Por Pe. Johan Konings
O início do livro dos Atos narra que, depois das últimas instruções aos discípulos, Jesus foi, diante dos olhos deles, elevado ao céu, para partilhar a glória de Deus (1ª leitura). Os donos deste mundo haviam jogado Jesus lá embaixo (se não fosse José de Arimateia a sepultá-lo, seu corpo teria terminado na vala comum ….).
Mas Deus o colocou lá em cima, “à sua direita”. Deu-lhe o “poder” sobre o universo não só como “Filho do Homem” no fim dos tempos (cf. Mc 14,62), mas, desde já, através da missão universal daqueles que na fé a aderem a ele. Nós participamos desse poder, pois Cristo não é completo sem o seu “corpo”, que é a Igreja (2ª leitura). Com a Ascensão de Jesus começa o tempo para anunciá-lo como Senhor de todos os povos. Mas não um senhor ditador!
Seu “poder” não é o dos que se apresentam como donos do mundo. Jesus é o Senhor que se tornou servo e deseja que todos, como discípulos, o imitem nisso. Mandou que os apóstolos fizessem de todos os povos discípulos seus (evangelho). Nessa missão, ele está sempre conosco, até o fim dos tempos.
O testemunho cristão, que Jesus nos encomenda, não é triunfalista. É o fruto da serena convicção de que, apesar de sua rejeição e morte infame, “Jesus estava certo”. Essa convicção se reflete em nossas atitudes e ações, especialmente na caridade. Assim, na serenidade de nossa fé e na radicalidade de nossa caridade damos um testemunho implícito. Mas é indispensável o testemunho explícito, para orientar o mundo àquele que é a fonte de nossa prática, o “Senhor” Jesus.
A ideia do testemunho levou a Igreja a fazer da festa da Ascensão o dia dos meios de comunicação social – a mídia: imprensa, rádio, televisão, internet. Para uma espiritualidade “ativa”, a comunidade eclesial deve se tornar presente na mídia – uma tarefa que concerne eminentemente aos leigos. Como é possível que num país tão “católico” como o nosso haja tão pouco espírito cristão na mídia, e tanto sensacionalismo, consumismo e até militância maliciosa em favor da opressão e da injustiça?
Ao mesmo tempo, para a espiritualidade mais “contemplativa”, o dia de hoje enseja um aprofundamento da consciência do “senhorio” de Cristo. Deus elevou Jesus acima de todas as criaturas, mostrando que ele venceu o mal por sua morte por amor, e dando-lhe o poder universal sobre a humanidade e a história. Por isso, a Igreja recebe a missão de fazer de todas as pessoas discípulos de Jesus.
Fonte: Franciscanos
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.