando rumos sem volta. Hoje, a tecnologia digital é a língua materna da maioria das pessoas. Estamos nos tornando “nativos digitais”. A grande maioria das pessoas é capaz, em poucos minutos, de entrar nesse universo digital. Ele é rápido, fascinante, multifuncional e nos conquista com muita facilidade.

Observemos as inúmeras expressões: on-line, off-line, fomo (fear of missing out- medo de ficar de fora), jomo ( joy of missing out – alegria de estar de fora), wi-fi, instragram, facebooh, fake News, bad News, good news, pós-verdade, deepfake que estão transformando fundamentalmente a nossa maneira de viver, relacionar, agir, manifestar opiniões e sentimentos. São expressões imbuídas de um campo semântico que significam a atualidade, bem como o comportamento moral de seus envolvidos.

Essas descobertas do mundo digital vêm afetando o nosso desenvolvimento somático (obesidade e maturação cardiovascular), cognitivo (linguagem, concentração), intelectual (muita distração e pouco conhecimento), emocional (agressividade, ansiedade, esconder atrás das telas, medo) e principalmente o “senso moral” em relação aos verdadeiros e autênticos valores como: honestidade, transparência, sinceridade, justiça, respeito, educação, solidariedade, humanização. Ou seja, frutos do Evangelho.

Destarte, não obstante a evolução tecnológica, alguns desafios continuam nos desvirtuando de valores morais por causa da suposta superioridade tecnológica das novas gerações. As telas e os écrans virtuais estão nos influenciando e quebrando paradigmas em nossos expedientes racionais que foram construídos, tendo por base o afeto. Em relação à moralidade, estamos entrando em um “efeito manada” sem qualquer juízo a priori.

A pós-verdade favorece a produção de uma lógica muito arraigada de “desinformação”. Se o conteúdo simplesmente compactua com as paixões individuais, gerando despreocupação em relação à veracidade e há a divulgação o mais rápido possível, a pessoa se converte em instrumento poderoso na mão de manipuladores, que visam a destruição ou, ao menos, a polarização e a desconfiança mútua, mesmo no interior da Igreja. Jesus nos ensinou como devemos reagir diante dessas situações: “Entre vós não deve ser assim” (Mt 20,17).

Nesse tempo com tanta ciência (estrutura do saber) e técnica (fazer virtual), além de sermos adolescentes nesse novo mundo estamos cometendo muitos equívocos em relação à moralidade dos fatos e acontecimentos. Mesmo sendo “nativos digitais”, devemos resgatar o senso da moralidade ou “senso moral”, isto é, ajudar os outros, ter empatia, não cometer atos ilícitos, ser honesto, ser transparente no agir, nas ações e no falar, zelar pela boa fama a que toda pessoa tem direito.

O “senso moral” é quando uma pessoa tende a agir por conta de seus sentimentos para com o próximo, pelos seus valores e pelo senso de igualdade entre si mesmo e o próximo. A pessoa age imediatamente em favor do próximo para se sentir bem em relação aos valores. Mas, com os desafios do dinheiro, da sexualidade e do espirito santimonial, as pessoas estão agindo de maneira impensada ou erradamente, desencadeando sérios problemas alimentados pela telas e os écrans virtuais.

No entanto, esses desafios interligam entre si e causam sérios problemas na sociedade e, principalmente, nos ministros ordenados, que têm a missão de anunciar a beleza do Bom Deus ontem, hoje e sempre. Urge, a partir daí uma nova concepção antropológica, a necessidade de uma nova gestação da sensibilidade humana. O revisar do senso moral passa precisamente pelos critérios evangélicos e inaugura sempre novos comportamentos.

Fonte: CNBB Leste 2

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